Voltou a ser possível ir da vila de Sintra à praia de elétrico - TVI

Voltou a ser possível ir da vila de Sintra à praia de elétrico

Sintra

Percurso atravessa mais de um século de história

O centenário elétrico de Sintra retomou esta quinta-feira a sua atividade, depois de quase um ano encerrado. Na primeira viagem esteve aquele que será o decano dos seus clientes, António Ferrario, que recorda o tempo em que saltava para a composição em andamento para não pagar bilhete.

A linha estava encerrada desde outubro de 2011, devido ao roubo de um quilómetro de cabos de cobre que servem para dar eletricidade ao veículo. A circulação reabre ao público na sexta-feira, mas algumas pessoas já alguns puderam experimentar a ligação.

António Ferrario recorda-se das primeiras viagens que fez, há oitenta anos, num momento em que não haviam autocarros ou automóveis e a linha era usada para fazer as ligações correntes da costa à vila de Sintra.

«Eram outros tempos. Não podíamos pagar a viagem e ficávamos agarrados na parte de fora do elétrico. Muitas vezes éramos corridos pelos cobradores e pelos guarda-freios e tínhamos que fazer vários quilómetros a pé. Não custava muito porque na altura éramos novos», disse à Lusa.



Inaugurado em 1904, o elétrico é atualmente um dos ex-líbris turísticos de Sintra. Faz um percurso de doze quilómetros entre a vila e a Praia das Maçãs, circulando por Colares e Galamares ao longo da sinuosa serra.

Com o passar dos anos, a profissão de guarda-freios, ou condutor dos elétricos, foi caindo em desuso. Valdemar Alves iniciou esse trabalho em 2009 e é um dos poucos resistentes.

«Não é difícil conduzir os elétricos. Requer é mais força de braços, porque a travagem é manual. Temos que estar atentos às entradas e saídas de carros das quintas, mas a condução é relativamente simples», disse o funcionário da câmara.

Valdemar Alves guarda na memória muitas histórias de pessoas que viajaram no elétrico e que se apaixonaram pela paisagem verdejante, onde se conseguem avistar vários monumentos como o Palácio da Pena e o Palácio de Monserrate.

«Costumo contar a história de um senhor que usava bengala e que precisou de ajuda para entrar num elétrico, em Sintra. Quando chegámos à praia, reparei que o senhor se tinha esquecido da bengala e que tinha conseguido sair. Portanto, foram os ares da serra que o curaram», contou, entre risos.

Valdemar Alves publicou um livro de memórias do elétrico em 2004, num ano em que se assinalou o centésimo aniversário desta linha. Até 1974, existem registos de acidentes, com quedas do veículo, mas desde que o percurso foi reaberto, na década de 70, nunca mais houve acidentes destes.

Desde outubro que a circulação do veículo estava restrita entre a zona da Ribeira, junto ao Centro de Ciência Viva, e a praia, mas, mesmo assim, o sucesso entre os turistas era evidente.

Segundo o presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara, o município investiu 160 mil euros na reposição dos cabos de cobre furtados - comprados em França - e na requalificação da linha.
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