Hepatite C: mais de 25 mil doentes iniciaram tratamento nos últimos quatro anos - TVI

Hepatite C: mais de 25 mil doentes iniciaram tratamento nos últimos quatro anos

  • SS - atualizada às 13:03
  • 29 jul 2019, 07:35

As projeções indicam que haverá cerca de 40.000 pessoas com hepatite C, faltando, assim, identificar cerca de 15.000 casos. Dados constam no Relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais da Direção-Geral da Saúde

Mais de 25 mil doentes iniciaram tratamentos para a hepatite C em Portugal nos últimos quatro anos e perto de 14 mil doentes estão curados, revela o Relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais da Direção-Geral da Saúde.

Desde 2015, ano em que foi iniciado o tratamento desta doença com antivirais de ação direta a todos os doentes, foram autorizados até 30 de junho 24.934 tratamentos, dos quais 23.111 já foram iniciados e 18.751 finalizados.

Dados do Infarmed atualizados até 25 de julho indicam que foram registados 25.089 tratamentos e iniciados 23.181. Dos doentes que concluíram o tratamento 13.895 estão curados e 507 não curados.

O tempo médio para autorização do tratamento era, a 30 junho, de 26 dias e o tempo médio para início de tratamento de 72 dias, refere o relatório, que será divulgado hoje, em Lisboa, na iniciativa “Portugal Rumo à eliminação da Hepatite C”, que decorre no âmbito do Dia Mundial contra as Hepatites, assinalado a 28 de julho.

Nos casos de retratamentos o tempo médio para autorização é maior tendo em conta que alguns medicamentos carecem de Autorização de Utilização Excecional.

O tratamento da hepatite C com antivirais de ação direta tem sido disponibilizado a todas as pessoas infetadas por vírus da hepatite C elegíveis nos termos da Norma de Orientação Clínica, com taxas de cura superiores a 96%”, sublinha o relatório, adiantando que o valor cumulativo até 30 de junho dos tratamentos não iniciados é de 1.823

Este número de tratamentos autorizados e não iniciados poderá ser justificado, na sua grande maioria (cerca de 80%), por situações de tratamentos autorizados e iniciados, e nalguns casos mesmo concluídos, que ainda não foram atualizados no Portal da Hepatite C do Infarmed.

Em declarações à agência Lusa, a diretora do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Isabel Aldir, assinalou os ganhos alcançados no combate a esta doença, afirmando que Portugal continua numa “situação muito boa”.

Temos mais de 25.000 pessoas em tratamento e os resultados do tratamento têm sido assinaláveis: 96% das pessoas que fazem o tratamento ficam curadas e é um tratamento muito simples, de uma duração muito curta”, afirmou Isabel Aldir.

Mas é preciso “fazer sempre e ainda mais um esforço para tratar todos aqueles que sabem que têm hepatite C e identificar os casos que ainda não estão diagnosticados”, defendeu, sublinhando que é esta trajetória que se propõem fazer de “uma forma rápida durante os próximos anos”.

De acordo com Isabel Aldir, não haverá muitos doentes por identificar: "Mais de 25 mil já estão em tratamento e um número ainda maior já está identificado e num processo” de o iniciar agora.

Se as projeções indicam que haverá cerca de 40.000 pessoas com hepatite C, faltam identificar cerca de 15.000, “o que num universo de 10 milhões, obviamente, é um desafio acrescido e que se tem de estar muito atento e não perder oportunidades”.

A hepatite C é uma “doença silenciosa” e a grande maioria dos doentes “não têm qualquer queixa ou sintoma”, o que dificulta o seu diagnóstico.

Nesse sentido, a infeciologista apelou a quem tenha “alteração nas provas do fígado”, feito tatuagens, utilizado drogas injetáveis ou “outras manobras” em que foram utilizados materiais perfurantes ou cortantes, sem ter os cuidados de segurança necessários, para fazerem o teste.

Também é necessário que os profissionais de saúde estejam “atentos” e não percam a oportunidade de propor a realização do teste, "um teste de sangue simples" que permite identificar a doença, evitar “complicações futuras”, como uma cirrose, e curar o doente, defendeu.

No relatório é anunciado a realização de um novo estudo sobre o impacto financeiro e dos ganhos em saúde do acesso universal ao tratamento da hepatite C através de antivirais de ação direta.

“Já foi feito numa fase inicial e os ganhos desta estratégia são tremendos e agora está na altura de voltarmos a fazer este exercício. É uma questão de responsabilidade do programa, do Ministério, de prestarmos contas sobre as decisões que são tomadas” aos portugueses, disse Isabel Aldir.

