Hospitais e centros de saúde do Norte não querem tratar toxicodependentes - TVI

Hospitais e centros de saúde do Norte não querem tratar toxicodependentes

  • LCM
  • 24 abr 2018, 21:29
Traficantes e toxicodependentes são perseguidos e mortos se resistirem à polícia

Acusação é feita por Adelino Vale Ferreira, coordenador regional demissionário da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências

Os hospitais e as estruturas de cuidados de saúde primários não querem tratar doentes toxicodependentes e com adições, denunciou hoje o coordenador regional demissionário da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD) do Norte.

“Com a extinção do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), as unidades deviam ser integradas nos cuidados de saúde primários, mas tal não se veio a verificar por incapacidade quer hospitalar quer de cuidados de saúde primários, que nos dizem informalmente que não querer tratar os nossos [do DICAD] doentes, mas formalmente não o assumem”, afirmou no parlamento Adelino Vale Ferreira, coordenador regional demissionário da DICAD.

Adelino Vale Ferreira era o diretor do IDT do Norte em 2012, quando a estrutura foi extinta, e manteve-se como coordenador regional da DICAD até novembro de 2017, altura em que apresentou a sua demissão numa carta à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, que tutela a DICAD.

No âmbito de uma audição pública a um conjunto de entidades na Comissão de Saúde, requerida pelo BE e PCP, sobre a estratégia de redução de riscos e minimização de danos e sobre os problemas inerentes à atual estrutura orgânica de prevenção, tratamento e redução de riscos associados a dependências, Adelino Vale Ferreira disse que, apesar de extinto o IDT, “continuam a utilizar a estrutura que existia”.

“Continuamos a funcionar com a nossa boa vontade, utilizando a estrutura informal que existia no IDT. As pessoas estão esgotadas, num sofrimento muito grande. Eu diria que a primeira medida que é preciso tomar é tirar os profissionais deste sofrimento”, alertou.

A deputada do PCP Carla Dias questionou as entidades presentes na comissão parlamentar sobre a “falta de profissionais” e a “dificuldade de operacionalização” que existe atualmente na resposta pública na área da toxicodependência, comportamentos aditivos e dependências.

De acordo com o, ainda, responsável pelo DICAD do Norte está a ser “estudo o fecho de unidades” devido à “falta de profissionais”.

Também o coordenador do Centro de Respostas Integradas (CRI) do Porto Oriental, Jorge Barbosa, falou de “incapacidade” e “falta de motivação”.

“O nosso coordenador regional já falou na hipótese de encerrarmos serviços. No meu CRI estou a pensar encerrar um serviço por falta de recursos, porque não temos capacidade de resposta”, afirmou.

O deputado do PSD Cristóvão Simão Ribeiro destacou a “total abertura” do partido para “reavaliar e repensar a estratégia”.

“Não descartando a responsabilidade política que todos nos temos naquilo que é a estratégia de combate à toxicodependência, vão esperar quantos anos mais para decidir? Da nossa parte tem a total abertura e compromisso”, afirmou o social-democrata.

O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) manteve as competências de planeamento e estratégia de prevenção, mas o tratamento e prestação de cuidados a toxicodependentes e alcoólicos passaram para a alçada das cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS), onde se inserem as DICAD e os CRI.

Elementos das estruturas do Norte que tutelam o tratamento das dependências exigem sair

Os coordenadores da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD) da região Norte disseram hoje no parlamento ser “impossível qualificar” a situação em que estão, exigindo “ir embora”.

O coordenador regional demissionário da DICAD, Adelino Vale Ferreira, falava no âmbito de uma audição pública a um conjunto de entidades na Comissão de Saúde, requerida pelo BE e PCP, sobre a estratégia de redução de riscos e minimização de danos e sobre os problemas inerentes à atual estrutura orgânica de prevenção, tratamento e redução de riscos associados a dependências.

“Por favor tirem-nos daqui e deixem-nos ir embora. Eu estou demissionário desde outubro e ainda não fui substituído. Por compromisso para com os doentes e com o Estado tenho-me mantido e estou disponível para colaborar e trabalhar, mas sinto-me como os lixeiros dos anos 80 e 90, como tratamos o lixo social. O ser humano pode viver sem muita coisa, mas sem dignidade ninguém vive. Estamos a falar na dignidade dos utentes e dos profissionais”, denunciou.

O coordenador disse ser “extremamente importante que este ciclo termine”, que haja uma decisão rápida e não se criem situações em que “os serviços se percam irremediavelmente ou aconteça um problema”.

O coordenador do Centro de Respostas Integradas (CRI) do Porto Oriental, Jorge Barbosa, falou da necessidade de “um novo plano estratégico”.

“Não conseguimos caminhar mais, necessitamos de um novo plano estratégico na intervenção dos comportamentos aditivos e dependências que seja capaz de responder às atuais necessidades, que são muitas”, afirmou.

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