"Se não pagasse a encomenda de droga, matavam-me" - TVI

"Se não pagasse a encomenda de droga, matavam-me"

  • 14 jan 2019, 16:09

Dois arguidos que estão presos confirmaram, em tribunal, a existência de uma rede de tráfico de droga na cadeia de Coimbra

Dois arguidos que estão presos confirmaram esta segunda-feira, em tribunal, a tese do Ministério Público da existência de uma rede de tráfico de droga na Prisão de Coimbra. Relataram também casos de ameaças por parte do grupo.

O Tribunal de Coimbra começou a julgar hoje de manhã 28 arguidos acusados de tráfico de droga dentro da prisão daquela cidade. O julgamento está a decorrer sob fortes medidas de segurança, uma vez que há arguidos considerados violentos (veja no vídeo, em cima).

No total, há 28 arguidos. A rede tentacular terá lucrado 21 mil euros, em apenas ano e meio de atividade.

No arranque do julgamento, dois arguidos confirmaram a tese do Ministério Público, que relatava na acusação que o grupo tinha "um caráter organizado e tentacular", envolvendo arguidos reclusos e não reclusos, sob a liderança de três homens tidos como altamente violentos, sendo até temidos por alguns guardas prisionais.

Britânico entre os líderes da rede

Entre os líderes da rede estará o britânico Steven Johnson, de 54 anos, que tinha sido condenado em 2013 à pena máxima (25 anos), enquanto líder de um grupo que sequestrou e torturou um cidadão escocês no Algarve, em 2010 (o arguido está, de momento, a cumprir pena no Reino Unido).

O primeiro a depor, sem a presença dos restantes arguidos na sala de audiências, confirmou que participava na base da cadeia do tráfico, aproveitando o facto de estar em regime aberto para receber doses de haxixe para introduzir no Estabelecimento Prisional (EP) de Coimbra, salientando que, só de uma vez, conseguiu colocar cerca de "60 bolotas" de haxixe dentro da cadeia.

O arguido afirmou que não ganhava nada com o esquema, tendo optado por participar no esquema para garantir que saldava as dívidas do seu irmão e que não lhe fariam "mal".

Questionado pelo juiz do coletivo, João Ferreira, o recluso explicou que tinha conhecimento que parte da droga tinha como destino final um dos alegados líderes do grupo, conhecido pela alcunha "Sabat", sendo que os intermediários ficariam com parte da droga introduzida.

Mesmo estando na secção de segurança do EP de Paços de Ferreira, relatou que continua a receber ameaças, tendo sido sugerido aos seus pais que o arguido não estivesse presente no julgamento.

A minha vida já não me diz nada", desabafou o jovem de 32 anos.

De seguida, um recluso de 26 anos, também arguido no processo, contou ao coletivo que era consumidor e que, para fazer um favor a um arguido que estava encarregue de recolher a droga arremessada de fora da prisão, acabou envolvido numa situação de ameaças, após o desaparecimento de uma encomenda.

Esse recluso e outros dois, relatou, terão sido vítimas de ameaças e agressões por parte da rede de tráfico, tendo participado nessas agressões dois dos três alegados líderes, Sabat e Fábio, jovem do Algarve que já andou fugido à polícia por um esquema de tráfico de droga noutra cadeia.

Disseram que as coisas [encomenda de droga] tinham que aparecer, que tinha que pagar. Se não pagasse, matavam-me".

O arguido contou ainda que, na Prisão de Coimbra, "toda a população sabe" quem é que vende droga e que um dos arguidos envolvidos neste processo continua a vender estupefacientes naquele estabelecimento.

Apesar de referir que está em regime de proteção e de se sentir seguro, contou que um dos alegados líderes da rede, Fábio, tê-lo-á ameaçado, tendo dito que não seria "muito difícil encontrar" a sua mãe.

A rede de tráfico, segundo o Ministério Público (MP), terá funcionado, pelo menos, entre janeiro de 2016 e julho de 2017, com o propósito de introduzir droga no Estabelecimento Prisional (EP) de Coimbra, especialmente haxixe.

De acordo com a acusação a que a agência Lusa teve acesso, os três reclusos terão decidido "organizar e liderar um grupo com o propósito de introduzir e distribuir elevadas quantidades" de droga para venda "a um número elevado de reclusos".

Na base da rede estavam arguidos que, por vezes sob ameaças, guardavam a droga nas suas celas ou no próprio corpo ou tinham como missão recolher droga arremessada do exterior, sendo que um deles, face às pressões da rede, terá acabado por se suicidar já depois de mudar para outra prisão.

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