Nos últimos anos, foram várias as tentativas de criar um método anticoncecional masculino que fosse equiparado à pílula, em termos de durabilidade e eficiência. No entanto, para além do preservativo como método ocasional, e da vasectomia como método permanente e irreversível, nada tem resultado.
O Instituto Chileno de Medicina Reprodutiva está a um passo de revolucionar esta ideia. O objetivo é criar um gel que os homens possam aplicar diariamente sobre os seus ombros para evitar a fertilidade. Isto fará com que sejam eles a “levar às costas” a responsabilidade da contraceção. Literalmente.
As várias tentativas para o desenvolvimento de uma pílula masculina não têm sido bem sucedidas nos últimos anos. A ingestão de testosterona por via oral causaria danos graves ao fígado, pelo que a maioria dos ensaios clínicos têm sido descartados. A opção de um gel com aplicação intramuscular poderia preencher esta lacuna do mercado contracetivo.
Este novo produto, cuja composição inclui a combinação de testosterona e um tipo de progesterona sintética, faz com que a produção de espermatozóides seja reduzida a uma concentração próxima à infertilidade. No entanto, a segurança, qualidade de vida e impulso sexual do utilizador estão assegurados.
A equipa chilena está neste momento a selecionar participantes para o ensaio, para que nos próximos quatro anos consigam comprovar a eficácia do método.
Para lá das dificuldades técnicas, os interesses económicos e o machismo são também um entrave ao desenvolvimento de novos produtos.
Baixo preço, qualidade, eficiência e efeitos secundários residuais ou inexistentes: a maioria das investigações têm sido abandonadas por falta de alguma destas características. Para Roberto Letxundi, membro do comité de direção da Sociedade Europeia de Contraceção e Saúde Reprodutiva, “estamos a falar de negócios”, pelo que “a indústria atual se conforma com o que tem e não quer mudar”, disse em entrevista ao El Mundo.
Já para Iván Rotella, membro da Associação de Profissionais de Sexologia espanhola, o problema é que “a saúde sexual continua a ser vista como um problema das mulheres”.
Vivemos numa sociedade machista que tem deixado para as mulheres todas as responsabilidades relacionadas com contraceção e proteção nas relações sexuais (...) no fundo, o pensamento é: como é a mulher que engravida, é ela que tem que se preocupar. Por isso é que a indústria não crê na viabilidade comercial de um método contracetivo exclusivo para homens”, explicou ao El Mundo.
Os investigadores chilenos acreditam que o apoio da indústria farmacêutica podia fazer a diferença. Este gel inibidor da fertilidade seria o primeiro método contracetivo equiparado à pílula feminina a entrar no mercado, colmatando a falta de um método eficaz, duradouro e reversível destinado apenas ao sexo masculino.