Nasceu a comissão da «Pouca vergonha»

O movimento contra a transformação do Tribunal da Boa-Hora em hotel decidiu constituir uma comissão chamada «Pouca Vergonha» para continuar a lutar pela manutenção do edifício na alçada da Justiça, utilizando uma expressão de Mário Soares, escreve a Lusa.

«A comissão chamar-se-á "Pouca Vergonha"», revelou esta quarta-feira à agência Lusa o presidente da Associação Juízes Pela Cidadania (AJPC), Rui Rangel, que terça-feira promoveu uma reunião com outras entidades para criar a organização que desencadeará várias acções em defesa da Boa-Hora.

Entre as iniciativas previstas estão pedidos de audiência aos candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, aos grupos parlamentares e ao Governo, tendo a primeira decorrido terça-feira com o ministro da Justiça, Alberto Costa, e o secretário de Estado Conde Rodrigues.

Memória histórica

De acordo com Rui Rangel, o ministro manifestou preocupação com a preservação da memória histórica, nomeadamente com uma sala, mas remeteu para o Ministério das Finanças a responsabilidade sobre o destino do edifício.

«Sem prejuízo de novas audiências, os juízes foram dar conta do desagrado da mudança e por outro lado que não seja para um hotel de charme. Os juízes não querem sair, mas a saírem que o edifício não saia da alçada da Justiça», especificou.

A comissão está ainda a ser formada, mas o objectivo é sensibilizar personalidades que se identifiquem com esta causa, juízes, advogados, comerciantes da baixa, representantes da Amnistia Internacional, de associações de presos políticos e de países de expressão portuguesa.

165 anos de história

Para Rui Rangel está em causa «uma História de 165 anos de Justiça». «Se há um bom edifício para se fazer a memória da Justiça é o Tribunal da Boa-Hora», considerou, recordando que as memórias não se limitam ao Tribunal Plenário da ditadura, já que o processo do regicídio também passou por ali.

A transformação do edifício da Boa-Hora em hotel está prevista no plano da Sociedade Frente Tejo para a Frente Ribeirinha. A ideia foi classificada pelo ex-Presidente da República, Mário Soares, como «uma pouca vergonha».