Pingo Doce:  «Uma espécie de maná que caiu do céu» - TVI

Pingo Doce: «Uma espécie de maná que caiu do céu»

Sociólogo analisa o comportamento dos portugueses perante promoção

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Os incidentes registados terça-feira nos supermercados Pingo Doce ilustram o nível de «tolerância zero» a que está a chegar a sociedade portuguesa e uma concorrência que será «cada vez mais desenfreada», considera o sociólogo Albertino Gonçalves.

«Vamos ter este tipo de concorrência cada vez mais desenfreada entre as grandes empresas e este tipo de jogada cada vez mais», disse à agência Lusa o especialista, da Universidade do Minho, a propósito da campanha lançada no 1.º de maio, em que aos consumidores do Pingo Doce receberam 50 por cento de desconto na caixa de pagamento em compras superiores a cem euros.

Para o sociólogo, a estratégia do grupo comercial foi «muito inteligente» e o dia bem escolhido: «As pessoas perceberam o que podiam lucrar e ficou claro que lucraram 50 por cento».

«A maneira como foi feito foi como uma grande oportunidade a não perder», sublinhou Albertino Gonçalves, para quem se juntou o facto de há muitos meses os portugueses verem «o dinheirinho a encolher», a poderem comprar cada vez menos.

«Esta foi uma das primeiras grandes oportunidades em que o dinheiro deles engordou», observou.

No dia-a-dia, o aumento dos preços e das taxas, a redução dos salários e a eliminação de subsídios faz com que o dinheiro «quase desapareça», sublinhou. «Esta foi uma oportunidade do contrário. Aparece como uma espécie de maná que cai do céu», exemplificou.

Em todo o país houve registo de incidentes nas lojas da cadeia de supermercados. Só nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto a polícia registou 40 ocorrências.

«Nos filmes, quando alguém atira dinheiro pela janela, todos correm e atropelam-se para o agarrar», vincou o sociólogo.

Na análise do sociólogo, juntaram-se todos os fatores propiciadores de desordem: uma grande excitação, a tensão do espaço reduzido para circular, o recalcamento da agressividade e o egocentrismo característico ao sujeito quando faz compras numa grande superfície.

«Quando alguém faz compras num hipermercado, torna-se egocêntrico, vai com o seu carrinho fazendo as suas compras e com quanto menos pessoas tiver de contactar melhor. Todos os que lhe aparecem pela frente e não o deixam passar são um estorvo», explicou.

O sociólogo lamentou também que estes episódios representem «o nível de tolerância zero» a que está a chegar a sociedade portuguesa: «Estamos a tolerar cada vez menos as adversidades, sobretudo quando vêm do outro».
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