Burlão de jogadores apanha 10 anos de cadeia - TVI

Burlão de jogadores apanha 10 anos de cadeia

«Já vimos sentenças por homicídio mais leves», diz a defesa

Um tribunal do Porto condenou a dez anos de prisão efetiva o indivíduo acusado de ter burlado oito pessoas em três milhões de euros, figurando entre elas os ex-futebolistas Hélder, Sérgio Leite e Jorge Couto e o guarda-redes Ricardo.

O tribunal deu assim como provados oito crimes de burla qualificada cometidos por José Carlos Martins entre os finais dos anos 90 e durante cerca de dez anos, com o «conhecimento e auxílio» da sua antiga mulher, Cláudia Dória, condenada, por sua vez, a dois anos de prisão, também efetiva.

Em relação a esta arguida, «o tribunal ponderou» suspender-lhe a pena, mas por fim prevaleceu a tese de que «o caso é muito grave», disse o juiz João Castro, que presidiu ao coletivo das Varas Criminais do Porto que julgou este caso.

«Não se percebe como há pessoas que estão dispostas a tudo apenas para ganhar dinheiro», abusando da boa-fé de outras, afirmou ainda João Castro.

A propósito, o magistrado referiu que o guarda-redes Ricardo considerava mesmo José Carlos Martins como «um irmão». Ricardo convidou-o até para seu padrinho de casamento.

O juiz frisou ainda que «não é todos os dias que aparecem nos tribunais burlas com estes valores», observando também que «os arguidos não se mostraram arrependidos».

Para a defesa dos dois arguidos, porém, as penas aplicadas pecam por ser excessivas. «Achei a sentença benévola, mas depois reparei que não era homicídio», ironizou o advogado Carlos Gonçalves, que defende Cláudia Dória.

O advogado afirmou depois que a sentença foi «uma total surpresa» e, questionado sobre se vai recorrer, respondeu: «Nem se pergunta».

A defesa de José Carlos Martins adiantou apenas que «vai analisar» a sentença, considerando-a, no entanto, «exageradíssima». «Já vimos sentenças por homicídio mais leves», acrescentou.

O ex-futebolista Jorge Couto foi uma das vítimas deste caso de burla qualificada, tendo sido lesado em mais de 630 mil euros. «Qualquer que fosse a sentença acharia pouco», disse, após a ouvir a decisão do tribunal.

«Isto provocou-me danos até ao resto da vida. Só queria que se fizesse justiça e que seja exemplo para as outras pessoas», completou.

Os dois arguidos «têm processos de insolvência noutros tribunais», motivo pelo qual «os pedidos de indemnização» apresentados pelas vítimas «não são tidos nem achados neste tribunal», informou, por outro lado, João Castro.

O tribunal considerou que José Carlos Martins - que guardou silêncio sobre a acusação durante o julgamento - arquitetou todo o plano, visando «captar poupanças» para serem aplicadas em investimento imobiliários e financeiros, com a promessa de «taxas de juro exorbitantes».

Chegou a prometer «o dobro do capital» investido e invocou «ligações familiares» com os proprietários do grupo Jerónimo Martins e «ligações próximas» à construtora Soares da Costa.

Cláudia Dória «corroborou» essas informações, pelo que o tribunal entendeu que a arguida agiu como «cúmplice».

Um dos lesados, Carlos Matos, entregou 950 mil euros a José Carlos Martins. Hélder (711 mil euros), Ricardo (530 mil) e Sérgio Leite (69 mil) também confiaram nas suas promessas.

O tribunal apurou que foram depositados «três milhões de euros na conta da arguida, pelo que não pode dizer que não sabia disto ou que eram empréstimos».

Refira-se, por fim, que faz esta quarta-feira dois anos que José Carlos Martins se encontra em prisão preventiva nos calabouços da Polícia Judiciária do Porto.
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