Há muitos doentes internados nos hospitais por motivos sociais - TVI

Há muitos doentes internados nos hospitais por motivos sociais

  • Redação
  • SS - atualizada às 09:31
  • 18 dez 2016, 09:26

Hospitais vão fazer caracterização de doentes por motivos sociais e clínicos, O objetivo é calcular o tempo de internamento desnecessário dos doentes e encontrar as melhores respostas na comunidade para os casos sociais

O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares avançou que irá ser realizada uma caracterização dos doentes internados nos hospitais para calcular o tempo de internamento desnecessário e encontrar as melhores respostas na comunidade para os casos sociais.

“Estamos a reabilitar um processo de revisão da utilização em que o objetivo é, para a grande maioria dos doentes que estão internados, fazer uma caracterização clara sobre quais são os que estão internados por motivações sociais ou por motivações clínicas”, explicou Alexandre Lourenço à agência Lusa.

Com este processo, pretende-se também calcular “o número de dias que os doentes estão nos hospitais sem necessidade”, “identificar situações e encontrar as melhores alternativas na comunidade, em conjunto com as famílias e com os doentes”, adiantou.

Os hospitais debatem-se com situações de doentes que têm de permanecer internados, após alta clínica, à espera de resposta da segurança social ou de outras soluções encontradas pela família. Alexandre Lourenço sublinha que os casos sociais continuam com “tempos de estadias muito elevados” nos hospitais, uma situação que urge resolver por causar “problemas graves” nas instituições e colocar em risco os doentes.

Nestes casos, encontram-se situações de abandono, de idosos que vivem sozinhos e de doentes que requerem mais cuidados em casa, mas as famílias não têm capacidade para os prestar, contou o responsável.

Alexandre Lourenço realçou “o papel essencial” que as famílias desempenham nestes casos, mas reconheceu as dificuldades que muitas têm em organizar-se e a ter recursos para acolher, principalmente, os mais idosos, em casa, e prestar-lhes os melhores cuidados.

Mas, advertiu, “a hospitalização não é o caminho seguramente, porque prestamos maus cuidados e colocamos risco para o próprio doente”.

“Quanto mais tempo um doente estiver no hospital, maior a probabilidade de ser infetado por um vírus, uma bactéria ou um fungo”, o que obrigará a uma continuidade de cuidados.

Outro problema prende-se com a ocupação das camas, o que pode impedir que outros doentes tenham acesso a cuidados de saúde. “Muitas vezes, quando falamos de tempos de espera para cirurgia devemos ter em consideração que, cada vez que um doente estiver a ocupar uma cama, outro doente não poderá ser operado”, elucidou.

Relativamente ao levantamento a fazer, o presidente da associação disse que arrancará em 2017, com a preparação e a formação de médicos e administradores hospitalares nesta matéria.

“Tem de se fazer uma análise exaustiva de todos os processos”, a começar pelo processo de informação. A partir daí, as instituições que quiserem podem desenvolver este trabalho.

“Creio que o Ministério da Saúde também está muito interessado no desenvolvimento destes mecanismos”, disse, convicto de que o processo será facilmente espalhado a todas as instituições do Serviço Nacional de Saúde.

Este levantamento também é necessário para perceber se a forma como os cuidados estão a ser prestados e organizados podem ser alterados, para se conseguir “prestar cuidados de saúde com melhor qualidade e segurança aos doentes”.

“Existe um esforço muito grande dos assistentes sociais dos hospitais e da Segurança Social, mas não é suficiente e, com o envelhecimento da população e com o aumento da prevalência das doenças crónica, nós temos de encontrar alternativas a estas situações”, defendeu Alexandre Lourenço.

A resposta passa pelo “desenvolvimento do hospital”, através de parcerias com organizações da comunidade que possam prestar cuidados mais perto de casa.

Por outro lado, esta situação também tem custos: “Cerca de três a quatro dias de internamento nas áreas médicas é excessivo quando comparamos com outros países e o nosso objetivo é reduzir esses dias”, frisou.

Contudo, não se pode estar apenas preocupado com o custo, mas em utilizar os recursos da melhor forma.

“Muitos dos problemas que atravessamos hoje das urgências hospitalares é pelo facto de não conseguirmos trazer os doentes das urgências para os internamentos, porque eles também estão cheios por casos de natureza social”, elucidou.

 

Casos sociais: 290 doentes tiveram a alta adiada no ano passado

Só este ano, até novembro, o Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) registou, nas suas seis unidades hospitalares (S. José, S. Marta, D. Estefânia, S. António dos Capuchos, Curry Cabral e a Maternidade Alfredo da Costa), 198 casos de doentes que tiveram a sua alta adiada por motivos sociais, situações que demoraram, em média, 21 dias a ser resolvidas.

Em 2015, foram registados 290 casos, mais dois face ao ano anterior, segundo dados avançados à Lusa.

As dificuldades das famílias em assumir o papel de cuidador, problemas económicos, “falta de resposta atempada” da rede social formal e a dependência física e cognitiva dos doentes são motivos apontados pelo centro hospitalar para estas situações.

Quando se trata de crianças e jovens, os motivos prendem-se principalmente com a aplicação de medidas de proteção, a inexistência de rede social informal (família, amigos, vizinhos) e desestruturação familiar.

Para solucionar estes casos, os assistentes sociais procuram a integração em lares, o acolhimento em instituições de menores e subsídios para o cuidador, apoio domiciliário e centro de dia.

Este problema também se regista no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), que engloba os hospitais de S. Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz, onde foram contabilizados, até novembro, 60 casos. Em 2014 tinham sido 46 e no ano seguinte 69.

Segundo o CHLO, estes casos foram encaminhados para instituições de solidariedade social.

Já no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António encontram-se 35 doentes com alta clínica à espera de solução para sair do hospital.

“Muitos são idosos residentes no centro histórico do Porto e sem retaguarda familiar”, cuja solução passa pelo encaminhamento para instituições da Segurança Social.

O Centro Hospitalar de São João informou que, até à data, não tem conhecimento de doentes com alta clínica que permaneçam no hospital sem que alguém os venha buscar.

 

Continue a ler esta notícia