Descoberta da nau Esmeralda em Omã é "altamente provável" - TVI

Descoberta da nau Esmeralda em Omã é "altamente provável"

O incrível tesouro português descoberto no Oceano Índico

Declarações são da investigadora portuguesa Tânia Casimiro, que participou no projeto da descoberta e recuperação da nau

A investigadora portuguesa Tânia Casimiro, que participou no projeto da descoberta e recuperação da nau portuguesa descoberta em Omã, disse hoje à agência Lusa que é "altamente provável" tratar-se da Esmeralda, naufragada em 1503.

Contactada pela agência Lusa, Tânia Casimiro, investigadora do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa, indicou que, em 2013, o diretor do projeto, David Mearns, a contactou sobre a descoberta da nau do século XVI, dizendo que precisava de uma especialista portuguesa em cerâmica.

"Cabe ao arqueólogo recolher a informação dada pelo contexto arqueológico e interpretá-la à luz das evidências conhecidas. É altamente provável que seja a Esmeralda", considera a investigadora, entre outras áreas, em arqueologia europeia medieval e relações atlânticas.

Esta semana, o Ministério do Património e da Cultura de Omã anunciou a descoberta daquela nau portuguesa, que fazia a carreira das Índias, incluída na armada de Vasco da Gama, recuperando um conjunto de 2.800 artefactos no seu interior, nomeadamente moedas, uma esfera armilar e um emblema pessoal de D. Manuel I.

Tânia Casimiro viu toda a coleção retirada do navio, em janeiro deste ano, quando esteve em Omã a estudar as peças que dizem respeito às áreas da sua especialidade, num total de 1.200.

Questionada sobre a relevância deste achado, Tânia Casimiro sustentou: "A importância científica, pelo menos a nível da cultura material, é extraordinária. É possível saber que tipo de objetos se utilizava em Portugal, nos inícios do século XVI. As novidades são mais que muitas".

Quanto a eventuais dúvidas sobre o achado, apontou que, "com base na documentação existente, sabe-se que aquele foi o local onde a Esmeralda naufragou em 1503". "A coleção de artefactos, cerâmica incluída, aponta para um naufrágio algures nas primeiras décadas do século XVI".

A descoberta do local onde se encontra a nau portuguesa deu-se em 1998, pela empresa britânica Blue Water Recoveries Ltd. (BWR), de David Mearns, que realizou várias campanhas para recuperar os objetos no interior.

Questionada sobre a importância da descoberta a nível mundial, e em particular para Portugal, Tânia Casimiro comentou: "Não é todos os dias que se descobrem os restos de um barco da carreira da Índia, sobretudo um que naufragou nos inícios do século XVI e com relatos tão detalhados da viagem".

A investigadora portuguesa recordou que, no primeiro encontro com David Mearns, em Londres, em 2013, a equipa do projeto tinha apenas recuperado alguns fragmentos em cerâmica: "Havia cerâmica portuguesa e de produção oriental. Foram colocados à minha disponibilidade a cerâmica e os objetos em vidro, pedra, madeira e metal que pudessem de alguma forma refletir o quotidiano daquela embarcação" do século XVI.

Tânia Casimiro diz que foi convidada por várias vezes a ir a Omã ver as peças, mas que, "por opção pessoal", decidiu esperar pela campanha de finais de 2015, para poder observar a coleção toda.

"Estive no Omã em janeiro de 2016, onde foram criadas todas as condições para o estudo dos materiais. O meu trabalho neste projeto refere-se aos objetos de todos os dias: panelas, pratos, púcaros, para se beber água, cântaros e potes, que guardavam alimentos, colheres, fivelas, que prendiam cintos, entre outros", disse à Lusa.

Na opinião da especialista, os achados “vão poder efetivamente permitir contar muitas histórias sobre a vida a bordo, nos inícios da carreira da Índia, mas igualmente sobre o que se passava em Portugal”.

“A bordo encontraram-se produções portuguesas, espanholas e italianas e algumas de produção oriental, nomeadamente chinesas, obtidas já no Índico, tais como porcelanas e potes martaban", avançou à Lusa.

Sobre a participação de outros investigadores de Portugal na equipa, Tânia Casimiro indicou que também entraram dois numismatas, que estudaram as moedas, e quatro geólogos, todos eles portugueses.

Relativamente à entidade que a contratou, indicou que aceitou o trabalho pela oportunidade, e que não recebeu qualquer pagamento, apenas as deslocações e estadia em Omã, para fazer o estudo das peças a seu cargo, que analisou e catalogou.

Tânia Casimiro disse à Lusa que a coleção vai ser restaurada e deverá ser criado um núcleo para exposição, no Museu Nacional de Omã.

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