"Ranking" não reflete degradação atual da saúde em Portugal - TVI

"Ranking" não reflete degradação atual da saúde em Portugal

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  • 29 jan 2018, 18:54
Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães

Bastonário da Ordem dos Médicos diz que o “Euro Health Consumer Index” "não traduz exatamente a situação atual, que se tem vindo a degradar ao longo dos anos, que não tem parado de degradar-se”. Também a Ordem dos Enfermeiros avisa que Portugal teve dos piores desempenhos no acesso a centros de saúde

A Ordem dos Médicos considerou que o ‘ranking’ europeu sobre saúde divulgado esta segunda-feira não traduz a situação atual dos serviços em Portugal, entendendo que a degradação tem sido contínua.

O bastonário dos Médicos disse à Lusa que o “Euro Health Consumer Index” se baseia em dados nacionais de anos diversos, incluindo 2013, 2014 e 2015.

Não traduz exatamente a situação atual, que se tem vindo a degradar ao longo dos anos, que não tem parado de degradar-se”, afirmou Miguel Guimarães.

Segundo o ‘ranking’ europeu, Portugal manteve em 2017 o 14.º lugar melhorando em alguns indicadores, como a espera nas urgências e a saúde oral.

O bastonário assume que um 14.º lugar é uma posição favorável e considera que ela se deve em grande parte à qualidade da formação médica em Portugal, alertando, contudo, que há vários indicadores negativos.

Miguel Guimarães manifestou-se preocupado com o que considera serem resultados negativos de Portugal no acesso aos cuidados de saúde, na área da prevenção e nos produtos farmacêuticos ou acesso a medicação inovadora.

“São três áreas nobres. Sobretudo, o acesso em tempo útil, que é a principal dimensão da saúde. E nós aqui temos limitações. Nós tempos de facto dificuldades no acesso. Ninguém tem dúvidas de que a questão do acesso se tem agravado ao longo dos últimos anos. Não é uma questão exclusiva deste Governo nem do anterior”, frisou.

Na área da prevenção, Miguel Guimarães lembrou que Portugal investe apenas cerca de 1% do seu orçamento de saúde em cuidados preventivos, considerando que tem de passar a ser uma aposta mais forte.

Também num comentário a este ‘ranking’, a diretora-geral da Saúde tinha já manifestado esta segunda-feira satisfação com a posição de Portugal, sublinhando a melhoria em áreas como a espera nas urgências e a saúde oral.

“De um modo geral, estamos satisfeitos com a posição pois são 35 países e Portugal ocupa a 14.ª posição, pelo segundo ano consecutivo. Isto tem que ver com a consistência do nosso trabalho e com a ação junto dos doentes”, afirmou Graça Freitas.

A responsável sublinhou que Portugal vem da 20.ª posição e que agora já está à frente de países como Espanha, Reino Unido e Irlanda, mas diz que “o objetivo é melhorar sempre”.

“De facto, melhoramos numa área importante, que é o tempo de espera para serviços de urgência e na intervenção de saúde oral, e melhoramos na atividade física, que era uma área onde tínhamos de fazer algo pois é conhecido que somos dos países mais sedentários”, exemplificou Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde destacou ainda uma área em que Portugal obteve a pontuação máxima, que foi a do diagnóstico da diabetes, “um dos grandes problemas de saúde no país”.

Relativamente aos aspetos negativos, Graça Freitas diz que em muitos casos Portugal foi prejudicado pela falta de dados de boa qualidade, dizendo que há área onde se registaram francas melhorias, como é o caso do item que se refere à sobrevida dos doentes oncológicos.

Portugal com um dos piores desempenhos no acesso a centros de saúde

Portugal teve dos piores desempenhos no ‘ranking’ europeu sobre saúde no que se refere ao acesso aos cuidados primários, avisa a Ordem dos Enfermeiros, alertando que o relatório não exibe os dados positivos que o Governo pretendeu mostrar.

Portugal teve dos piores desempenhos relativamente ao acesso aos cuidados de saúde primários e à marcação de consultas nos centros de saúde”, afirmou a bastonária dos Enfermeiros à agência Lusa a propósito do ‘ranking’ hoje divulgado e que coloca Portugal em 2017 no 14.º lugar em termos europeus, posição igual à de 2016.

Ana Rita Cavaco sublinhou ainda que, apesar de manter a 14.ª posição, Portugal desceu 28 pontos em relação à avaliação feita em 2016.

Para a bastonária, esta descida de pontos significa piores resultados em parâmetros como o acesso aos centros de saúde, o acesso a consultas de especialidade e também o financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O relatório refere que Portugal gastou muito menos em saúde do que qualquer dos outros países. Cá está a questão do subfinanciamento. É referido que registou um severo decréscimo na despesa de saúde e isso faz com que haja pior acesso e também perda em termos de qualidade”, sustentou a bastonária dos Enfermeiros.

Ana Rita Cavaco entende que um 14º lugar “diz muito pouco” aos cidadãos, quando os critérios de acesso mostram que o país “está muito mal”.

“Olhando para este relatório, não é tudo bom como diz o comunicado do Ministério da Saúde. Dentro dos critérios estamos muito mal. Se isto está a acontecer, é a altura de quem está a governar encarar que tem um problema que tem de resolver e não fingir que o problema não existe”, disse.

Para a bastonária, ainda assim este documento europeu não espelha tão bem a realidade dos serviços de saúde portugueses como o relatório do Tribunal de Contas divulgado no ano passado e referente a 2016, que aponta para aumento dos tempos médios de espera para consultas e aumento de utentes em espera para cirurgias.

“A analise feita pelo Tribunal de Contas não é coincidente com este relatório, sendo que o do Tribunal é de facto independente, enquanto este se baseia nos dados fornecidos pelo Governo”, acrescentou Ana Rita Cavaco.

Num comentário feito esta segunda-feira de manhã a este ‘ranking’, a diretora-geral da Saúde tinha manifestado satisfação com a posição de Portugal, sublinhando a melhoria em áreas como a espera nas urgências e a saúde oral.

“De um modo geral, estamos satisfeitos com a posição pois são 35 países e Portugal ocupa a 14.ª posição, pelo segundo ano consecutivo. Isto tem que ver com a consistência do nosso trabalho e com a ação junto dos doentes”, afirmou Graça Freitas.

A responsável sublinhou que Portugal vem da 20.ª posição e que agora já está à frente de países como Espanha, Reino Unido e Irlanda, mas diz que “o objetivo é melhorar sempre”.

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