Grandes chefs alertam para tempos difíceis nos restaurantes: "Muitos não vão conseguir chegar ao fim" - TVI

Grandes chefs alertam para tempos difíceis nos restaurantes: "Muitos não vão conseguir chegar ao fim"

Ljubomir, Rui Paula e Alexandre Silva são alguns dos cozinheiros que lançaram um apelo à união no sector da restauração

Vários chefs portugueses uniram-se nas redes sociais para pedir que o Governo tome medidas claras e objetivas no que respeita à restauração, para ajudar a ultrapassar a crise gerada pela pandemia de Covid-19.

Ljubomir Stanisic é um dos cozinheiros que pede um esclarecimento sobre as consequências para o negócio da restauração. Numa publicação no Instagram, o responsável por espaços como o 100 Maneiras e o 100 Maneiras Bistro afirma que “todos temos o potencial de vir a sofrer ou conhecer quem venha a sofrer desta doença. E não há como negar que o mundo em que vivemos hoje é diferente daquele que conhecíamos antes de sabermos de cor o nome Covid-19”, diz Ljubomir.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Caros clientes e amigos, vivemos tempos de incerteza. E foi essa mesma incerteza que levou a que não nos pronunciássemos antes. Durante vários dias, como toda a gente, recebemos mensagens contraditórias, muitas delas nascidas também da falta de conhecimento que ainda rodeia este novo vírus, e achámos que seria prematuro - se não mesmo, perigoso - emitir um comunicado sem antes percebermos o que vivemos. Embora as dúvidas permaneçam, aquilo que sabemos, de facto, é que esta é uma situação que nos afecta a todos. Todos somos pais, filhos, irmãos. Todos temos o potencial de vir a sofrer ou conhecer quem venha a sofrer desta doença. E não há como negar que o mundo em que vivemos hoje é diferente daquele que conhecíamos antes de sabermos de cor o nome Covid-19. Com a declaração de pandemia da OMS, sentimos que não podemos adiar mais uma tomada de posição. Trata-se de um esclarecimento especialmente importante num negócio como o nosso, onde diariamente recebemos pessoas com o objectivo de lhes proporcionar grandes experiências e onde o medo não pode ter lugar. Um negócio que tem assistido a quebras brutais, não só em Portugal (onde a Associação da Hotelaria de Portugal prevê perdas de receitas turísticas entre os 500 e 800 milhões de euros, entre 1 de março e 30 de junho de 2020) como no mundo, e cujas consequências a médio prazo ainda estão por conhecer. A higiene e segurança alimentar foram sempre e continuam a ser uma prioridade nos nossos espaços. Lidar com alimentos, havendo um alerta de saúde ou não, é um trabalho particularmente sensível, para o qual todos os nossos colaboradores são formados. Da cozinha ao serviço, passando pela administração e backoffice, consideramos fundamental que toda a nossa equipa tenha bem presente as regras de higiene e segurança. Dito isto, tendo em conta o período particularmente difícil que atravessamos agora, e seguindo as directrizes da DGS, ampliámos as nossas medidas [continua nos comentários]

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O chef adianta que foram ampliadas as medidas de precaução nos seus restaurantes em assuntos relacionados com “os protocolos de higienização”, tal como o recurso “ aos stocks existentes para diminuir a frequência de encomendas e assim reduzir a entrada de novos produtos, aumentando a disponibilidade de produtos de desinfecção e vigiando atentamente o estado de saúde de todos os nossos colaboradores”.

Também o Chef Rui Paula afirma que nunca pensou que esta pandemia viesse afetar os negócios de uma maneira tão rápida e incisiva.

No facebook, o galardoado com duas estrelas Michelin, afirma que “os cancelamentos não param de chegar”, traduzindo-se em quebras de faturação “de 60%”.

Escrevo este texto nesta altura, porque estou à espera que o nosso governo tome medidas claras e objetivas no que respeita à restauração, para ajudar a ultrapassar esta crise. Se não forem tomadas medidas drásticas e de rápida implementação, metade dos estabelecimentos hoteleiros/restauração de Portugal fechará as suas portas. As empresas necessitam de estar minimamente saudáveis aquando da implementação dessas medidas e não já na fase de prejuízo, se não a recuperação após covid-19 será de extrema dificuldade”, afirma o cozinheiro nortenho, sublinhando que em todos os seus restaurantes foram reforçadas as regras de HACCP - a análise de perigos e pontos críticos de controle e cuidados no contacto com os clientes.

Os efeitos do novo coronavírus atingiram o restaurante SÁLA, que, “dadas as circunstâncias e interesses de saúde pública e com crescente preocupação pelos seus clientes, colaboradores e familiares”, decidiu encerrar a partir desta sexta-feira e temporariamente, como medida preventiva face ao surto e crescente ameaça da pandemia COVID-19.

O chef Alexandre Silva admite também que o ambiente vivido nos seus restaurantes é de desespero. 

