Idosa que morreu: telefone já tinha falhado noutra emergência - TVI

Idosa que morreu: telefone já tinha falhado noutra emergência

“Ela conseguiu socorro para mim, eu não consegui para ela”, conta o marido, que teve um problema cardíaco no final de dezembro. A mulher percorreu os mesmos dois quilómetros que ele a pé para pedir ajuda, por não ter telefone fixo reposto depois do incêndio de outubro. Dessa vez, o socorro chegou a tempo. No caso dela, não foi assim

Uma casa, dois idosos sem telefone. Durante quatro meses. Isolados, durante tanto tempo, depois da tragédia dos incêndios de outubro, na Sertã, já lhes ter levado quase tudo. O vizinho mais próximo está só a dois quilómetros. A mulher idosa, de 80 anos, morreu no dia 16 de fevereiro sem conseguir pedir ajuda, por não ter ainda o telefone que há quatro meses o fogo lhe roubou. Antes dela, também o marido teve uma emergência, um problema cardíaco. Também aí o telefone fizo falhou. Mas ele sobreviveu. Ela não.

Tentei ir à procura de socorro, onde a minha mulher também já tinha ido tentar socorrer-me a mim quando tive o enfarte, um mês antes, no dia 29 de dezembro. Ela conseguiu para mim, eu não consegui para ela”.

Não conseguiu, mas tentou. Com muita dificuldade, conta a filha, Umbelina, à TVI24. Demorou mais de uma hora a fazer o caminho a pé, a arfar de cansaço.

Não foi capaz. Saiu de casa para socorrer a minha mãe, só que demorou muito tempo a lá chegar, porque foi operado ao coração e sabe que se cansa e foi pedir ajuda a um vizinho mais próximo, a dois quilómetros de casa. Quando lá chegou pediu ajuda, a ajuda veio, o vizinho veio logo, mas foi tarde demais”.

Telemóveis,  não tinham? Havia dois, até, mas com cerca de 30% a 40% de visão e teclas e números pequenos, o marido da idosa não conseguiu fazer a chamada.

“Nestas situações, vive-se mal”, lamenta o homem. Para além do isolamento em termos de comunicações, também quem não conhece a zona tem dificuldade em dar com a casa. “O médico e a médica demoraram-se mais porque estavam perdidos”. O vizinho foi para a estrada principal para que o socorro fosse mais rápido.

A PT/Altice diz que tentou repor as comunicações em casa deste casal a 5 de janeiro, mas sem sucesso. “Deve ser mentira, porque a minha mãe estava em casa nesse dia, o meu pai estava no hospital, mas a minha mãe estava em casa. Ali não estiveram”, diz a filha, que enfatiza que, mesmo que tivessem vindo nesse dia, teria sido já só quatro meses depois do incêndio.

Deviam ter mais atenção às pessoas de idade, isoladas, deviam ser as primeiras a ter telefone”.

Já disse mesmo à PT que não queria lá mais o telefone. Já que não serviu para salvar a mulher, não é preciso, vou para casa dos filhos”, resigna-se o homem.

As memórias do incêndio voltam à cabeça, agora que perdeu também a mulher. “Aquele dia foi horrível, o que me defendeu foi o meu filho e a minha nora, que me conseguiram passar para dentro, tinha lá muita água nos tanques...Fiquei sem telefone, fiquei sem tudo. Só consegui defender os animais”.

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