Os cristãos católicos iniciam, esta quinta-feira, os quatros dias mais importantes da Páscoa, a festa em que celebram a ressurreição de Jesus Cristo. Oficialmente, as cerimónias começaram no domingo passado, com o chamado domingo de Ramos, que abriu a Semana Santa, mas os momentos mais altos são a Quinta-Feira Santa, a Sexta-Feira Santa e a Vigília Pascal, que culmina no Domingo de Páscoa. Estes dias constituem aquilo a que os católicos chamam o Tríduo Pascal.
Se tem curiosidade sobre o que um católico deve fazer nestes dias, aqui ficam algumas dicas.
Quinta-feira Santa
De manhã, celebra-se a Missa Crismal, durante a qual o bispo da diocese abençoa os óleos que serão usados ao longo do ano nos batismos, crismas e outros sacramentos.
Ao fim da tarde ou à noite, celebra-se a Ceia do Senhor, missa solene em que se lembram os gestos de Jesus Cristo durante a Última Ceia, no Cenáculo, em Jerusalém, e que inclui o tradicional Lava-Pés. Nesta missa da Ceia do Senhor, os católicos comemoram a primeira missa - a que foi celebrada por Jesus Cristo - e o padre lava os pés a 12 fiéis, para relembrar o gesto de Jesus Cristo que lavou os pés aos 12 apóstolos.
No final da missa, dentro da igreja, faz-se a chamada Procissão da Trasladação do Santíssimo Sacramento, sendo que alguns crentes ficam em vigília até à meia-noite, para relembrar os sofrimentos de Jesus Cristo, que tiveram início nessa noite.
Sexta-feira Santa
É quando a Igreja recorda o sofrimento e a morte de Jesus Cristo. A crucificação ou execução na cruz, determinada pelo governador da província romana da Judeia, Pôncio Pilatos, é um facto histórico, comprovado por historiadores e especialistas não cristãos, que ocorreu no ano 33 d.C. no lugar do Calvário ou Gólgota, uma colina que ficava fora da cidade de Jerusalém.
A Igreja propõe que o silêncio e a oração devem marcar este dia na vida dos católicos. É um dos dois dias do ano (o outro é o de Quarta-feira de Cinzas) em que a Igreja define jejum e abstinência obrigatórios. Isto significa fazer apenas uma refeição completa durante o dia, simples e sem carne, e caso haja necessidade, fazer duas outras pequenas refeições, sem requintes e com menor quantidade. Além das refeições habituais, estão também excluídos os cafézinhos, os doces e tudo o que normalmente se consome extra-refeições... nem que seja um rebuçado.
Às 15:00, a hora em que, de acordo com o Novo Testamento da Bíblia, Jesus Cristo morreu crucificado, é celebrada a principal cerimónia do dia: a Paixão do Senhor.
À noite, há a Via Sacra, uma prática que surgiu em Jerusalém, quando os fiéis seguiam os passos de Cristo quando carregou a cruz até ao Calvário e que, na atualidade, é uma tradição que junta centenas de pessoas, não só católicas, em muitas localidades. É composta por 14 estações (ou passos), que correspondem aos 14 momentos marcantes do trajeto de Jesus, que os fiéis percorrem com orações próprias.
Sábado Santo ou de Aleluia
É o dia da espera. Os cristãos, junto ao sepulcro de Jesus Cristo, aguardaram a sua ressurreição.
À noite, há a Vigília Pascal, em que já se celebra a ressurreição de Jesus Cristo, que, de acordo com o Novo Testamento, aconteceu na noite de sábado para domingo. Ao contrário do que se poderia pensar, a celebração da noite de Páscoa, e não a de Natal, é a mais importante na Igreja Católica.
Domingo de Páscoa
O dia de Páscoa marca o que os cristãos acreditam ter sido a ressurreição de Jesus Cristo, em que, de acordo com os quatro Evangelhos do Novo Testamento, Maria Madalena e outras mulheres encontraram o túmulo vazio. São celebradas missas festivas durante todo o dia.
O nome Páscoa vem do hebraico “pessach”, que significa “passagem”. Na liturgia judaica é o nome da festa anual que comemora a travessia do Mar Vermelho, quando Moisés libertou o povo hebreu depois de séculos de escravidão no Egito, muitos anos antes de Cristo. Embora com calendários e origens diferentes, as cerimónias judaicas do Pessach e a Páscoa cristã têm significados comuns, sobretudo por celebrarem ambas uma passagem para a liberdade. Para os judeus significa a passagem da condição de escravos para a liberdade, em busca da Terra Prometida. Para os cristãos é a passagem de Jesus da morte para a vida, trazendo salvação para todos os que crêem nele.
