Tempestade de citocinas. A resposta extrema do sistema imunitário que pode ser fatal em casos de Covid-19 - TVI

Tempestade de citocinas. A resposta extrema do sistema imunitário que pode ser fatal em casos de Covid-19

  • BC
  • 7 abr 2020, 10:13
Covid-19: testes

Estudos recentes alertam para o fenómeno, que pode explicar porque é que os mais novos são menos afetados pelo novo coronavírus

Se há quem contraia Covid-19 e não tenha mais do que sintomas leves, ou mesmo ausência total de sintomas, nos casos mais graves há por vezes uma resposta do sistema imunitário que pode precipitar um desfecho letal. A situação tem sido reportada pelos médicos no terreno e já foi abordada em publicações científicas pelos investigadores que, passo a passo, tentam perceber as consequências da doença e as respostas do corpo à infeção.

A esta resposta desregulada do sistema imunitário tem-se chamado "tempestade de citocinas" e é, na prática, uma resposta exacerbada do organismo a uma infeção. 

Quando o  SARS -CoV-2 - o vírus que causa a doença Covid-19 - chega aos pulmões, a reação imunitária  procura atacar o vírus, o que resulta numa inflamação localizada. Mas, nos casos mais  graves, há uma subida exagerada do nível de citocinas, que ativam o sistema imunitário de forma descontrolada, resultado numa hiperinflamação e, em muitos casos, morte. 

Estas tempestades de citocinas podem explicar, por exemplo, porque é que algumas pessoas têm reações mais severas quando infetadas com Covid-19, uma possibilidade abordada num estudo da Lancet: "Acumulam-se evidências de que um subgrupo de doentes com Covid-19 grave podem ter uma síndrome de citocinas. Recomendamos identificação e tratamento da hiperinflamação recorrendo às terapias existentes e aprovadas", refere a pesquisa de investigadores britânicos, publicada a 16 de março. 

Esta tempestade de citocinas ocorre normalmente depois de vários dias de luta contra o vírus por parte do sistema imunitário. Durante a primeira semana de infeção, a maioria das pessoas consegue combatê-lo, mas aqueles que não recuperam precisam normalmente de ajuda a meio da segunda semana de doença. 

É nesta altura que o sistema imunitário pode entrar em sobrecarga, atacando os próprios órgãos. O coração, fígado e rins são normalmente  os mais afetados além dos pulmões, uma falência multiorgânica que coloca a vida em risco. 

Esta poderá também ser a explicação para que os mais novos não sejam, por norma, severamente afetados quando infetados com Covid-19: têm os sistemas imunitários menos desenvolvidos, logo produzirão menos citocinas, evitando a inflamação.

Há poucos dias, o New York Times reportava mesmo o caso de um doente francês que, perante uma resposta exagerada do sistema imunitário, fora tratado com um imunossupressivo, o Tocilizumab,  utilizado, por exemplo, para casos de artrite reumatóide ou alguns tipos de cancro. 

Toda a gente fala agora da tempestade de citocinas como se fosse um fenómeno bem reconhecido, mas podia ter-se perguntado a dos médicos há duas semanas e nenhum teria ouvido o termo", disse ao New York Times Jessica Manson, uma das autoras do estudo publicado na Lancet, investigadora na University College London. 

Os doentes que passam por uma tempestade de citocinas têm normalmente ritmos cardíacos acelerados, febre e descida da tensão arterial. Se esta tempestade de desenvolve, torna-se óbvia alguns dias depois, mas quanto mais cedo for detetada maior será a possibilidade de sobrevivência do doente, alertam os médicos. Razão pela qual os especialistas, nomeadamente os autores do estudo da Lancet, recomendam um seguimento apertado dos doentes com Covid-19 para esta possibilidade de inflamação.

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