O presidente da AMI classificou, esta quarta-feira, de «inoportunas e graves» as declarações do Papa Bento XVI sobre a utilização de preservativos, lamentando que a posição da Igreja Católica continue «completamente desenquadrada» da realidade em África, segundo informações da Lusa.
«Lamento que o Papa tenha feito as declarações inoportunas e graves que fez, onde as fez, tendo em conta que o síndrome da sida afecta sobretudo a África Negra, onde se concentram cerca de 90 por cento dos casos de infecção no Mundo e onde há mais de dez milhões de órfãos devido à pandemia», disse o médico Fernando Nobre.
O fundador e presidente da Fundação AMI (Assistência Médica Internacional) foi uma das várias vozes críticas da sociedade civil em Portugal que reprovaram as declarações proferidas, esta terça-feira, pelo Papa sobre o uso de preservativos, antes de chegar aos Camarões, no âmbito da sua primeira visita ao Continente Africano.
«Bento XVI continua a evidenciar uma atitude e posição extremamente conservadora e desenquadrada das exigências e problemas que a sociedade hoje enfrenta, numa altura em que ainda se está longe de encontrar uma solução para o HIV/Sida», criticou.
No entender de Fernando Nobre, trata-se de «declarações deslocadas» porque «muitos missionários católicos no terreno têm diariamente outra abordagem e sabem que os preservativos são uma arma extremamente eficaz e que não pode ser descartada para conseguir limitar minimamente o flagelo da sida».
Opinião partilhada por Luís Mendão, presidente do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA, que considerou que as declarações «inaceitáveis» do Papa colocam «em risco a vida de milhões de africanos católicos que terão de viver num dilema de seguir as orientações da Igreja e tentar manter-se não infectados».
«Este divórcio absoluto entre a realidade e as posições da Igreja demonstra uma insensibilidade que se aproxima da criminalidade. Esperamos que os católicos que não se revêem nessa posição façam ouvir rapidamente e com força as suas vozes de condenação», frisou Luís Mendão.
Já a presidente da Associação Abraço, Margarida Martins, classificou as declarações de Bento XVI como «angustiantes e intoleráveis nos tempos que correm», sobretudo «quando existem as taxas de infecção no Mundo que existem».
«Não queria acreditar no que estava a ouvir. A abstinência nunca será solução para este flagelo. O Papa tem que repensar a sua posição completamente autista e desajustada da realidade, que vem de 30 ou 40 anos atrás», criticou a responsável.
Fernando Nobre lembrou que os Camarões, tal como o Botswana, o Congo ou Moçambique, têm uma «ordem de infecção no grupo etário dos 15 aos 45 anos que ronda os 15 a 25 por cento», sublinhando que a prevenção do HIV/SIDA deve assentar nos «pilares fundamentais da informação e sensibilização e na distribuição de métodos contraceptivos, como os preservativos».
Quanto a Angola, país de onde é natural e que o Papa visitará sexta-feira, Fernando Nobre disse que os números oficiais de pessoas infectadas estão «muito aquém da realidade», lembrando que o problema se tem «agravado com a vinda de refugiados da Zâmbia ou da República Democrática do Congo».
Críticas às declarações de Bento XVI
- Redação
- TG
- 18 mar 2009, 19:34
Igreja Católica «completamente desenquadrada» da realidade em África, diz o presidente da AMI
Continue a ler esta notícia