O domingo da Ressurreição não marca o fim, mas sim o início do tempo da Páscoa, que se estende por um período de 50 dias até ao domingo de Pentecostes. É o último dia do tempo pascal, em que os cristãos comemoram o que, de acordo com o Novo Testamento, é a “descida do Espírito Santo” sobre os apóstolos de Jesus Cristo e sobre Maria, a sua mãe.
Ovos, coelhos, amêndoas e folar da Páscoa
A Páscoa celebra-se sempre no início da primavera, que, para os povos primitivos, era também um tempo de passagem, de mudança de ciclo, de renovação, em que a natureza, morta pelos rigores do inverno, se tornava verdejante, cheia de vida, e em que os animais reapareciam.
A comemoração foi adaptada pelo cristianismo para relembrar a ressurreição de Cristo, que também representa a renovação da vida. O cristianismo foi utilizando a mitologia pagã para se explicar a si mesmo e conquistar espaço”, refere à TVI24 o teólogo Henrique Pinto.
Os ovos eram algo que chamava muito a atenção dos homens nos séculos anteriores a Cristo por parecem ser objetos inanimados ou mortos, mas deles proceder um ser vivo. Por isso, eram tidos como símbolo de vida e de fertilidade.
Esta simbologia passou para os cristãos, para quem “o ovo é uma espécie de túmulo fechado de onde irrompe uma figura viva, um pintainho”, diz ainda Henrique Pinto. “Os discípulos de Cristo passaram a ver nos ovos a figura do sepulcro do qual ressuscitou o Salvador, que abriu o túmulo, vencendo a morte e restaurando a posse da vida eterna para a humanidade”.
Por isso, é que no Ocidente, há o costume dos ovos e coelhos de chocolate e das amêndoas da Páscoa em forma de ovo. Em Portugal, há também a tradição do folar que pode ser ornamentado com ovos no exterior ou tem ovos no interior, sobretudo na zona do Barrocal, e também os bolos feitos com muitos ovos, que se encontram por todo o país. Todos têm o mesmo sentido simbólico.
Já o coelho é símbolo de fecundidade, porque este animal se reproduz rapidamente e em grandes ninhadas.
Da mesma forma, a Igreja, pelo poder de Cristo, é fecunda na sua missão de propagar a palavra de Deus a todos os povos”, refere Henrique Pinto.
Por que não se pode comer carne
Antes de chegarem a uma mesa farta no domingo de Páscoa, os cristãos passaram por um período de 40 dias de jejum, oração e caridade chamado Quaresma. Essa preparação para a Páscoa existe desde o tempo dos apóstolos, que limitaram a duração a 40 dias, em memória do jejum de Jesus Cristo no deserto.
A Quaresma teve início no dia de Quarta-feira de Cinzas, que coincide com o dia seguinte à terça-feira de Carnaval, e termina no quinto dia da Semana Santa.
Durante o tempo da Quaresma, a Igreja recomendou o jejum (privação moderada de alimentos), a oração (diálogo com Deus) e a partilha (esmola). Ou seja, os católicos foram convidados a privar-se de algumas coisas materiais, repartindo os bens com os outros, sobretudo os mais pobres.
A regra de se abster de comer carne inclui-se nesta privação e vem de um tempo em que era um alimento de luxo, apenas acessível aos mais ricos.
O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela Igreja como uma forma de educação no sentido de levar uma vida de simplicidade, de se privar de algo e revertê-lo em serviços de amor, em práticas de caridade”, explica à TVI24 o padre Feytor Pinto, pároco da Igreja do Campo Grande, em Lisboa.
De acordo com a Igreja Católica, devem jejuar todas as pessoas que tenham entre 18 e 59 anos. Grávidas, pessoas doentes ou que tenham de realizar um trabalho muito exigente nos dias do jejum são dispensados de o fazer.
Fazer jejum significa que, nesse dia, se faz apenas uma refeição completa, simples, sem carne. Podem tomar-se mais duas pequenas refeições.
Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa.
Todas as sextas-feiras da Quaresma são dias de abstinência, isto é, nos quais não se pode comer carne.