O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), através do seu Centro de Trauma Psicogénico e da Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos, "está disponível para ser o centro de apoio ao trauma psicogénico a nível nacional" para os refugiados e para as migrações que, neste momento, constituem uma preocupação da sociedade", disse José Martins Nunes.
"Nós estamos preparados para centralizar e concentrar o conhecimento nesta matéria [traumatismo psicológico] e disponibilizá-lo pelo país", afirmou José Martins Nunes, quando questionado pelos jornalistas, à margem da cerimónia da comemoração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, que é celebrado anualmente a 10 de dezembro e que decorre durante o dia de hoje no auditório do hospital, como reporta a Lusa.
O objetivo é disponibilizar o serviço juntamente com os parceiros da Agência para a Prevenção do Trauma e da Violação dos Direitos Humanos, criada em 2014, e que envolve dezenas de instituições das mais diversas áreas, desde a saúde às forças de segurança, da segurança social à proteção civil ou aos bombeiros.
O CHUC está-se a preparar "para um novo e importante desafio: o apoio aos inevitáveis traumas psicológicos resultantes da fuga à guerra, à fome, à intolerância e à perseguição", sublinhou Martins Nunes.
"Neste novo quadro em que a Europa está mergulhada", o hospital, vincou, posiciona-se "com ambição e disponibilidade para ser um hospital ao serviço destes novos problemas, destas novas vulnerabilidades que homens, mulheres e crianças enfrentam".
Na cerimónia de comemoração do Dia Internacional dos Direitos Humanos no CHUC, esteve também o promotor da Plataforma de Apoio aos Refugiados, Rui Marques, que disse à agência Lusa que o sinal dado pelo hospital - a disponibilidade para apoiar na área do trauma - é mais uma demonstração de "como a sociedade portuguesa se está a preparar".
No entanto, os refugiados "demoram a chegar".
Rui Marques aproveitou a ocasião para sublinhar que "é completamente falso que os refugiados não queiram vir para Portugal".
Um exemplo antigo, para dar o exemplo hoje
Fini Gradischnig, uma das crianças austríacas que foram acolhidas por portugueses no pós-2.ª Guerra Mundial, diz ser "triste" ver uma Europa de portas fechadas e apela a uma maior abertura, não só das fronteiras, mas também das mentes.
"Quero pedir ao meu Senhor que dê uma abertura às pessoas para receberem estas crianças e que elas possam ter o futuro que merecem", apelou em Coimbra Fini Gradischnig, que, em 1949, com apenas oito anos, foi acolhida por uma família portuguesa, em Lagoa, abandonando o cenário de pós-guerra, a fome e o frio.
Olhar para os refugiados nas fronteiras, a tentar entrar na Europa, é uma experiência que chega a ser insuportável para Fini Gradischnig, que tem por vezes de desligar a televisão, porque sabe "muito bem como é que essas crianças sofrem".
Para a austríaca, nascida em 1941, alguns "europeus não estão abertos" ao acolhimento de refugiados. O medo existe, sublinha, porque "as pessoas não são preparadas. Nem cá [Portugal], nem na Áustria, nem na Alemanha".
"Esta desgraça já tem tantos anos e [os políticos] demoraram muito tempo. Deviam ter-se preparado para o que acontece hoje", defendeu a austríaca a viver em Portugal.
Aquando da sua vinda para Portugal, no pós-guerra, as crianças foram convidadas e, por isso, não encontra qualquer paralelo com a situação atual. "Agora, os refugiados não são muito convidados. Nós fomos recebidos com todo o amor e carinho. Hoje, os refugiados, coitados, vêm, mas não sabem para onde vêm e onde ficam".
"Nós tínhamos um lugar certo e éramos bem-vindos. Hoje, muitas vezes, não são muito bem-vindos", realçou e deixou uma mensagem: "um refugiado é um refugiado. Se é da Síria ou de outro sítio qualquer, se tem esta ou outra religião, a desgraça é só uma".