Peixes são maiores acumuladores de dioxinas - TVI

Peixes são maiores acumuladores de dioxinas

Tejo (arquivo)

Resultado é de um trabalho de investigadores portugueses

Uma investigação pioneira a nível internacional realizada por portugueses conclui que há bio-acumulação de dioxinas na cadeia alimentar dos estuários e que são os peixes as espécies com maiores níveis de concentração, noticia a Lusa.

O estudo foi desenvolvido ao longo dos últimos dois anos no Estuário do Mondego, por investigadores dos Centros de Estudos Farmacêuticos (CEF) e de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra (UC), em colaboração com o laboratório de investigação LABERCA, dependente do Ministério da Alimentação, Agricultura e Pesca Francês, foi hoje anunciado.

Pela primeira vez, foi possível determinar o teor de dioxinas presente na cadeia trófica (alimentar) estuarina e «criar valores de referência para avaliar, a partir dos dados obtidos no Estuário do Mondego, a contaminação de qualquer estuário do planeta», disse hoje à Lusa Miguel Pardal, perito em ecologia marinha e envolvido no projecto, sublinhando que, «até à actualidade, não havia estudo sobre o que se passava ao longo das várias espécies, sobretudo as que interessam mais, que fazem parte da alimentação humana».

«Provámos que este composto, as dioxinas, ocorre por bioacumulação e, pior, são os peixes (exemplo do linguado, robalo e enguia) as espécies com maior concentração e sobretudo os que vivem mais tempo», frisou o investigador.

Miguel Pardal refere que «mesmo havendo uma concentração de dioxinas muito baixa no ambiente o resultado são valores razoáveis de concentração nos peixes», o que, na sua opinião, «pode forçar a repensar os valores de referência para os vários elos da cadeia, ou seja, os valores actualmente considerados aceitáveis no ambiente».

«Significa que não se pode estabelecer (como hoje acontece) um limite (de valores não prejudiciais) para o pescado (em geral), porque isso vai depender do tipo de pescado e do estuário onde ele viveu», afirmou à Lusa Fernando Ramos, especialista em ciências farmacêuticas e segurança alimentar e que também esteve envolvido na investigação.

«Podemos comer qualquer coisa com uma bactéria e temos uma diarreia, um efeito agudo, mas com as dioxinas isso não acontece, vão-se acumulando, daí que tenhamos hoje muito mais cancros», explicou Fernando Ramos.

Segundo o estudo, o Estuário do Mondego é «dos menos poluídos da Europa» no que toca a dioxinas e «um estuário que esteja acima dos valores apurados neste, não só constitui risco para a saúde pública e para a economia, como também representa uma forte ameaça aos ecossistemas».

Dentro de seis meses, segundo Miguel Pardal, deverá estar concluída a avaliação do teor das dioxinas nos restantes estuários portugueses.

Para determinar os níveis de dioxinas na cadeia e a sua bioacumulação foram recolhidas amostras do sedimento, plantas e organismos representativos da cadeia alimentar, particularmente as espécies mais abundantes e importantes para o ser humano e para a economia, nomeadamente ameijoa, berbigão, camarão, robalo, linguado e enguia.
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