Jesus não sofria tantos desde o início do século - TVI

Jesus não sofria tantos desde o início do século

Sporting-Tondela

Treinador admitiu o problema e números provam que há muito tempo que não tinha defesa assim

Os dez golos sofridos que o Sporting tem à oitava jornada na Liga não são habituais, diz-nos a estatística. Nem no clube de Alvalade, muito menos numa equipa de Jorge Jesus.

É preciso recuar até ao início do século XXI para ver uma formação orientada pelo técnico que encaixou mais golos do que o leão deste ano, com o mesmo número de partidas na Liga.

O Sporting foi a melhor defesa da liga 2015/16, mas esta época tem o dobro dos golos sofridos por esta altura em relação ao ano passado.

Jesus admitiu o problema na antevisão do encontro com o Tondela, mas a verdade é que o golo de Murillo atirou os números para um registo que, no Sporting, só é batido pelo de 2005/06: 11 golos à 8ª ronda.

José Peseiro foi «responsável» por 9 e Paulo Bento pelos dois últimos [estreou-se, precisamente, nessa ronda em Barcelos, num empate 2-2].

De lá para cá, o leão terminou o campeonato com a melhor defesa em duas ocasiões: a época 2006/07 com Bento e na passada com Jesus.

A situação também não é nada normal para o treinador, diga-se. Na Luz, Braga e Restelo nunca chegou a este valor (oito foi o máximo consentido, 5, em Braga, o menor). Mas na mesma temporada em que o Sporting registava 11 golos sofridos, a União de Leiria de Jesus apresentava o mesmo número.

Quadro de golos sofridos à 8ª jornada de Benfica, FC Porto, Sporting e das equipas de Jorge Jesus

Porém, Jesus apenas entrou no final de setembro, com José Gomes a fazer os primeiros jogos pelos leirienses.

Antes da U. Leiria, o treinador natural da Amadora passou por Moreirense e V. Guimarães. De novo, chegou já com a temporada em andamento e para lá da oitava jornada.

Em 2002/03, começou e acabou a temporada no Estrela da Amadora, aí na II Liga. O saldo era de nove golos encaixados, já agora.

Assim, é preciso ir até 2001 para ver uma equipa de Jorge Jesus a sofrer mais de dez golos em oito jogos.

Na oitava jornada de 2001/02, o Vitória de Setúbal tinha 12 na conta, os últimos dois apontados por Neca (triunfo belenense no Bonfim por 0-1) e Cajú (vitória do Alverca em casa por 1-0).

Albert Meyong fazia parte da equipa do Vitória que à 8ª jornada em 2001/02 tinha 12 golos sofridos sob comando de Jesus

Está agora como o campeão Mortimore em 1976/77

Obviamente, os cinco pontos que o Sporting tem de recuperar têm mais relevância do que o número de golos sofridos. No Benfica, Jorge Jesus já conseguiu recuperar essa diferença e ser campeão.

Caso o consiga neste ano, irá fazer algo que não acontece desde 1976/77. O Benfica de John Mortimore sagrou-se campeão nacional nessa época e à oitava jornada tinha 11 golos sofridos. Curiosamente, estava a cinco pontos do líder de então: o Sporting.

Julen Lopetegui e Jesualdo Ferreira têm a melhor defesa da década com 13 golos sofridos pelo FC Porto, no final dos campeonatos 2014/15 e 2007/08

É um dos chavões do futebol. Aliás, dir-se-ia da maioria das modalidades coletivas: os ataques ganham jogos, as defesas campeonatos.

Se olharmos para os últimos dez anos, verifica-se que por sete vezes a melhor defesa correspondeu ao campeão da Liga, com o Benfica a dividir esse capítulo com o Sp. Braga em 2009/10.

A melhor temporada defensiva de Jorge Jesus em dez anos é a última em que esteve no Benfica. Sofreu 16 golos, o que não chegou para ser a equipa menos batida: Julen Lopetegui e o seu FC Porto admitiram apenas 13 golos, melhor registo dos últimos 10 anos, a par do Dragão de Jesualdo Ferreira em 2007/08.

A pior é ao serviço do Belenenses, mas seria injusto comparar os meios que os do Restelo tinham à disposição com aqueles que o treinador teve em Braga e sobretudo na Luz e em Alvalade.

No Belenenses, Jorge Jesus tinha nove golos sofridos à nona jornada nas duas épocas em que esteve no Restelo

Neste momento, o Sporting sofre 1,25 golos/jogo. É pior ainda do que esses tempos de Jesus no Restelo, pior também do que em 2005/06 quando terminou uma temporada que não começou em Leiria (1,23). Mas, como se disse, Jesus teve no Sporting, Benfica e até Sp. Braga jogadores que não teve nessas épocas.

Nesse sentido, apenas uma vez o técnico chegou ao final do campeonato com uma média acima de um golo sofrido por jogo: em 2010/11, a segunda época que esteve no Benfica (31 golos em 30 jogos).

Jesus está ciente da questão e foi o próprio que analisou o problema antes do Tondela:

«Os jogadores que saíram têm características diferentes de cada um dos nove jogadores que chegaram, que ainda não conhecem muito bem o processo defensivo da equipa. Quando se defende, defendem todos os sectores. Estamos com algumas dificuldades na primeira linha (ataque) em termos de intensidade defensiva. Acho que com o tempo o Bas Dost vai melhorar muito, como vai melhorar quem jogar ao lado dele. São jogadores que não faziam parte do onze inicial no ano passado. É uma questão de tempo, mas vamos ter as mesmas características que tínhamos no ano passado.»

Cabe a Jesus achar a solução. Um primeiro passo é perceber o problema, o que o técnico já parece ter identificado. Assim, o jogo na Madeira, um local tradicionalmente difícil para os grandes, vai ajudar a perceber se já há evolução leonina neste aspeto.

Neste momento, FC Porto e Benfica são as defesas menos batidas. Os azuis e brancos estiveram sempre melhor do que os rivais, à ronda 8, nos últimos 10 anos, com a exceção de 2009/10 (FC Porto seis golos sofridos, Benfica cinco).  

Já os encarnados estão na segunda melhor época dos últimos dez anos: só em 2007/08 fizeram melhor, com 3. Acabariam por ter Fernando Santos, Camacho e Chalana no banco e muito distantes do título. 

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