Ânimos exaltados na última tomada de posse nos Hangares da Ria Formosa - TVI

Ânimos exaltados na última tomada de posse nos Hangares da Ria Formosa

  • SS - atualizada às 13:23
  • 2 mar 2017, 09:06

Polis Ria Formosa concluiu com sucesso sinalização das últimas casas a demolir. Técnicos conseguiram colocar editais em 19 das 24 construções com demolição prevista, por haver cinco delas ainda sujeitas a providências cautelares

A Polis Litoral da Ria Formosa concluiu esta quinta-feira com sucesso a posse administrativa das últimas construções sinalizadas para demolição nas ilhas-barreira no concelho de Faro, localizadas no núcleo dos Hangares, apesar dos protestos dos moradores.

A operação começou com os cerca de 200 manifestantes presentes no núcleo dos Hangares a receberem o cordão policial de 40 elementos da Polícia Marítima, que protegeu durante duas horas os cinco técnicos da Sociedade Polis da Ria Formosa que colocaram os editais nas paredes das habitações referenciadas, conseguindo evitar confrontos físicos.

No final, os técnicos conseguiram colocar editais em 19 das 24 construções com demolição prevista, por haver cinco delas ainda sujeitas a providências cautelares, segundo os dados recolhidos pela Lusa junto de técnicos da Polis.

Inicialmente, a Sociedade Polis Litoral Ria Formosa tinha adiantado à Lusa que ia sinalizar 23 construções para a tomada de posse administrativa de hoje, mas a apresentação de seis providências cautelares só permitia a tomada de posse de 17.

Apesar de alguns empurrões entre elementos policiais e populares, a operação foi considerada um sucesso pelo responsável das Relações Públicas da operação policial, o comandante Pedro da Palma, que no final disse ter havido quatro pessoas assistidas, mas por problemas ligeiros.

“[Hoje] Havia mais emoção no ar, tivemos quatro pessoas que foram assistidas, por tensão alta, ansiedade, e notava-se que havia mais emoção”, reconheceu o comandante Pedro da Palma após a operação, comparativamente com as que foram realizadas na semana passada, no núcleo do Farol.

A mesma fonte frisou, no entanto, que “nunca chegou à violência física” e que se tratou de “uma operação muito específica, cujo principal objetivo foi sempre promover a segurança quer das pessoas quer dos funcionários da Polis”.

“E essas situações foram com pessoas que se punham em risco, em cima de muros e foi necessário tirá-las de lá, mas as pessoas foram sempre coerentes e acataram as orientações da Polícia Marítima”, afirmou o comandante, frisando que “as ordens foram acatadas e a Pólis fez o seu trabalho”.

Mas a demolição das habitações sinalizadas continua a merecer a contestação da população local e dos moradores das construções afetadas, que reconhecem não ser primeiras habitações mas lembram que as suas famílias estão presentes nesses locais há décadas.

“Eu tenho para onde ir, tenho casa em terra também, porque com moços pequeninos não podemos estar aqui morando o ano inteiro. Mas a maior parte do tempo estamos aqui”, afirmou uma moradora à Lusa, considerando que a casa hoje sinalizada “é tudo” para a família.

“Esta casa, a que chamam barraca e casa velha, para nós é tudo, é tudo o que temos, para além dos nossos filhos, isto é o nosso mundo. Estamos desejando ter umas férias e um fim de semana para vir, porque isto é a nossa vida, este é o nosso paraíso”, disse.

Vera Pereira é outra das moradoras que falou com a Lusa e disse ter um sentimento “de angústia, desespero”, por não conseguir “fazer mais nada”, mas disse manter a esperança, apesar de reconhecer que a sua “não é primeira habitação, mas é uma casa de família”, por onde “já passaram três gerações”.

Vanessa Morgado, da Associação de Moradores do Núcleo dos Hangares, na Ilha do Faro, concelho de Faro, lamentou ter assistido a “mais um dia de injustiça”, com “muita emoção” e “emoções recalcadas”, que levam as pessoas “a explodir” no momento em que os técnicos fazem a colocação dos editais.

José Lezinho, da Associação de Moradores dos Hangares (ilha da Culatra), explicou à Lusa que, apesar das reuniões de sensibilização que teve com os populares, a emoção acabou por falar mais alto na hora da intervenção da Polis.

“O nosso receio era que isto descambasse. A Polícia Marítima está a fazer o trabalho dela, mas não é fácil viver com esta situação porque o coração acaba por falar mais alto”, referiu.

Na semana passada, a Polis tomou posse de 29 construções no núcleo do Farol e não de 34, como previsto, por haver cinco com providências cautelares, mas os moradores queixaram-se de ter sido concretizada a posse de construções que estavam protegidas por aquele mecanismo legal.

José Pacheco estimou que as demolições avancem no terreno dentro de um mês, explicando que a obra ainda tem que ser consignada ao empreiteiro, que terá depois que realizar alguns procedimentos de natureza ambiental, nomeadamente a retirada de telhas de amianto de alguns edifícios, o que requer uma licença.

Ao todo, em ambos os núcleos, estão sinalizadas 60 construções consideradas ilegais para demolição, embora ainda haja providências cautelares sem decisão do tribunal e casos que estão a ser reavaliados pelo ministério.

Em abril do ano passado, de acordo com os planos da Polis, eram 200 as construções que deveriam ter esse destino, número que em outubro passou para 80 e que agora se cifra em 60, concluiu.

Depois do dia de hoje, o processo de tomadas de posse nas ilhas-barreira deverá ficar concluído, pelo menos para já, uma vez que a situação só será reavaliada dentro de três anos, em todos os núcleos da ria Formosa.

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos