Ameaças de morte e racismo contra ciganos em Moura - TVI

Ameaças de morte e racismo contra ciganos em Moura

SOS Racismo denuncia frases nas paredes, caixões colocados à porta, cavalo envenenado, igreja incendiada, casas queimadas, carros a arder e bombas lançadas para os quintais das casas. Alto Comissariado para as Migrações apresentou queixa ao Ministério Público

A comunidade cigana de Santo Aleixo da Restauração, no concelho de Moura, está a ser alvo de ameaças de morte pintadas em paredes da povoação. Em Setembro de 2016 a mesma comunidade já tinha sido alvo de ataques incendiários, que não pouparam casas, viaturas automóveis e até o edifício da igreja onde as famílias realizavam o culto religioso. A denúncia é da Organização Não Governamental (ONG) SOS Racismo, que aponta “situações que mais lembram a atuação do Ku Klux Klan de meados do século passado”.

Em causa estão “ameaças de morte pintadas por toda a povoação nos últimos dias, bombas lançadas para os quintais das casas da comunidade cigana, que dão credibilidade às próprias ameaças”, refere a ONG em comunicado.

Também em comunicado, o Alto Comissariado para as Migrações anunciou esta quarta-feira que apresentou queixa-crime ao Ministério Público na segunda-feira. A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que funciona junto do Alto Comissariado, considerou “haver indícios da prática do crime de discriminação racial em razão da etnia.”

Esta não é a primeira vez que a comunidade cigana é vítima de tal perseguição. Os ataques começaram em setembro do ano passado. Altura em que colocaram caixões à porta das habitações, envenenaram um cavalo daquela comunidade, incendiaram a igreja, assim como algumas casas e carros.

A SOS Racismo lembra que “algumas destas situações já vieram a lume” na comunicação social no final de 2016. Alguns responsáveis políticos já por lá passaram (Alto Comissário) sem se dignar a falar com as vítimas destes atos de pura barbárie cujo objetivo é causar o medo, tentar que abandonem a aldeia, ou mesmo expulsar a comunidade cigana da zona”.

De acordo com o SOS Racismo, “estas situações, agravadas com a atuação intimidatória da GNR, têm, de facto, levado a que algumas pessoas estejam a dormir fora da povoação, nomeadamente uma, que é invisual, pois uma das casas incendiadas foi a sua”.

No documento lê-se que “o SOS Racismo, que já tinha tomado conhecimento de algumas destas situações, ficou à espera que as autoridades atuassem, tendo em conta que eram do conhecimento das instituições”.

A ONG sublinha que “a sanha incendiária racista e xenófoba parou com as deslocações, com as visitas que o SOS Racismo foi fazendo”. Mas agora, a violência intensificou-se.

“As ameaças que aparecem escritas um pouco por toda a povoação, cemitério incluído, são reforçadas pelo rebentamento de bombas nos quintais dos elementos da comunidade cigana, talvez encorajados pela ausência de medidas das instituições, pela inoperância das autoridades policiais, pela impunidade das práticas racistas e xenófobas. E isto, apesar de o presidente da Câmara ter afirmado que o assunto se estava a resolver com o reforço do policiamento…”, lamenta a SOS Racismo.

A organização defende que “as autoridades não podem continuar a olhar para o lado sem fazer nada, contribuindo para agravar o risco em que a comunidade cigana se encontra.”

“Basta ver as fotografias para perceber o terror que se quer instalar nesta comunidade. E criminosos não são apenas aqueles que estão tranquilamente a praticar estes atos hediondos”, realça a organização.

Compete ao estado de direito, defender que todas as pessoas se sintam seguras na sua terra, nas suas casas”, acrescenta.

“A população cigana está em risco, a viver momentos de terror. A inoperância não pode persistir. É altura de o governo, o Alto-comissário tomar medidas para que nada de grave venha a acontecer. É altura destes crimes serem punidos”, remata a SOS Racismo.

 

Continue a ler esta notícia