Portugal gasta mais de 200 milhões de euros em psicofármacos - TVI

Portugal gasta mais de 200 milhões de euros em psicofármacos

  • CM
  • 9 out 2017, 13:53
[Reuters]

Ordem dos Psicólogos diz que não existe uma estratégia para a saúde mental, lembrando, por exemplo, que no Serviço Nacional de Saúde existe um profissional para cada 16.500 portugueses

Os portugueses compraram cerca de 20 milhões de embalagens de psicofármacos no ano passado, o que corresponde a um gasto de 216 milhões de euros, segundo dados divulgados pela Ordem dos Psicólogos, nesta segunda-feira.

De acordo com a Ordem, que cita dados oficiais, o encargo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na comparticipação de psicofármacos em 2016 foi de 122 milhões de euros, o que representa 56% do valor gasto nestes medicamentos para a área da saúde mental.

O bastonário da Ordem dos Psicólogos lamenta a falta de estratégia e de intervenção preventiva que evite o aumento de consumo de psicofármacos, considerando que algumas vezes são apenas uma solução mais rápida, mas que só promove a redução de sintomas.

Para Francisco Miranda Rodrigues, faltam estratégias de combate a problemas mentais que possam ser prevenidos ou rastreados de forma precoce, o que pode ser feito nomeadamente nos cuidados de saúde primários.

Continua a não existir uma estratégia na área da saúde mental”, disse o bastonário à agência Lusa, lembrando que se passaram já dez anos da criação do Plano Nacional de Saúde Mental, sem que haja uma “verdadeira estratégia integrada para a promoção da saúde mental e para a prevenção das perturbações mentais”.

O representante dos psicólogos portugueses considerou que “não é possível inverter a situação atual” na saúde mental sem que haja investimento, nomeadamente de recursos humanos.

A Ordem dos Psicólogos recorda que no Serviço Nacional de Saúde (SNS) existe apenas um psicólogo para cada 16.500 portugueses e que se continua a aguardar que a tutela avance com a contratação de 55 psicólogos que tinham sido assumidos pelo Governo.

Trata-se efetivamente de investimento. Porque na área da saúde mental, ao investirmos, estaremos a prevenir tanto o sofrimento das pessoas como a prevenir outros custos, como com psicofármacos.”

Francisco Miranda Rodrigues reconhece que muitos dos psicofármacos prescritos e consumidos serão sempre necessários para casos de perturbações mais graves, mas considera que algumas perturbações de ansiedade ou depressivas podiam ser prevenidas ou encaminhadas de outras formas.

Um terço dos doentes graves não recebe cuidados adequados

Um terço dos doentes com perturbações mentais graves não recebe os cuidados de saúde adequados. Segundo a Ordem, quase 65% de pessoas com perturbações mentais moderadas e 33,6% com perturbações graves “não recebe cuidados de saúde mental adequados”.

Para o bastonário, continua a haver “muitos défices na capacidade de resposta” na área de saúde mental, mesmo para as perturbações mais graves.

Estamos a falar de muita gente que não recebe o acompanhamento adequado ou em continuidade para as necessidades das pessoas”, afirmou o bastonário na véspera do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala terça-feira, dia em que devem ser divulgados estes e outros novos dados relativos à área em Portugal.

Para Francisco Miranda Rodrigues “não basta divulgar o número de consultas realizadas na área da saúde mental sem perceber o significado desse número, sem compreender ou medir o resultado dessas intervenções”.

Temos de ter indicadores que permitem perceber em que medida as nossas intervenções contribuem para melhorar a eficácia da saúde dos cidadãos”, defendeu, sublinhando que o financiamento das unidades de saúde é depois feito também com base nos dados de produção de consulta, sem que se aposte em atividades preventivas na área da saúde mental.

Os dados oficiais divulgados pela Ordem dos Psicólogos, grande parte referentes a 2016, mostram que há uma “elevada prevalência anual de perturbações mentais” entre os portugueses, na ordem dos 22%, com maior predomínio para as perturbações de ansiedade e do humor.

Quanto aos casos de suicídio, situam-se numa média de três por dia, representando cerca de mil casos confirmados num ano.

De acordo com o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde sobre o assunto, divulgado em setembro, Portugal registou em 2015 uma taxa de 13,7 mortes por suicídio por cada cem mil habitantes, o que significa que cerca de 1.370 pessoas ter-se-ão suicidado.

 

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