De acordo com o «Jornal de Notícias», os hospitais de São João e de Santo António, no Porto, os Hospitais Universitários de Coimbra, o hospital de Santa Maria e o de São José, em Lisboa, tomaram a iniciativa.
Trata-se de uma providência cautelar por abuso de posição dominante. Os hospitais vão também apresentar queixa na Autoridade da Concorrência e declarar a empresa como fornecedor hostil.
As negociações, até à data, entre as autoridades de saúde portuguesas e a farmacêutica norte-americana não chegaram a conclusões, Mesmo com «desconto», o medicamento representa 42 mil euros por doente, quando, o preço de custo ao laboratório se fica pelos 100 euros.
Maria do Céu Machado, diretora clínica do Centro Hospitalar de Lisboa-Norte no ano passado, considerou esta quarta-feira, na antena da TVI24, o preço «completamente imoral».
A médica percebe os argumentos da farmacêutica: «Atualmente só há este medicamento com esta eficácia, [por isso] tenho que realizar o investimento este ano» porque daqui a uns anos há outro igual e os preços baixam. Uma lógica de mercado, sem dúvida, mas, o valor da vida mede-se assim, de uma forma economicista?
Uma pergunta a que a sua colega do hospital de Santa Maria, Maria Doroana, infecciologista naquela unidade de Lisboa há 35 anos, responde perentoriamente, numa entrevista à jornalista Alexandra Borges.
«A recusa sistemática do tratamento aos doentes é uma linha de conduta. A linha de conduta é: contenção de despesas».
Maria Doroana tem 160 doentes a seu cargo. Destes elegeu apenas 16 que reunissem as condições para receber o tratamento milionário. Mesmo assim, viu os 16 pedidos foram chumbados.
«Não acha bizarro que dos 16 doentes nenhum tenha critério para fazer os novos medicamentos?».
Para receberem este novo medicamento, o processo tem de ser autorizado pela comissão de farmácia do hospital e depois pelo Infarmed – a autoridade do medicamento em Portugal.
Dos 16 doentes de Maria Doroana, dez foram chumbados na comissão de farmácia do Hospital de Santa Maria e seis seguiram para o Infarmed e foram indeferidos.
«Os doentes irão morrer de hepatite e há que responsabilizar as pessoas que recusaram sistematicamente esses pedidos», disse a médica indignada.
O presidente do Infarmed, Eurico Castro Alves, disse esta quarta-feira acreditar que o acordo com o laboratório que comercializa o Sofosbuvir está para breve, aguardando resposta da empresa à última proposta do instituto.
Após umas longas negociações, o Infarmed acredita agora que o acordo poderá estar para «dentro de dias».
Acordo é possível se se puder «descer substancialmente os preços», acredita Luís Mendão, do Grupo para Tratamento da Hepatite C e também ele doente.
Os doentes dizem que nada disto faz muito sentido, já que o SNS andou durante anos a gastar milhares de euros para os manter vivos enquanto doentes com VIH-Sida.
O tempo e a luta contra o tempo dos doentes com hepatite C. Uma guerra pela vida.