A todas as horas recebemos cancelamentos de reservas que tínhamos, como eu existem outros restauradores que estão a passar pelo mesmo problema. Falo com desespero, porque vamos atravessar o maior deserto de sempre e muitos não vão conseguir chegar ao fim”, diz Alexandre Silva.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O Mundo e Portugal já passaram por várias crises no setor de hotelaria, eu próprio apesar da idade vi algumas crises acontecerem, passei por elas, senti-as. Sempre lutei para ser o melhor profissional possível, sempre lutei pelas pessoas que trabalham comigo, mas neste momento, sinto-me impotente... Tudo o que ajudei a contruir foi com trabalho árduo, com equipas fortes e bem formadas e muita responsabilidade. Se me dissessem que um vírus se iria tornar em pandemia e que a economia iria colapsar, com quase toda a certeza me iria rir, a verdade é que isso está a acontecer em frente ás nossas portas e dentro das nossas casas. Enfrentamos hoje o que será uma das maiores crises se não a maior, na industria de restauração (e não só). Até indicações em contrário por parte das autoridades, todos os nossos espaços estarão a trabalhar a 200%, reforçámos ao sistema de HACCP, e a monotorização do estado de saúde de todos os nossos colaboradores, mas só isso não chega. Falo com desespero, porque vamos atravessar o maior deserto de sempre e muitos não vão conseguir chegar ao fim. Peço ás entidades competentes que coloquem em prática soluções para ajudar as empresas a ultrapassar tudo isto, porque sem trabalho as pessoas não vão poder ter qualidade de vida e dificilmente conseguiremos que o mundo volte a andar em tempo útil. A todas as horas recebemos cancelamentos de reservas que tínhamos, como eu existem outros restauradores que estão a passar pelo mesmo problema. As contas, essas terão sempre de ser pagas, Vencimentos, IVA, S.Social, IRC, Luz, Gás, Água, Rendas, Créditos, etc, etc... Apelo a todos os Cozinheiros e Empresários que unam as vozes e que lutem pelo bem estar da economia. Alexandre Silva Lisboa, 12 de Março de 2020 #covid_19

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Dessa forma, o chef pede às entidades competentes que coloquem em prática soluções para ajudar as empresas a ultrapassar esta situação.

Sem trabalho as pessoas não vão poder ter qualidade de vida e dificilmente conseguiremos que o mundo volte a andar em tempo útil. Apelo a todos os Cozinheiros e Empresários que unam as vozes e que lutem pelo bem estar da economia”.

Do restaurante Euskalduna, no Porto, Vasco Coelho Santos afirma que utilizou todos os contactos das reservas dos atuais ministros, tal como António Costa, para lançar o alerta da necessidade de “um grande remédio”.

Governo, instituições competentes, este é um apelo, um grito de ajuda. Uso esta arma da visibilidade, para pedir em meu nome, em nome da minha empresa, dos meus empregados, da minha família, mas também em nome de todos os chefes de cozinha e empresários de hotelaria que estão a sofrer como nunca antes sofreram. 
Estamos em agonia! Mesmo tendo instaurado (ainda mais) rigorosas medidas de higiene e segurança no trabalho, sucedem-se as demarcações, os cancelamentos.”, afirma o jovem chef no Instagram.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

“Meus caros usem todos meios para comunicar Falar é que pessoas nos ovem Usei todos contactos das reservas dos atuais ministros que frequentam restaurantes inclusive o António Costa e mandei este comunicado Para grandes males, grandes remédios. Dr. António Costa, dr. Fernando Medina, precisamos de um grande remédio, urgente! 
Governo, instituições competentes, este é um apelo, um grito de ajuda. Uso esta arma da visibilidade, para pedir em meu nome, em nome da minha empresa, dos meus empregados, da minha família, mas também em nome de todos os chefes de cozinha e empresários de hotelaria que estão a sofrer como nunca antes sofreram. 
Estamos em agonia! Mesmo tendo instaurado (ainda mais) rigorosas medidas de higiene e segurança no trabalho, sucedem-se as demarcações, os cancelamentos.
Todas as horas são críticas e, a cada hora que passa, se torna mais difícil gerir o desespero - das equipas, o nosso, do sector. 
Estamos impotentes. Não há nada mais que possamos fazer sozinhos. Precisamos da vossa ajuda, precisamos de uma atitude firme e peremptória, rápida, urgente! Não exijo, antes peço com toda a humildade, e em nome de todos, uma solução. Por favor, não deixem este país ir por água abaixo… “@ljubostanisic

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O alerta global gerado pela pandemia de Covid-19 levou também ao adiamento do jantar Matéria, no restaurante Feitoria, com data marcada para 28 de março.

Ainda assim, o restaurante afirma que vai continuar de portas abertas e que implementou e reforçou todas as normas instituídas pela Direção-Geral de Saúde. 

Oferecemos a máxima segurança e continuamos a garantir aos nossos clientes a qualidade gastronómica e serviço que nos distingue”, afirma o restaurante na sua página oficial do Instagram.

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