Devem os pais ser responsabilizados por não vacinar os filhos? - TVI

Devem os pais ser responsabilizados por não vacinar os filhos?

  • 17 abr 2017, 13:15

A pergunta coloca-se a propósito da epidemia de sarampo que se verifica em Portugal, com 23 casos já detetados desde janeiro. Há pais a usar o argumento de que as vacinas ‘mexem’ com a imunidade das crianças

Com o surto de sarampo que está a assolar Portugal (há pelo menos 23 casos), a Direção-Geral de Saúde alerta os pais para a necessidade de vacinarem os seus filhos "sem hesitação". Coloca-se, a propósito, a pergunta: devem os pais que não querem vacinar os filhos ser responsabilizados por isso?

É uma discussão que é preciso ter, defendeu o diretor-geral de Saúde, Francisco George, à Antena 1. Já o pediatra Mário Cordeiro não tem dúvidas que sim, que os pais devem ser responsabilizados pelas consequências dos seus atos, apesar de reconhecer que é difícil instituir a obrigação de vacinar.

“Se morrer alguma criança não vacinada porque os pais não quiseram, não será isso passível de acusação de ‘morte por negligência, como seria se morresse por andar de carro sem cadeirinha ou cinto de segurança?”, questiona Mário Cordeiro em declarações à agência Lusa.

Vacinas não são obrigatórias

Atualmente, o Programa Nacional de Vacinação constitui uma recomendação das autoridades de saúde, mas as vacinas não são obrigatórias. O surto de sarampo que atinge neste momento a Europa tem sido relacionado com casos de pessoas que não querem vacinar os filhos.

Mário Cordeiro chegou a fazer parte de um grupo de trabalho que na Direção-Geral da Saúde estudou a possibilidade de tornar obrigatórias as vacinas.

“Não é possível porque qualquer obrigatoriedade exige apuramento de responsabilidades, que é muito complexo numa situação destas, e também coimas ou equivalentes, que iriam penalizar os mais desfavorecidos ou menos abrangidos pela informação”, afirmou o médico.

Para Mário Cordeiro, a solução não passa por tornar obrigatório, mas antes por ser mais incisivo em “desmontar as enormidades e falsidade que se dizem e propagam pelas redes sociais contra as vacinas”.

Dizer mal das vacinas é um luxo de um país que já não tem, como há bem pouco tempo tinha, casos diários de meningite ou mortes por sarampo, como [aconteceu] em 1994. A memória é demasiado curta e a arrogância demasiado grande”.

Contra as vacinas porquê?

Segundo o pediatra, o fenómeno de pais que não querem vacinar os seus filhos deve-se a uma mistura de mal-entendidos e teorias da conspiração associados a uma ignorância história e fraca memória.

"Acho que é altura de se mostrar que estas teorias e estas pessoas são, também, responsáveis por estes surtos [como o do sarampo]. Chegou a altura de a sociedade não ter medo de denunciar esta ‘ciência do Facebook’”, sugere Mário Cordeiro, para quem a Direção-geral da Saúde (DGS) tem feito um bom trabalho nesta área da vacinação e dos alertas à população.

Alguns pais usam o argumento de que as vacinas ‘mexem’ com a imunidade das crianças, usando-o como justificação para não as vacinarem.

Perante isto, Mário Cordeiro explica que é isso mesmo que se pretende, mas indicando que se trata de uma coisa positiva, porque a criança fica com a imunidade para a doença sem sofrer os malefícios dela.

“Aliás, todos os dias, a criança contacta com ‘N’ agentes microbianos na escola, em casa, na sociedade, que ‘mexem’ com a sua imunidade e a fortalecem”, recorda o especialista.

Mário Cordeiro lamenta ainda que Portugal, que sempre teve elevadas taxas de vacinação, volte a ter casos de sarampo: “É pena que um país que foi declarado ‘livre de sarampo’ há cerca de seis meses e que foi apontado como um exemplo na Europa e no mundo, volte a ter um surto de sarampo autóctone. Mais cedo ou mais tarde ter-se-ia de pagar o preço da ignorância e do ‘não-te-rales’”.

Um dos casos mais complicados, segundo noticiou o jornal Expresso, é de uma jovem de 17 anos internada no hospital de Cascais (com seis casos confirmados) que teve de ser transferida para o Hospital D. Estefânia, em Lisboa, devido ao agravamento do estado de saúde.

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