Pandemia trouxe mais flexibilidade ao SNS - TVI

Pandemia trouxe mais flexibilidade ao SNS

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  • Publicado por Henrique Magalhães Claudino
  • 1 mai 2020, 08:46
Covid-19 no Hospital de Santa Maria

Investigador da Universidade Nova defende que a pandemia sublinhou a importância de ter serviço público de saúde sustentável

A pandemia de Covid-19 exigiu mais flexibilidade ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e mostrou que a produtividade pode aumentar com os atos médicos à distância, defende o investigador da Universidade Nova Pedro Simões Coelho.

Em declarações à Lusa, Pedro Simões Coelho, da Escola da Gestão de Informação (Nova IMS) da Universidade Nova de Lisboa e que coordena o estudo anual sobre a sustentabilidade do SNS, defendeu que, além do impacto que teve sobre a forma como os cidadãos olham para o SNS e a ele recorrem, a pandemia mostrou que o sistema pode ser mais flexível, produtivo e sustentável.

O SNS não pode dar-se ao luxo de não aproveitar esta oportunidade de aprender com o que funcionou bem. (…) Há uma coisa clara: teve de criar mecanismos excecionais de reação e adaptação muito rápida ao que estava a acontecer”, afirma.

Este docente da Nova IMS considera ainda que, no futuro, é preciso “refletir em novos mecanismos que tragam mais flexibilidade à gestão do SNS e que façam com que as várias componentes do sistema possam ter respostas rápidas e mais adaptáveis a cada momento”.

Isto vai ter de deixar um lastro no aumento de atos de não requerem presença física nos hospitais ou nos centros de saúde”, afirmou, dando como exemplo os doentes de Covid-19 que recuperaram ou estão a recuperar em casa e os que aderiram à teleconsulta.

 

Por razões más, tornou-se necessário reduzir a presença das pessoas nas instituições e isso tornou óbvio que há certas atividades que antes podíamos realizar à distância e que estávamos a realizar dentro das instituições de saúde”, considerou.

As cirurgias em ambulatório, os internamentos domiciliários e as consultas à distância são os exemplos apontados pelo especialista como os mais importantes para aumentar a produtividade do SNS, sem fazer aumentar os custos, tornando-o mais sustentável.

Mais cirurgias em ambulatório, com menos internamento, é uma medida que pode ser intensificada e que tira uma enorme pressão sobre o sistema. Outra [das medidas] com potencial de crescimento, pois ainda se faz pouco, é o internamento domiciliário, levar o hospital e os cuidados de saúde para casa do doente”, exemplificou.

Sem estas três medidas – cirurgias em ambulatório, teleconsultas e internamentos domiciliários – “não é possível aumentar a produtividade do SNS”, disse.

Podemos ter bons equipamentos e bons médicos, mas há um nível de produtividade acima do qual não podemos ir. Só levar os cuidados de saúde para casa dos doentes aumenta a capacidade instalada do SNS quase de forma automática”, acrescentou.

 

 

Pandemia sublinhou a importância de ter serviço público de saúde sustentável

O investigador Pedro Simões Coelho considera que a pandemia de Covid-19 deu aos cidadãos uma maior consciência da importância de ter um serviço público de saúde sustentável e de cada um fazer a sua parte para prevenir a doença.

O especialista da Escola da Gestão de Informação (NOVA IMS) da Universidade Nova de Lisboa diz que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se vai tornar numa prioridade maior a nível mundial" e que as questões da sustentabilidade, que têm que ver com a qualidade do sistema e a sua capacidade de dar resposta à procura e de o fazer sem um crescimento desproporcionado de custos ou da divida, "vão estar ainda mais na ordem do dia”.

Pedro Simões Coelho, que é coordenador do estudo anual que a NOVA IMS desenvolve sobre a sustentabilidade do SNS, defende também que os cidadãos vão sair desta pandemia com uma maior consciência do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e da sua qualidade e uma maior capacidade de o comparar com outros sistemas: “No próximo ano, quando saírem os resultados do índice de sustentabilidade do SNS com toda a certeza que vamos ver isso”.

Defende que os portugueses ficarão ainda com uma maior consciência coletiva da responsabilidade individual de cada um na prevenção da doença: “Nunca, como antes, isto se tornou tão evidente. Vamos sair deste processo com a consciência de que o resultado final não depende só de haver ventiladores ou dos cuidados de saúde que recebemos, mas que depende muito das nossas ações”.

E este pensamento pode ser generalizado a outros comportamentos que têm impacto noutro tipo de doenças, como as do foro oncológico ou do foro cardiovascular", acrescentou

 

Outros dos ensinamentos que a pandemia pode trazer, segundo o especialista, tem que ver com a entrada no sistema: “Um exemplo paradigmático é a linha Saúde24. Os percursos que sempre foram recomendados para acesso ao sistema vão tornar-se mais evidentes e, no médio a longo prazo, isto vai ter impactos positivos na procura”.

Historicamente, muita gente usa a urgência hospitalar como porta de entrada no sistema, legitimamente, pois acreditam que é a forma mais fácil de entrar num sistema que tem tempos de espera. Agora, haverá uma maior consciência de que podemos ter outros caminhos para lá chegar”, concluiu.

O que o sistema de saúde tem de fazer, defende, “é aproveitar a parte da redução que ocorreu por razões positivas e torná-la mais perene depois da pandemia e fazer com que estas pessoas – que verdadeiramente não precisavam de uma urgência – tenham uma utilização mais racional” deste serviço.

 

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