O consumo de canábis em Portugal agravou-se nos últimos cinco anos, com mais pessoas a consumir e mais consumo diário, revela o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências 2016.
O relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) observa o agravamento do consumo nas mulheres e nos grupos etários 25-34 anos e 35-44 anos.
Entre 2012 e 2016/7 verificou-se um agravamento do consumo de canábis, ao nível das prevalências de consumo recente e das frequências mais intensivas”, refere o relatório do SICAD apresentado hoje na Assembleia da República.
Segundo o documento, há um “maior número de pessoas a consumir e mais com padrões de consumo diário (mais de três quintos dos consumidores recentes)”.
Outras drogas
Em relação à maioria das outras drogas, os consumos mantiveram-se estáveis, tendo mesmo diminuído em alguns casos, salienta.
De acordo com o relatório, Portugal continua a surgir abaixo dos valores médios europeus relativos às prevalências de consumo recente de canábis, cocaína e 'ecstasy', as três substâncias ilícitas com maiores prevalências de consumo recente em Portugal.
Os Açores e a região norte foram as regiões que apresentaram as prevalências mais elevadas de consumo recente e atual de qualquer droga no escalão 15-74 anos, sendo que no escalão 15-34 anos foram também estas regiões, a par da região centro e de Lisboa.
O Alentejo foi a região com as menores prevalências de consumo recente e atual de qualquer drogas nestas faixas etárias, adianta o documento.
Menos acesso ao álcool
O diretor do SICAD, João Goulão, observa, no preâmbulo de apresentação do documento, a “evolução positiva” de alguns indicadores na área do álcool, como a perceção de “menor facilidade de acesso a bebidas alcoólicas” aos menores e o “retardar das idades de início dos consumos em populações jovens”.
Em contrapartida, alguns indicadores apontam para um agravamento dos consumos de risco ou dependência na população geral de 15-74 anos e “outras evoluções negativas preocupantes em alguns subgrupos populacionais”, como nas mulheres e nas faixas etárias mais velhas, sublinha João Goulão.
Na área da droga, destaca a descida dos indicadores relacionados com as infeções por VIH e Sida associadas à toxicodependência e com a mortalidade.
De um modo geral, também foram atingidas as metas definidas para os indicadores relacionados com os consumos dos mais jovens, em particular no que respeita à canábis”, afirma o diretor do SICAD.
Para João Goulão, “estas evoluções colocam grandes desafios para o próximo ciclo de ação”, nomeadamente no âmbito da Rede de Referenciação/Articulação, uma das “medidas estruturantes no domínio da redução da procura, e cuja implementação ficou aquém do desejável no decorrer do ciclo de ação de 2013-2016”.
Tratamentos aumentaram
Já o número de doentes que foram tratados em ambulatório por uso de drogas aumentou em 2016, contrariando a tendência de diminuição que se registava desde 2009.
De acordo com o documento, em 2016 estiveram em tratamento 27.834 utentes com problemas relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública.
Nesse ano iniciaram tratamento mais de 3.000 pessoas, das quase 60% eram novos tratamentos e o restante utentes em readmissão.
Segundo o “Relatório Anual sobre A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências”, apesar de o número de novos utentes ter sido, em 2016, o mais elevado desde 2010, não apresentou variações relevantes no último quadriénio (mais 5% entre 2013 e 2016 e mais 3% entre 2015 e 2016), por comparação aos acréscimos verificados entre 2010 e 2012.
Relativamente a doentes readmitidos em tratamento, registou-se uma redução pelo quarto ano consecutivo, como adianta o relatório elaborado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
O documento sublinha que o número de doentes em readmissão ficou, em 2016, no valor mais baixo desde 2010.
Em 2016, nas redes pública e licenciada, registaram-se 665 internamentos por problemas relacionados com o uso de drogas em Unidades de Desabituação (590 nas públicas e 75 nas licenciadas) e 2.064 em comunidades terapêuticas”, aponta.
Maior problema: heroína
A heroína continua a ser a droga mais referida pelos utentes com problemas de uso de drogas, mas entre os novos utentes em tratamento, foi a canábis que prevaleceu, sendo a droga associada a 54% dos utentes.
No último quadriénio e face ao anterior, verificou-se uma tendência de aumento nas proporções de utentes com a canábis e a cocaína como drogas principais”, lê-se no relatório.
Os indicadores sobre o consumo de droga injetada e partilha de material apontam para reduções destes comportamentos” no mesmo período, acrescenta.
Em relação ao tratamento por problemas com álcool, registaram-se, em 2016, 5.375 episódios de internamentos hospitalares, a maioria dos quais relacionados com doença alcoólica do fígado (65%) e síndrome de dependência alcoólica (21%).
Também neste problema se verificou, no quadriénio 2012-2016, uma diminuição contínua de internamentos (menos 22%), mas só em relação a diagnósticos principais.
Se se considerar diagnósticos secundários relacionados com álcool, o número de internamentos é bastante superior (33.899), “verificando-se neste caso um aumento contínuo ao longo dos últimos anos”, alerta o relatório.
Segundo conclui, estes internamentos por diagnósticos secundários relacionados com consumo de álcool representaram 2,14% do total de internamentos hospitalares em Portugal continental.