 

268 casos de hepatite C e 174 de hepatite B em 2018 

No ano passado, Portugal registou 268 casos de hepatite C, 174 de hepatite B e 83 de hepatite A, segundo o mesmo relatório.

Em 2018 foram notificados 174 casos de hepatite B, mais um face a 2017, a maioria homens com mais de 37 anos, refere o documento que será divulgado hoje em Lisboa na iniciativa “Portugal Rumo à eliminação da Hepatite C”, que decorre no âmbito do Dia Mundial contra as Hepatites, assinalado a 28 de julho.

Analisando os óbitos por hepatite B nos dois últimos anos, a DGS afirma que os números reportados "são baixos", estando “certamente, subdimensionados particularmente nos casos crónicos”, uma vez que no preenchimento dos certificados de óbito é assumida a causa de morte, como cirrose ou cancro do fígado, e não a sua etiologia.

O mesmo se passa com as mortes associadas à hepatite C que totalizaram 16 em 2017 e nove em 2018, maioritariamente homens (75%).

Há uma diversidade de causas que podem conduzir ao óbito e se nós não tivermos os certificados de óbito corretamente preenchidos, nunca vamos conseguir identificar qual foi a verdadeira causa daquele óbito”, disse à Lusa Isabel Aldir.

Nesse sentido, defendeu, os médicos devem ser sensibilizados para a importância do correto preenchimento destes certificados para se ter uma noção verdadeira da “dimensão deste problema” em Portugal.

Relativamente à hepatite C, o documento aponta a notificação de 269 casos em 2018, menos oito face a 2017, a maioria homens com idades entre os 40 e 59 anos (62,4%), sendo a “forma provável de transmissão”, conhecida em 65% dos casos, “a exposição não ocupacional a sangue ou materiais contaminados (85%)”.

Nas últimas décadas, diminuíram de “forma consistente” os casos de hepatite A, mas em 2017 começou a verificar-se um aumento de casos, alguns referentes a 2016, altura em que ocorreu um surto em 22 países da União Europeia, incluindo Portugal.

Em Portugal, foram notificados 560 casos em 2017 e 83 em 2018, a maioria (66,7%) na região de Lisboa e Vale do Tejo e no grupo etário 18-39 anos (66,4%).

Desde então, houve um decréscimo progressivo do número de novos casos, tendo voltado a uma situação semelhante à existente antes do surto, mas mantém-se a atenção porque “a diminuição da incidência da doença originou um número crescente de pessoas suscetíveis”.

O relatório destaca as elevadas taxas de vacinação contra a hepatite B, que ultrapassaram nos últimos anos os 95%. Em 2018, 98% das crianças com um ano estavam vacinadas.

Para Isabel Aldir, esta taxa de cobertura “é assinalável” e faz com “a população até aos 37 anos de idade esteja protegida, o que é uma ajuda para se terminar com a situação da hepatite B enquanto problema de saúde pública muito grande”.

É fundamental “todos estarmos conscientes da importância destas doenças, mas também conscientes de que há maneiras de as prevenir e que há tratamento”, sublinhou a infeciologista.

No relatório, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirma que o documento aponta resultados que “alicerçam a confiança na prossecução da meta de eliminar as hepatites virais até 2030”, mas ainda é “necessário intensificar” os esforços para melhorar a resposta nacional.

 

Mais de 500 reclusos com hepatite C e 283 com VIH recebem tratamento na prisão

Mais de meio milhar de reclusos com hepatite C e perto de 300 infetados com VIH recebem cuidados de saúde hospitalares nas prisões, segundo o relatório.

Há um ano foram estabelecidos protocolos entre a Direção-Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais (DGRSP), em representação de 44 prisões, e 28 hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para que os reclusos infetados com hepatite B e C e com VIH passassem a receber o tratamento na prisão prestado por médicos que ali se deslocam.

A medida já está em funcionamento em 34 estabelecimentos prisionais (cerca de 80% do total) e já abrangeu 283 reclusos que vivem com o vírus da imunodeficiência humana (VIH) e 511 infetados com hepatite C, refere o relatório da DGS.

Nos restantes 10 estabelecimentos prisionais, estão a ser desencadeados os procedimentos necessários à implementação do protocolo, sendo que a principal questão que se encontra por resolver prende-se com os sistemas informáticos de registo”, refere o documento, a que a agência Lusa teve acesso.

No entanto, ressalva, os reclusos desses estabelecimentos prisionais continuam a beneficiar dos cuidados de saúde necessários em contexto hospitalar.

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