Amazónia e ordenação de homens casados em debate no Sínodo dos Bispos - TVI

Amazónia e ordenação de homens casados em debate no Sínodo dos Bispos

  • BC
  • 6 out 2019, 10:20

Reunião dos bispos começa este domingo no Vaticano, para debater problemas urgentes da Igreja e do mundo. Papa condenou na missa de abertura os fogos que devoram povos e culturas

O Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que começa hoje no Vaticano, abordará os problemas ambientais da Amazónia, nomeadamente as consequências da exploração da floresta e dos recursos hídricos, mas também a ordenação sacerdotal de homens casados.

O Papa celebrou  uma missa que assinala a abertura do Sínodo, tendo condenado os fogos que devoram povos e culturas "para homogeneizar tudo e todos"

“Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo, quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto. Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização. Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos”, afirmou Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Na missa, concelebrada também pelos cardeais investidos no sábado, incluindo o português Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, Francisco referiu que “o fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazónia, não é o do Evangelho”.

O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”, afirmou Francisco.

Na missa, em que uma das leituras foi feita em língua portuguesa, o Papa citou o apóstolo Paulo, “o maior missionário da História da Igreja”, para dizer que ajuda a “fazer sínodo”, e sublinhando a sua mensagem para todos os bispos, disse que estes receberam um dom para serem dons.

“Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se como prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de pastores a funcionários”, avisou, considerando: “Assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja”.

Abordando de novo o fogo, notou que este “não se alimenta sozinho” e “morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir”.

Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo ‘sempre se fez assim’, então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação e defender o ‘status quo’”, disse, alertando que “a Igreja não pode, de modo algum, limitar-se a uma pastoral de manutenção para aqueles que já conhecem o Evangelho”.

Pedindo inspiração para renovar os caminhos para a Igreja da Amazónia para que não se apague o fogo da missão, o Papa lembrou ainda os “muitos irmãos e irmãs” que, naquela região, “carregam cruzes pesadas” e recordou todos os missionários que deram a vida pela Igreja Católica na região da Amazónia.

Sínodo decorre até dia 27

Esta assembleia de bispos, convocada pelo Papa Francisco e que decorre até ao dia 27, vai refletir sobre o tema “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral", procurando responder às "injustiças" nesta região, que se estende por nove países da América do Sul, mas que é considerada vital para o resto do planeta, de acordo com o documento preparatório do sínodo.

O Sínodo dos Bispos é uma reunião de todo o episcopado católico em torno de um tema urgente para a Igreja e que, entre outros objetivos, visa promover o diálogo da instituição cristã com o povo do mundo inteiro, através de seus bispos.

No documento preparatório do sínodo, divulgado em fevereiro, o Vaticano explicava que a Igreja é chamada "a responder a situações de injustiça na região, como o neocolonialismo das indústrias extrativas, projetos de infraestrutura com danos para a biodiversidade e a imposição de modelos culturais e económicos aos povos locais".

A situação dos "povos indígenas, costeiros e afrodescendentes" é um dos temas a abordar, assim como a falta de religiosos nessas áreas.

O documento de trabalho para o Sínodo Especial dos Bispos de 2019 foi divulgado em junho e aborda o tema dos “novos ministérios” para responder às necessidades dos povos amazónicos, admitindo a ordenação sacerdotal de homens casados.

Afirmando que o celibato é um dom da Igreja, o documento solicita, no entanto, que em áreas mais remotas seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal de idosos, preferencialmente indígenas, respeitados e aceites pela sua comunidade, mesmo que tenham uma família constituída e estável.

O objetivo desta proposta em debate é assegurar os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã.

O documento também defende um maior papel para as mulheres na Amazónia.

É solicitado o reforço do papel dos leigos, e especialmente das mulheres, cuja presença nem sempre é levada em conta de forma adequada", segundo o documento, que sugere mais envolvimento das mulheres na área da formação, especialmente em teologia, catecismo, liturgia e escola de fé.

Solicita-se que as vozes das mulheres sejam ouvidas, que sejam consultadas e participem na tomada de decisões para que assim possam contribuir com a sua sensibilidade à sinodalidade eclesial", lê-se no documento.

Recentemente a associação internacional de mulheres católicas Vozes de Fé criticou o facto de as religiosas não terem direito ao voto nos Sínodos dos Bispos, denunciando que, nos dois últimos sínodos, o direito ao voto foi estendido, além dos bispos, aos religiosos, mas não às religiosas".

Porém, estas “superam em número os irmãos em todo o mundo” e as madres superiores “têm o mesmo estatuto canónico dos superiores masculinos”.

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