«É o Povo, Pá!»: uma noite a colar cartazes - TVI

«É o Povo, Pá!»: uma noite a colar cartazes

Elementos do movimento colocaram frases de protesto nos centros de emprego um pouco por todo o país

O Centro de Emprego da Rua da Saudade foi o palco escolhido no Porto para uma intervenção do movimento «É o povo, pá!» que esta madrugada colou 25 cartazes de protesto em centros de emprego e formação profissional de 23 localidades.

Pouco passava das 02:30, a hora marcada, quando dois elementos do movimento chegaram em passos rápidos à Rua da Saudade no Porto, perto da Rotunda da Boavista, trazendo as caras tapadas por máscaras sorridentes de José Sócrates e Pedro Passos Coelhos e nas mãos os cartazes e um balde de cola.

«Não queremos subsídios, queremos emprego», pode ler-se nas duas folhas que, sem hesitar, colaram na porta envidraçada do número 132 da rua, junto à qual dormia um sem-abrigo que nem se apercebeu da agitação. É ali que fica o Centro de Emprego e Formação Profissional.

A iniciativa «é nacional» e o objectivo é conseguir replicar esta forma «inusitada» de protesto em «cerca de 30 localidades» e sempre nos centros de emprego.

«Escolhemos centros de emprego porque achamos que perderam a vocação que tinham, que era centrada numa política nacional de combate ao desemprego e à criação de emprego», explicou à Lusa um dos membros do movimento, acrescentando que actualmente são apenas «fiscalizadores dos desempregados» que «impõem formações» que não «têm nada a ver» com o desejado.

É precisamente contra «esta relação de humilhação que o estado português estabeleceu com os desempregados» que o movimento decidiu manifestar-se desta forma, lembrando que «ninguém está desempregado porque quer», sendo «o direito ao trabalho e a um salário, um direito constitucional».

E porque trazem a cara tapada? «Porque aquilo que nos move são ideias, propostas e não quem nós somos. Queremos é que se fale naquilo que vimos dizer e não que se discuta quem nós somos», apressaram-se a responder.

O movimento é formado por pessoas «diversas», funciona «em rede» assenta num texto publicado on-line no qual todos se revêem.

A ideia principal é pois «somar protesto ao protesto», «acrescentar pensamento e matéria para discussão na sociedade» e ainda «lançar o debate de alguns temas na sociedade portuguesa de uma perspectiva diferente daquela que normalmente é colocada».

Depois do BPN, contra o qual realizaram a sua primeira acção durante o mês de Março, foi a vez de «reclamar quanto à ausência de uma política de emprego» e «contra a forma como os desempregados são tratados neste país».

«Temos ideias para continuar, temos várias iniciativas pensadas mas a conjuntura é que vai impor a próxima acção», garantem.

José Luís Peixoto associa-se ao protesto

O escritor José Luís Peixoto associou-se ao protesto contra as políticas de emprego em Portugal levado a cabo pelo movimento «E o povo pá» em várias cidades do país.



«Não sou porta-voz do movimento. Fui contactado por duas pessoas que me explicaram quem eram, o que defendiam e o que pretendiam fazer esta noite», disse.

«Este protesto foi levado a cabo por um grupo de pessoas das quais não faço parte. Eu não participei no protesto apenas fui contactado durante a Feira do Livro de Lisboa e fui convidado a comentar o tema do desemprego, não sou responsável pelas suas acções», salientou.

O escritor José Luís Peixoto disse que concorda em pleno com o que o movimento defende: o combate ao desemprego e a precariedade. «Não é um tipo de acção que tenha um porta-voz. Aceitei participar na medida em que me parece importante que a população não caia neste discurso de fatalismo e afastamento mas que comunique as suas opiniões nesta sociedade», referiu.

Na opinião de José Luís Peixoto, é importante chamar a atenção das pessoas para as questões ligadas «à precariedade sobre o ponto de vista geracional».

«O que sinto é que eles como eu estão zangados. É mais saudável estar zangado do que estar deprimido», concluiu.
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