Uma viagem à loja das drogas - TVI

Uma viagem à loja das drogas

Carlos Marabuto, proprietário da «Cogumelo Mágico»

Muitos já visitaram a loja que diz vender drogas legais. E até um menor de 16 anos conseguiu comprar substâncias. «Falha humana», admite o proprietário. Há lojistas que apreciam o «corropio». Outros dizem que «é só gente ganzada»

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Os cactos «Peiote» e «São Pedro» «contêm mescalina», uma substância alucionogénia. «Tomar um, dá uma trip de cinco horas. Dois pode dar uma trip de 24». Os clientes da «Cogumelo Mágico» não evitam uma gargalhada. O funcionário Ricardo Marabuto, sobrinho do proprietário, esboça um sorriso e prossegue a visita guiada ao mundo do que a loja chama «drogas legais».

A primeira «smart shop» portuguesa abriu as portas na quinta-feira, em Aveiro, e logo no primeiro dia esgotou a «Algerian Blend», «a mistura mais forte para fumar».

Também há sementes de Yopo, «as pipocas alucinogénias», e as sementes da planta que contêm o LSA «uma droga legal exactamente com o mesmo efeito do LSD» e que pode ser mastigada ou bebida, prossegue o empregado. Utensílios como mortalhas ou balanças também estão à venda.



Todas as drogas exibidas na loja têm o mesmo objectivo: «proporcionar uma viagem mental», mas que varia consoante o tipo de produto consumido: «umas apuram mais os sentidos acústicos, outras o sentido visual». Alguns, «poucos», também têm efeitos afrodisíacos, explica o proprietário, Carlos Marabuto.

João é menor, mas conseguiu comprar

No segundo andar do velhinho Centro Comercial Oita, em pleno centro de Aveiro, encontra-se a «Cogumelo Mágico». Do lado de fora, só os letreiros «Smart Shop», «a tua loja de drogas legais» deixam adivinhar o que pode ser encontrado lá dentro. As montras estão tapadas por um fundo verde fluorescente. Os curiosos precisam mesmo de entrar. . . e entram.

A loja é pequena mas repleta de novidades. Os produtos são todos importados da Holanda. Os preços variam entre os 5,50 euros, da Erva Maria, e os 60 euros do Kit de Cogumelos Mágicos.

João comprou «Erva Maria» para sentir a «trip». Não disse que tinha 16 anos e ninguém lho perguntou, apesar de a loja ter escrito na porta «Proibida a entrada a menores de 18 anos».

Confrontado pelo PortugalDiário com a situação, o proprietário enfurece-se com o empregado. «Já sabes que temos de pedir o BI. Que seja a última vez. Não falta quem nos queira prejudicar. A polícia até pode enviar menores só para ver se vendemos os produtos», atira o proprietário, para logo de seguida acrescentar «que o limite de 18 anos não é imposição legal, mas da casa» já que o consumo é permitido a partir dos 16 anos. Finalmente, olha para a jornalista e assegura: «Foi uma falha humana, não volta a acontecer».

A «curiosidade» levou Pedro, 28 anos, e André, de 25, a visitarem a novidade do momento. Entraram, viram e compraram LSA, não sem antes perguntarem pelas contra-indicações. «Não conduzir, não trabalhar com máquinas...».Um deles assume já ter consumido «drogas leves» e critica quem augura o pior para a loja. «Ainda há pouco me dizia um colega a loja vai fechar amanhã. Logo um colega que bebe álcool, café e fuma tabaco, três drogas lícitas».

Tatiana, uma brasileira radicada em Portugal, ficou espantada com a «ousadia» de um empresário que decidiu «abrir uma loja destas numa cidadezinha pequena e de mentalidade conservadora». Desta vez limitou-se a entrar e olhar. «Já consumi maconha (haxixe) no Brasil. Quem sabe se um dia não compro alguma coisa por aqui», admite.

Só aparece gente dessa... toda ganzada

No interior do Centro, as conversas giram em torno do filho de uma família respeitada de Aveiro que «trouxe estas ideias malucas». «Como é que um filho daqueles pais pode ter saído assim?», interroga-se a funcionária de um café. «É verdade. E o homem é esperto. Fez tudo dentro da lei. Ninguém lhe pode tocar», confirma a cliente. E acrescenta: «vai ser um sucesso». É nessa altura que a empregada a corrige: «Vai ser um sucesso, não. Já é».

O «corropio de gente» agrada à funcionária da boutique feminina. «Quem vai à loja dele também passa pelas nossas». O argumento não convence a funcionária do café. «Mas só aparece gente dessa ¿toda ganzada!!»

Leia a seguir: «PJ investiga Smart Shop»
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