Publicada primeira edição crítica de «Livro do Desasocego» - TVI

Publicada primeira edição crítica de «Livro do Desasocego»

Fernando Pessoa

Trabalho surge 75 anos depois da morte de Fernando Pessoa

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Setenta e cinco anos depois da morte de Fernando Pessoa, é publicada a primeira edição crítica do «Livro do Desasocego», da responsabilidade do investigador colombiano Jerónimo Pizarro, pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, noticia a Lusa.

Composto por mais de mil páginas de fragmentos de texto organizados de diversas formas e com várias interpretações, consoante o critério dos coordenadores das edições já publicadas, «o Desasocego é o grande livro de Pessoa», referiu Jerónimo Pizarro no texto de apresentação da obra, publicada em dois volumes.

«Esta é a primeira edição crítica do Livro do Desasocego, que logo no título anunciava a sua pluralidade. Pessoa escreveu desassocego, desasossego e desasocego, optando, nos últimos anos, por desasocego», sublinhou o estudioso da obra do poeta, que tem também estado empenhado na digitalização da sua biblioteca particular, na Casa Fernando Pessoa.

Pizarro indica que, embora com mais de mil páginas, se propõe nesta edição «um corpus textual mais reduzido e menos fragmentado do que nas edições anteriores», resultante da revisão de leituras e da análise «com serenidade científica do desasocego editorial do Livro», para «introduzir alguma ordem e privilegiar a transparência, depois de ter procurado obter uma visão de conjunto».

«A partir da década de 1990, o Livro do Desasocego tornou-se uma espécie de arca em que foram sendo depositados novos escritos, era O Grande Livro, e tudo o que Pessoa escreveu - até um apontamento solto com a palavra inglesa pursuit (e não persistir) - parecia ter cabimento nessas páginas», sustentou.

Para justificar as dimensões mais reduzidas desta primeira edição, utilizou dois argumentos. «Porque a crítica textual, como disciplina académica, que pode ter implicações éticas, levou a questionar a inclusão de muitos fragmentos e porque o próprio conceito de trecho foi objecto de crítica», revelou.

A organização deste XII volume da Edição Crítica de Fernando Pessoa «procura ser cronológica e o mais objectiva possível» e procura também «um grande compromisso entre materialidade e sentido». Para o estruturar, «foi decisivo um atento exame material dos originais e a sua disposição lado a lado sobre um conjunto de mesas», precisou o responsável.

«O tamanho exacto de uma folha, a existência de uma marca de água (menos visível quando a folha é mais espessa), a irregularidade de um corte, a cor e o matiz da tinta, etc. são elementos preciosos para aproximar documentos dispersos no espólio pessoano e, em alguns casos, para propor uma datação», afirmou.

Na sua opinião, esta edição «permite perceber melhor algumas questões - como as das autorias do Livro, as fictícias e a real - e advertir até que ponto a obra de Pessoa, e em particular esta, tem sido construída postumamente».

«A história do Livro do Desasocego também é a das suas edições e é com essa história que esta nova edição dialoga, nomeadamente com a primeira edição, da qual, como se de um manuscrito mais antigo se tratasse, as outras edições se afastam ou a que se mantêm fiéis; ou, às vezes, afastam-se para mais tarde a ela regressarem», concluiu.
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