«Humana» manda aluna responder - TVI

«Humana» manda aluna responder

Caixotes para roupa usada (Humana People-to-People Alert)

Portuguesa contou a sua história ao PDiário. Uma boa experiência ao contrário da maioria dos voluntários, cujos relatos divulgamos. Falam da obrigação de angariar fundos na rua e de «lavagem cerebral»: «Ensinam-nos a ser pedintes»

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Questionado pelo PortugalDiário, a Humana declinou todas as acusações que pendem sobre a organização. Mas antes de um elemento da direcção nos ter enviado um mail, sem nunca responder às perguntas concretas que lhe fizemos, a associação instruiu uma voluntária portuguesa -que está a tirar o curso na Noruega - a contar a sua história.

Enquanto as respostas da Humana basearam-se em negar que esteja a decorrer um processo judicial na Dinamarca, e que esse processo da Tvind não está relacionado com esta organização, o e-mail aproveitava também para mencionar o trabalho dos portugueses - tanto na Europa como em África e Índia.

Mas as respostas de Sidsel, o elemento da organização que nos deseja «boa sorte» na leitura dos websites da Humana, não responde às perguntas do PortugalDiário.

Recebemos contudo um e-mail assinado por Natacha Moutinho. Uma voluntária, que alerta que não pode falar em nome da organização, mas que pode a contar a sua experiência.

«Comecei o programa em Abril. Estive 4 meses em Inglaterra, a fazer o chamado GAIA (para pagar as propinas escolares) e vim para a Noruega em Agosto. Neste momento, faltam-me cerca de 2 meses para ir para a Índia! Estes 8 meses não foram fáceis, devo admitir. O tempo não é suficiente para tudo o que temos de fazer: estudar e angariar fundos».

Natacha refere-se aos números que tem de atingir no final do período na Noruega: «850 pontos de estudo (1 ponto=1 hora) e juntado 5000 euros (40000 coroas) para pagar a nossa estada aqui, o bilhete de avião, o seguro de saúde, o visto, entre outros». A voluntária explica que o «dinheiro é basicamente angariado na rua onde vendemos uma revista feita por nós. Para além disso, também temos a oportunidade de fazer recolha de roupa em segunda-mão que vai apoiar os projectos que a Humana tem em África e Índia».



«Angariar dinheiro na rua (fundraising) é puxado em termos psicológicos e a recolha de roupa é um trabalho pesado em termos físicos. Gosto do que faço? Bem, na verdade não gosto de pedir dinheiro às pessoas nem de andar a recolher sacos de roupa, mas o meu objectivo é muito claro: ir para a Índia».

A voluntária, no seu e-mail, confessa as agruras por que passa nesta formação. «Houve alturas em que pensei que isto não era para mim, que ninguém se interessava e que ia desistir. Fiquei. Porquê? Porque esta escola dá-nos mais do que frustrações e decepções. Aqui senti-me feliz como nunca (...) Sinto-me mais preparada para a vida do que quando saí de Portugal (...)».

«A formação que temos aqui é mais prática do que teórica e, muitas vezes testamos os nossos limites, como quando fazemos fundraising [ndr: angariação de fundos] e temos de ter um sorriso na cara mesmo que as pessoas sejam antipáticas para nós».

No final, Natacha pede-nos para «não transcrever frases fora do contexto». Não o faríamos nunca e, ao contrário do que diz no seu e-mail, o seu percurso «é notícia».

Sobretudo porque a «angariação de fundos» de que fala Natacha foi já referida por outros voluntários portugueses que consideram ter caído numa «seita» onde os obrigam a «vender» postais. João, um dos voluntários, engenheiro zootécnico, partiu de «coração aberto» para o estágio, no qual o obrigaram a vender 6000 euros em postais.

Consegui chegar à Zâmbia, depois de ter passado pelo «curso de preparação». À chegada percebeu que nada era como lhe tinham dito. Saiu, deixando para trás o que pagou de propinas, e escreveu uma carta a denunciar o negócio de roupa usada e a exploração de que os alunos são alvo. Já prestou depoimentos em Portugal e no estrangeiro.

Leia mais sobre as experiências de voluntários na organização Humana.
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