Rússia: "Boa afluência" às urnas em Lisboa no apoio explícito a Putin - TVI

Rússia: "Boa afluência" às urnas em Lisboa no apoio explícito a Putin

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  • 18 mar 2018, 17:27

Mais de 260 eleitores tinham votado até ao meio-dia para as eleições presidenciais, que segundo todas as previsões vão reconduzir o atual líder do Kremlin para um quatro mandato, até 2024

Longe de enorme, a fila era, porém, a suficiente para ocupar a entrada, escadas e primeiro andar da embaixada da Rússia em Lisboa, onde mais de 260 eleitores tinham votado até ao meio-dia para as eleições presidenciais russas.

Em declarações à agência Lusa, o segundo secretário da missão diplomática da Rússia, Alexander Bryantsev, indicou calcular em cerca de seis mil os cidadãos ou turistas russos que poderão votar em Portugal, salientando que o número não passa de uma estimativa, pois a legislação russa não obriga os expatriados à inscrição consular.

As urnas em Lisboa estarão abertas até às 20:00, constituindo este o quarto e último passo de umas eleições que, em Portugal, foi feita de forma antecipada na Madeira (cerca de 60 votos expressos, há precisamente uma semana) e no Porto (cerca de 260) e em Portimão (200), sábado.

Em pleno centro de Lisboa, o estacionamento junto à embaixada só ficou mais complicado quando dois autocarros de turismo, com 94 membros da orquestra para Ópera e Ballet de Rostov do Don (sul da Rússia e próximo da fronteira com a Ucrânia), pararam defronte do edifício e todos saíram para o “dever patriótico” de votar, única frase deles recolhida com a ajuda de um tradutor.

Entre os quatro cidadãos russos ouvidos pela Lusa - três mulheres casadas com portugueses e um médico de medicina interna que aguarda colocação depois de um estágio no Hospital de Faro natural da Crimeia -, nenhum escondeu o sentido de voto, sendo muitas as críticas à forma como o Ocidente tem tratado a Rússia nos últimos anos.

Denis Pizin, que nasceu no tempo em que a Crimeia era soviética, a propósito da anexação russa, limitou-se a dizer que a península “sempre pertenceu à Rússia”, escusando-se a tecer quaisquer comentários sobre o tema, acrescentando, já de forma generalizada, que o Ocidente “desinforma” sobre a realidade.

E essa “desinformação” diz respeito não só à Crimeia – “nasci numa terra que, para a Europa, é problemática” -, como sobretudo ao envolvimento russo no conflito sírio, ao lado do regime de Bachar al-Assad, e na alegada responsabilidade do Kremlin no envenenamento do ex-espião Serguei Skripal, no Reino Unido.

Do meu ponto de vista, não vejo que faça qualquer sentido que a Rússia esteja envolvida no ‘caso Skripal’ e na Síria está tudo nas notícias, com muita desinformação. É evidente que há propaganda, mas ela vem dos dois lados [Rússia e Ocidente]”, argumentou.

Svetlana Morais, arquiteta, moscovita, em Portugal há 15 anos, foi mais longe nas críticas à “propaganda americana”, que, disse, “está a minar a Europa”, que deve aliar-se à Rússia para “combater o terrorismo mundial” dos Estados Unidos.

Estou muito preocupada por a Europa estar a fomentar um conflito absolutamente desnecessário com a Rússia e está a ir atrás da política agressiva da América. Está na hora de a Europa abrir os olhos e ver a Rússia como grande amiga e vizinha”, sublinhou a arquiteta russa.

“Está tudo a ir atrás de notícias falsas e destorcidas. A União Europeia (UE) começou a imitar a União Soviética, sem transparência. As ‘fake news’ vêm da máquina da propaganda americana, que não se preocupa com a verdade está a fabricá-las para moldar a opinião pública para encobrir os seus crimes. Porque a América é um país criminoso pelas guerras que tem fomentado no mundo, pelo que a Europa deve juntar-se à Rússia para combater este terrorismo mundial americano”, frisou.

Assumindo o voto em Vladimir Putin, Iulia Garitcheva, 39 anos, em Portugal há 14, administrativa na empresa do marido, português, não falou da Síria – “têm todos de se sentar à mesa” -, mas, sobre o “caso Skripal”, considerou que o Reino Unido “foi longe demais” com as acusações a Moscovo.

O mesmo disse Ana Sarokina Lopes, 37 anos e em Portugal há 15, também casada com um português, técnica de Turismo, que destacou os “jogos políticos” dos dois blocos para justificar o facto de não acreditar num novo conflito, nem tão pouco de uma “revisita” à Guerra Fria.

Ninguém quer guerras”, frisou.

A Lusa também contactou, mas por telefone, vários cidadãos russos residentes em Portugal, tendo alguns deles, solicitando anonimato, indicando que não irão votar nas presidenciais por acreditarem que a votação é fraudulenta.

As mesmas fontes assinalaram que o número de cidadãos russos residentes em Portugal que não vai votar é "muito superior" ao do que vota.

Os resultados da votação para as presidenciais russas em Portugal serão conhecidos algumas horas depois do encerramento das urnas e publicados na página da missão diplomática russa em Lisboa.

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