«Sem o Kosovo, a Sérvia não existe» - TVI

«Sem o Kosovo, a Sérvia não existe»

  • Portugal Diário
  • Rui Parracho, da agência Lusa
  • 11 dez 2007, 08:27

Bispo ortodoxo considera que «a Sérvia não pode ficar parada se lhe tirarem 15 por cento do seu território»

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«Sem o Kosovo, a Sérvia não existe», garante o bispo Artemije, responsável pela diocese kosovar de Raska-Prizren da Igreja Ortodoxa Sérvia e uma das vozes sérvias mais influentes do território.

Em entrevista a jornalistas portugueses no mosteiro de Gracanica, onde reside, num enclave sérvio a meia dúzia de quilómetros de Pristina, o bispo afirma a sua completa oposição à independência do Kosovo, que deverá ser brevemente proclamada pelos kosovares albaneses.

O Kosovo «é o berço da Sérvia» e deve manter-se como parte integrante da «pátria sérvia».

«A Sérvia não pode ficar parada se lhe tirarem 15 por cento do seu território», nota o bispo, defendendo a tomada de posições por parte de Belgrado no caso da proclamação da independência pelos albaneses, como «a mobilização, o fecho de fronteiras e outras medidas».

Para Artemije, «a Sérvia deve demonstrar que se importa que o Kosovo fique na Sérvia e, no caso de secessão violenta, deve actuar como qualquer outro Estado democrático actuaria».

O religioso procura matizar as suas palavras, referindo que «não se trata de uma declaração de guerra» e que «não deseja a guerra». Contudo, «a Sérvia deve defender-se em caso de perigo», adverte.

Segundo o bispo, desde 1999, data da intervenção da NATO para pôr fim à guerra no Kosovo, pouco mudou nas condições de vida dos kosovares sérvios. «Continuamos sem direitos humanos, sem direito de associação, sem liberdade, sem educação», afirma.

«Em 1999, havia dez mortos sérvios por dia às mãos dos albaneses e agora há menos, mas ainda há», acrescenta o bispo, denunciando ainda a destruição das condições de vida e da herança cultural sérvia no Kosovo.

«Dezenas de milhares de casas de sérvios foram destruídas, bem como mais de 150 igrejas e mosteiros, toda uma herança cultural dos séculos XIII e XIV», assegura.

O bispo é também resolutamente crítico da intervenção internacional. «A resolução da ONU (que instituiu a administração internacional do território, em 1999) visava possibilitar a criação de condições de paz e segurança, mas essas condições só foram criadas para os albaneses, e não para os outros», afirma.

250 mil sérvios fugiram e só 2 por cento regressou

O dignitário religioso nota ainda que cerca de 250.000 sérvios foram forçados a fugir do Kosovo e que, apesar de a resolução 1244 da ONU afirmar que todos os refugiados têm direito a regressar, «nem 2 por cento dos sérvios regressou».

«Esses 250.000 sérvios foram forçados a fugir pelos albaneses, que fizeram ainda mais de 13.000 raptos e mil mortes», aponta o bispo, notando que, ainda hoje, há mais sérvios a sair do território do que a regressar.

«Trata-se de crimes não punidos cometidos pelos albaneses. Nem um perpetrador foi identificado», garante.

Quanto à actuação da Kfor, a força da NATO que garante a segurança no Kosovo, Artemije diz também «não ter bases para confiar» nela.

«Os crimes e o sofrimento aconteceram na presença da Kfor, que não garantiu a segurança», afirmou, exemplificando com os acontecimentos de Março de 2004, em que questões aparentemente menores levaram a que multidões albanesas se voltassem contra os seus vizinhos sérvios.

O bispo elogia contudo as autoridades de Belgrado, considerando que o actual governo sérvio «tem um grande nível de preocupação, tentando proteger e manter o Kosovo na Sérvia».

«Violadores e assassinos recompensados com a independência

Artemije manifesta ainda a esperança de que a independência não se verifique, adiantando que, a concretizar-se, «serão violadores, assassinos e terroristas que estarão a ser recompensados pela comunidade internacional com a independência».
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