Água no Tejo atinge o nível mais baixo das últimas décadas - TVI

Água no Tejo atinge o nível mais baixo das últimas décadas

  • MM
  • 27 out 2019, 16:26

As imagens são desoladoras: barcos abandonados, terra e pedra a descoberto.

Barcos parados ou abandonados, terra e pedras a descoberto. Aos olhos de quem passa hoje pelo território do Tejo Internacional não faltam imagens que ilustram a descida dos níveis de água, atualmente os mais baixos das últimas décadas.

Na região transfronteiriça, o assunto é tema de todos os dias. Junto à barragem de Cedillo, em Espanha, encontra-se desde um cais do barco turístico caído a uma embarcação parada no meio do rio.

Do lado de cá da fronteira, no distrito de Castelo Branco, o rio Pônsul é um dos afluentes do Tejo agora secos, onde os pilares de uma ponte registam as marcas do nível habitual da água. Mais de uma dezena de metros abaixo, sobram terras e muitas pedras, mas água… quase nem vê-la.

Para o presidente da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa (CIMBB) e da Câmara de Vila Velha de Ródão, o que está a acontecer no Tejo Internacional é o reflexo daquilo que apelida de "política calculista" de gestão de águas, em que são privilegiados os interesses económicos em detrimento do território e dos interesses ambientais.

"Para nós, há duas palavras que são aqui incontornáveis: esta situação é inexplicável e é injustificável. É inexplicável porque não há nada que leve a que o Tejo, a montante da barragem de Cedillo, esteja hoje com aquele cenário desolador com que somos confrontados. E é inaceitável porque de facto o Governo português e o Governo espanhol têm a obrigação de se articularem e evitarem uma situação destas", sublinha, em declarações à Lusa.

Luís Pereira diz mesmo que a situação dos rios Tejo e Pônsul demonstra bem a necessidade de se renegociar a Convenção de Albufeira, definida entre Portugal e Espanha para a cooperação na proteção e no aproveitamento sustentável das águas das bacias hidrográficas.

A revisão da convenção foi já recomendada pelo parlamento português e o programa do novo Governo socialista, aprovado no sábado, promete um processo de “aprofundamento” do acordo, “garantindo caudais diários no rio Tejo e a gestão conjunta das massas de águas comuns”.

Enquanto o movimento ambientalista proTejo tem reiterado que Espanha não cumpriu os caudais definidos no ano hidrológico 2018/2019 e pedido a publicação dos dados, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) afirma que “tudo parece indicar o cumprimento do regime de caudais anuais”, apesar de o boletim anual ainda estar em execução.

"Há prejuízos imediatos e que são já mensuráveis, que têm a ver com a atividade turística, que está suspensa; com infraestruturas que estão danificadas e que têm de ser recuperadas; com a pesca, que neste momento está também inativa. Depois, há prejuízos, a médio e longo prazo, no meio ambiente que de facto ainda não são mensuráveis, mas que calculamos que sejam significativos e que ponham em causa muitos projetos que estavam a ser desenvolvidos na área do Parque Natural do Tejo Internacional", frisa o autarca.

De um e do outro lado do Tejo, recorda, há uma “voz única de solidariedade” ao nível dos municípios, afetados de igual forma e que exigem a resolução do problema.

As autarquias esperam que sejam defendidos os interesses ambientais e do desenvolvimento de todo o território. “A continuarmos com este quadro, aquilo que estamos a ver é o prejuízo deste território do nosso país em detrimento dos interesses das elétricas espanholas e da agricultura espanhola", conclui Luís Pereira.

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