Quatro ideias táticas que definiram o triunfo do Benfica no dérbi - TVI

Quatro ideias táticas que definiram o triunfo do Benfica no dérbi

Benfica-Sporting

João Pacheco, treinador e analista, detalha para o Maisfutebol os pormenores que fizeram a diferença na vitória encarnada sobre o Sporting

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1. Sporting tentou entrar a dominar

Na jornada final do campeonato, com o Sporting ainda na luta pelo terceiro lugar, mas o Benfica já sem objetivos de classificação, ambas equipas procuraram impor o seu estilo de jogo habitual. Bons minutos iniciais com Sporting, subindo linhas para pressionar o adversário para não deixar jogar, para conquistar bolas e depois, com bola, uma circulação segura e usando a linha de três atrás para garantir segurança e qualidade na circulação.

Nos momentos iniciais foi evidente a capacidade de ligação com os dois médios, que com dinâmica e mobilidade tentaram dar soluções e fluidez ao jogo. O Sporting mostrou, de resto, ser mais forte quando em construção por Acuña, que teve capacidade para procurar diferentes soluções de saída e encontrar jogadores livres.

Para condicionar a construção do Benfica, a estratégia passou por serem os alas (Jovane e Plata) a pressionar o central do Benfica com bola, em movimentos de fora para dentro, que podiam ser realizados também para pressionar o guarda-redes. Sporar numa posição mais conservadora (por vezes até numa linha mais baixa que a dos alas) controlava a entrada da bola nos médios (especialmente encostando mais em Weigl).

Os médios do Sporting estiveram sempre prontos para pressionar alto também o outro medio do Benfica. Ainda que limitando a construção do Benfica, nem sempre foi possível conquistar muitas bolas em zona alta. O Benfica tentou contrariar as referências de pressão adversária com alternância do guarda-redes na saída de bola, seja curto nos centrais ou médios, ou longo nos laterais e Seferovic

2. A pressão do Benfica que leva ao controlo do jogo na primeira parte

A boa entrada inicial do Sporting acabou por durar pouco tempo. As equipas de Rúben Amorim (tanto o Sp. Braga como agora o Sporting), usando este sistema com três defesas centrais, têm apresentado uma primeira fase de construção forte, tentando sair de forma apoiada, fazendo a bola circular com alguma paciência e atraindo adversários para conquistar espaços.

Ao meter muitos jogadores na primeira fase, Ruben Amorim consegue desta forma gerir o ritmo de jogo e empurrar o adversário para trás. Uma boa estratégia para um jogo é muitas vezes reconhecer onde «atacar» o adversário de modo a evitar que o seu jogo habitual se expresse. Ora foi por aí que, percebendo que tinha de anular a primeira fase de construção curta do Sporting, que o Benfica conseguiu dominar e controlar a grande maioria da primeira parte (excetuando os minutos iniciais), ainda que tenha terminado com menos posse de bola, mas criando dificuldades ao jogo adversário e algumas situações de golo.

Para isso começou a apertar muito à frente a linha de três do Sporting, condicionando também o guarda-Redes: a intenção era exercer muita pressão sobre os médios de modo a que nunca conseguissem receber virados de frente para o jogo. Isto foi feito com algumas referências individuais de pressão e de forma assimétrica.

Do lado esquerdo do Sporting, com bola em Acuña, era Chiquinho que pressionava, com Seferovic a dividir a pressão/cortar linha passe para Neto ou para o guarda-Redes. Do lado direito era Cervi que fazia a pressão ao central com bola. Sempre com a preocupação de existir alguém a «encostar» nos jogadores mais próximos.

Ainda que o Benfica arriscasse dar algo espaço entre-linhas, e por vezes defender com igualdade numérica atrás, esta pressão foi eficaz, permitiu ganhar muitas bolas e a partir daí chegar a situações de finalização de forma rápida e sem dar tempo ao adversário organizar a linha de cinco atrás, que tem sido tão difícil de contrariar. O Benfica não deixava o melhor do Sporting aparecer em jogo e com isso tinha o controlo. Foi criando perigo e chegou com naturalidade ao golo num dos vários cantos que conquistou.

3. Sporting mais forte até conseguir empatar numa dificuldade típica do Benfica esta época

 

Apesar do Sporting fazer uma substituição ao intervalo, o jogo reiniciou-se com as mesmas dinâmicas, sem grandes alterações estratégicas. O Sporting a tentar sair curto, o Benfica a tentar roubar alto e atacar rápido. Embora esta toada se tivesse mantido nos minutos iniciais (com oportunidades de golo para o Benfica), com o tempo o Sporting conseguiu começar a empurrar o jogo para o meio campo ofensivo.

Por um lado, a pressão do Benfica foi perdendo alguma organização e critério. Por outro lado, ao optar sempre por sair curto, ainda que com erros e dificuldades, também permitiu aos jogadores irem-se ajustando à pressão e encontrando mais soluções de saída. Embora nem sempre de uma forma muito fluida, o Sporting foi sendo mais eficaz e levou o jogo para onde se sente melhor, começando a ameaçar a baliza adversária em situações de ataque posicional. 

Apesar disso, curiosamente, acaba por chegar ao golo num contra-ataque, após ganhar a bola no meio campo defensivo, numa jogada que define muito do Benfica este ano: com ambos laterais altos, com muita gente no espaço interior, tentando ligar da defesa para zonas interiores e perdendo de bola. A partir daí ambos os médios saltaram na pressão, são batidos e deixam os centrais muito expostos. A isto soma-se que muitas vezes a reação é feita em más abordagens à situação por parte dos centrais (muitas vezes Ferro ou Jardel).

Apesar de tudo isso, há que dizer que foi bom o movimento inicial do Sporting a aproveitar o espaço entre o central e o lateral, tal como foi bom depois o movimento à profundidade de Sporar.

4. Sporting desalinhado nos cantos

O Sporting acabou por sofrer os dois golos em situações idênticas: dois cantos e falhas na subida da linha defensiva. Em ambos os casos há uma tentativa de subida dos jogadores em linha para encurtar espaços (no primeiro caso fazendo lembrar alguns cantos defensivos da equipa de Jorge Jesus).  Ainda que no segundo golo seja por pouco, são duas situações em que se nota existirem jogadores com dificuldades em acompanhar a linha e que acabam por isso por colocar os adversários em jogo.

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