Maioria dos homicidas são maridos, companheiros ou namorados da vítima - TVI

Maioria dos homicidas são maridos, companheiros ou namorados da vítima

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No entanto, seis das 22 mulheres assassinadas este ano foram mortas pelos filhos ou netos

Seis das 22 mulheres assassinadas este ano foram mortas pelos filhos ou netos, mas a maioria dos homicidas continuam a ser os maridos, companheiros ou namorados, segundo dados do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA) divulgados esta quinta-feira.

Dez destas mulheres foram “barbaramente assassinadas por espancamento, estrangulamento, agressão com objeto e violação”, descreve o relatório do observatório da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), que sublinha que na sequência dos 22 homicídios 32 crianças e jovens ficaram órfãos de mãe.

Divulgado na véspera de se assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência sobre a Mulher, o relatório, baseado nos crimes noticiados pela imprensa, revela ainda que 23 mulheres foram vítimas de tentativa de homicídio, entre 01 de janeiro e 20 de novembro.

Em média, foram verificados dois homicídios por mês, sendo que 45% das vítimas (10) tinham mais de 65 anos, 23% (cinco) entre os 36 e 50 anos e 14% (três) entre os 24 e os 35 anos.

Uma das vítimas tinha menos de 17 anos e outras duas tinham idades entre os 18 e os 35 anos, adiantam os dados avançados à agência Lusa.

Quanto à idade dos agressores, o relatório indica que a maioria (42%) tem entre os 51 e os 64 anos e 26% entre os 36 e os 50 anos. Já três homicidas (16%) têm mais de 65 anos.

Em 64% dos casos, a vítima tinha uma relação de intimidade com o agressor.

Maioria dos crimes aconteceu em casa

Analisando a motivação do crime, a UMAR verificou que nove mortes ocorreram num contexto de violência doméstica e seis deveram-se ao facto de o agressor não aceitar a separação, a ciúmes e para evitar que a vítima testemunhasse contra o agressor.

A compaixão pelo sofrimento da vítima foi identificada como motivo para um dos crimes e a psicopatologia do homicida para três.

Os dados revelam ainda que sete mulheres foram assassinadas com arma de fogo e quatro com arma branca. Quatro foram espancadas, três estranguladas, duas agredidas com um objeto e uma violada.

Em oito dos 22 homicídios, a medida de coação aplicada foi a de prisão preventiva, noutro foi decidido o internamento hospitalar.

Houve sete homicidas que se suicidaram. Nos restantes três casos, não houve informação disponibilizada.

O relatório sublinha que os assassinatos foram cometidos por 19 agressores, uma vez que um dos homicidas matou duas mulheres e outro três.

A maioria dos crimes (19) ocorreu em casa, referem os dados, acrescentando que o maior número de homicídios registou-se nos distritos de Lisboa (4), Porto (3) e Coimbra (3).

Relativamente às 23 tentativas de homicídio, o relatório indica que a maioria das vítimas (13) tinha mais de 24 anos, com especial incidência nos grupos etários 36-50 anos e mais de 65 anos, com quatro vítimas cada.

A UMAR sublinha que, 2016, “anuncia, até à presente data, um menor número de registos de femicídio” consumado e tentado, se comparado com períodos homólogos anteriores, com exceção do ano de 2007”, que teve igual número de homicídios.

Contudo, diz que ainda não é possível concluir uma tendência de diminuição quanto à ocorrência destes, devido à constatação verificada ao longo dos últimos 12 anos do observatório, de que “anos de diminuição de registos são contrastados com anos de aumento”.

Mais de 450 mulheres assassinadas nos últimos 12 anos

Mais de 450 mulheres foram assassinadas em Portugal nos últimos 12 anos e 526 foram vítimas de tentativa de homicídio, a grande maioria por parte de homens com quem viviam uma relação de intimidade, segundo dados hoje divulgados.

Os dados são do Observatório das Mulheres Assassinadas, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), que analisou os homicídios e tentativas de homicídio desde 2004, ano em que foi criado, e registou 454 assassinatos nesse período.

“Verificamos que se mantém a tendência de maior vitimização das mulheres às mãos daqueles com quem ainda mantinham uma relação, fosse ela de casamento, união de facto, namoro ou outro tipo relação de intimidade (277), seguido pelo grupo dos ex-maridos, ex companheiros e ex-namorados (101)”, refere o observatório.

De facto, em 83% dos crimes “a relação entre a vítima e o homicida era uma relação de intimidade presente ou pretérita”, sustenta o relatório, divulgado na véspera de se assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência sobre a Mulher.

Ao comparar os diversos anos desde 2004, o observatório constatou que “o grupo etário mais vitimizado pelo femicídio por violência de género é o das mulheres com idades superiores a 50 anos”, totalizando 166 vítimas, seguido das mulheres com idades entre os 36 e os 50 anos (133).

A idade do homicida segue o mesmo padrão da vítima: 155 tinham mais de 50 anos e 136 entre os 36 e os 50 anos.

Mais homicídios durante o verão

Analisando os meses onde ocorreram mais homicídios, a UMAR concluiu que deixou de incidir, em particular, nos meses de verão, pese embora seja ainda nestes meses que, em termos absolutos, se registe o maior número de crimes.

"Não obstante, e em termos relativos, verifica-se uma dispersão da ocorrência do crime por quase todos os meses do ano, num total de 454 mulheres assassinadas entre 2004 e 20 de novembro de 2016”, refere o relatório, a que a agência Lusa teve acesso.

Os distritos de Lisboa (98), Porto (64) e Setúbal (46) “continuam a assumir taxas de incidência preocupantes”, totalizando 208 crimes (45,8%).

Já o distrito de Évora é o que apresenta a taxa mais baixa de ocorrência de homicídios, equivalendo a 0,88% do total dos crimes registados.

Os distritos da Guarda, Portalegre e Viana são também distritos com taxas de incidência baixas: 1,1%, 1,3% e 1,5%, respetivamente.

O observatório verificou que 2016 foi o ano que registou o menor número de tentativas de homicídio, perfazendo uma média de dois crimes na forma tentada por mês em Portugal, quando a média registada nos anos anteriores era de três crimes por mês.

No total, 526 mulheres foram “alvo desta forma extremada de violência”.

“Ainda que os atos não tenham sido fatais, a severidade registada nestas agressões permite-nos antecipar as sequelas a nível psíquico e físico que poderão perpetuar-se por toda a sua vida”, salienta a UMAR.

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