«Uma vez terminado o banquete, foi permitido a todos que se deslocassem, um a um, à ala norte do palácio, onde poderiam por fim cumprimentar a Rainha Luz e contemplar a tão desejada princesa.
Todos os convidados esperavam aquele momento. (…) Mas quando se aproximavam do berço da princesa, a sua expressão alterava-se (…)
-A princesa Clara é Azul.
(…)
-Que desgraça», escreve Filipa Sáragga a páginas tantas no livro.
Assim começa a trama do livro da «Princesa Azul». A história foi imaginada por Filipa Sáragga numa viagem de verão a caminho do Alentejo.
«Comecei a pensar em todas as crianças que nascem com uma doença ou que são mais sozinhas» simplesmente, ou «pessoas que não se regem segundo os parâmetros de uma sociedade. Diferentes», explica Filipa Sáragga à TVI24. A autora fez, então, uma viagem no tempo, até à sua infância e às histórias de princesas felizes porque encontravam o príncipe. «E se não conseguem ver o príncipe?»
Esta é «a história de uma menina diferente, como são diferentes todas as meninas, cada uma à sua maneira».
José Alberto Carvalho ficou sensibilizado com esta história que mostra como enfrentar o mundo, mesmo quando este mete medo.
«Toda a felicidade tem um caminho e que só pode ser cada um de nós a percorrê-lo (...) o mundo pode ser um lugar melhor», é a mensagem que o jornalista da TVI deixa a todos.
«Quis criar uma história sem ter um príncipe, porque ele está dentro de nós». Ou seja, as pessoas «estão apenas dependentes delas mesmas», por isso, «mesmo que nos sintamos azuis, depende de nós» mudar, conclui a autora.
Como escreve Filipa Sáragga: «Aquilo que procuras está dentro de ti». E são muitos aqueles que partilham da visão de Filipa e quiseram colaborar com a autora neste projeto. O livro vem acompanhado de um CD produzido por Tó Zé Brito e José Cid, bem como dos prefácios do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, e do pedopsiquiatra, Nuno Lobo Antunes.
Também Jessica Athayde participa no vídeo, a atriz que foi discriminada e alvo de uma polémica, nos últimos tempos, por causa das formas do seu corpo.
«Nunca conheci nenhuma rosa mais bela do que tu. Agora entendo porque és tão bonita. Escondes o amor», pode ler-se numa passagem do livro.
«Dedico este livro a todas as pessoas azuis. Aos adultos e às crianças azuis. A todos aqueles que de alguma forma são considerados ‘diferentes’.
Esta história mostra que a diferença reside apenas no olhar, pois naquilo que de mais valioso existe na humanidade não existem diferenças.
O amor é um só e tem uma única forma e uma única cor», explica Filipa Sáragga no final.
Filipa Sáragga garante que a história da Clara «não é autobiográfica», mas isso não impede que «todos nós, a dada altura, nos tenhamos sentido azuis».
Filipa Sáragga é uma jovem artista plástica portuguesa que ajuda os outros através do seu processo criativo. Mas nem sempre foi assim que pensou o seu futuro. Formada em Belas Artes, «sempre teve ambições profissionais», de ser reconhecida e expor lá fora, até que um acontecimento na sua vida a fez mudar de rumo. «Há uns anos, numa situação pessoal, cruzei-me com pessoas que sofrem, em fase terminal». E, «literalmente encontrei-me num cruzamento»: se fizesse «pisca para a esquerda» dava continuidade às ambições profissionais», mas, ao fazer «pisca para a direita, encontrei nos gestos mais simples a minha verdadeira felicidade». Foi o «sinal interior» que precisava para decidir o que fazer da sua vida.
«A Princesa Azul e a Felicidade Escondida» é o terceiro projeto solidário e será apresentado na próxima segunda-feira por Marcelo Rebelo de Sousa. Nos dois livros anteriores - «Talvez um Anjo» (autoria e ilustrações) e «O Touro e a Bailarina» (ilustrações)-, o produto das vendas também reverteu para causas de solidariedade.