Uma tarde com os sub-23: «No início tive medo do Mathieu» - TVI

Uma tarde com os sub-23: «No início tive medo do Mathieu»

  • João Pedro Óca
  • 11 out 2019, 10:37

Dez jogos, dez vitórias. A equipa do Sporting na Liga Revelação está a fazer uma época perfeita. Eduardo Quaresma e Nuno Mendes revelam os segredos dos balneários de Alcochete

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17 anos de idade, quase metade no Sporting – desde o futebol de sete. O caminho de Nuno Mendes e de Eduardo Quaresma, ambos defesas, cruzou-se até à chegada à equipa principal para integrarem o último estágio de pré-época. Dos ralhetes de Marcel Keizer, ao ‘medo’ de Mathieu, aos conselhos do ‘pai’ Bruno Fernandes, esta é a história de duas das maiores promessas da formação do Sporting, que se estão a destacar na invencível equipa de sub-23. Silas, o aviso está aqui: «Temos mostrado que merecemos oportunidades».

MaisFutebol – Já jogam juntos há muitos anos. Estão cansados um do outro?

Nuno Mendes – Sinceramente, estou um bocado farto do Edu…(risos).

Eduardo Quaresma – Eu não estou um bocado, estou completamente… Não, a sério, já conheço tão bem o Nuno, que podíamos jogar de olhos fechados. Eu jogo a central pela esquerda, ele é defesa-esquerdo…

MF - Como tem sido a experiência na equipa sub-23 com apenas 17 anos?

EQ – Tem sido boa, é muito importante para um jogador como eu, que tem 17 anos, está num patamar acima, com jogadores mais velhos e mais experiência. A intensidade nos treinos e nos jogos é muito diferente daquilo a que estava habituado. Temos ganho os jogos todos e estou a crescer muito nesta equipa.

NM – Está a ser uma experiência muito boa, apesar de ainda ser júnior, estou a demonstrar a minha qualidade, isso vê-se durante o jogo, o mister apostou em mim e agora tenho de mostrar que mereço essas oportunidades. Aqui, nos sub-23, estamos mais próximos de chegar ao mais alto nível, que é a equipa principal.

Eduardo Quaresma (ao meio) e Nuno Mendes (à direita) num treino da equipa A

MF- Estavam à espera de um salto tão grande? Dos sub-17 para os sub-23 de uma época para a outra?

EQ – Não me importava de estar nos juniores, que é agora o meu escalão, mas foi com grande orgulho que recebi a informação de que iria fazer a pré-época com a equipa principal e, depois, integrar o plantel dos sub-23. O clube faz bem em apostar nestes saltos.

MF- O que tem aprendido com Leonel Pontes, um treinador com tanta experiência a trabalhar com jovens?

EQ – Tem-me ajudado muito, sobretudo em alguns aspetos em que não era tão bom, como a decidir mais rápido, no posicionamento. Tenho aprendido com o mister e também com os jogadores mais velhos, que me têm ajudado a evoluir muito.

MF- 10 vitórias em 10 jogos na Liga Revelação. Qual é o segredo?

EQ – Trabalhar no máximo nos treinos, não facilitamos e não damos nada a ninguém. Queremos sempre ganhar, ganhar mais do que os outros. Temos mais vontade do que os outros, por isso é que temos esse registo.

MF – Ambos fizeram a pré-época com a equipa principal, às ordens de Marcel Keizer. Como receberam a notícia?

NM – Estávamos todos numa sala, eu, o Eduardo, e mais outros colegas, mais jovens, da nossa idade. Disseram que, supostamente, eu e o Edu íamos fazer a pré-época com a equipa principal. No momento, fiquei só contente, mas depois subi até ao meu quarto e festejei muito e liguei logo aos meus pais.

EQ – Eu não comecei logo desde início a pré-época com a equipa A, ainda fiz uns treinos nos sub-23, depois é que fui para lá. Fiquei muito feliz, também liguei logo aos meus pais, que me deram os parabéns, e fiz uma publicação nas redes sociais porque é um motivo de orgulho.

MF - Como é que foram recebidos pelos mais velhos?

EQ- Estava muito nervoso, assim de cabeça baixa, e eu não sou assim, mas os jogadores da equipa A receberam-me muito bem, são jogadores e pessoas cinco estrelas, e eu fiquei mais tranquilo quando eles começaram a falar comigo e me integraram no grupo deles.

MF- Tiveram algum pai na equipa principal?

NM – Sim, o Bruno Fernandes acolheu-me, até porque trabalhamos com o mesmo empresário, e até hoje nos damos bem, apesar de eu já não estar a treinar-me com eles. Mantemos a amizade.

EQ – Eu comecei por ter medo do Mathieu no início(risos), mas considero-o como um pai, porque ele ajudou-me muito, assim como o Luís Neto e, obviamente, o Bruno Fernandes. Todos, sem exceção, me acolheram como deve ser.

MF - Foram para os estágios na Suíça e nos Estados Unidos. Eduardo, chegaste mesmo a estrear-te em Alvalade. Como te sentiste?

EQ – Na apresentação, eu estava nervoso, não sabia o que havia de fazer, mas, quando pisei pela primeira vez o relvado de Alvalade, fiquei muito feliz e foi um grande orgulho. No jogo [troféu Cinco Violinos, com o Valência], senti o apoio da bancada e correu bem. Foi um sonho tornado realidade, pisar o estádio José Alvalade com a equipa A.

MF- Houve alguma praxe quando chegaram ao balneário da equipa principal?

EQ – Primeiro, meteram-nos logo cientes das regras…(risos). Disseram logo para não chegarmos atrasados e eu cheguei logo no primeiro dia. Levei logo um ralhete do mister Keizer, nem respirei. Fiquei a olhar para ele e disse: ‘Ok, mister, desculpe…’. Disseram-nos para não ter o telemóvel à mesa e fomos praxados a cantar e a fazer um ‘discursozinho’…

NM – Eu safei-me bem a cantar…(risos)

MF- O que aprenderam com Marcel Keizer?

NM – Muitas coisas. É um bom treinador, não continuou por cá, mas desejo-lhe o melhor. Que tenha uma boa carreira.

EQ – É um grande treinador, chamar-nos para a equipa A revelou confiança da parte dele e da direção. Gostei muito de trabalhar com ele, aprendi coisas que hoje aplico em campo. Agradeço a oportunidade e espero que esteja tudo bem.

MF – E que opinião têm do novo treinador: Silas. Esperam as mesmas oportunidades?

EQ – Eu espero que sim. Obviamente que ele acompanha os jogos dos sub-23, espero que nos chame porque temos mostrado que merecemos. E eu já treinei com ele na equipa principal do Sporting, gostei muito e espero ser chamado mais vezes.

NM – É um bom treinador e tenho de trabalhar muito para lá chegar, mas acho que ele vai dar oportunidades a quem as merecer.

MF – Nuno, tem-se falado sobre a renovação de contrato, mas ainda não houve desenvolvimentos…

NM – Eu quero continuar, por isso vou continuar a mostrar o que valho.

MF- Sentem que os adeptos vos valorizam ainda mais por serem formados na Academia da qual saíram tantos jogadores que chegaram ao mais alto nível no futebol?

NM – Eu acho que é uma mais-valia ter jogadores da formação na equipa A. É sinal de que estamos a evoluir, o clube tem muita história na formação e há muitos jovens com qualidade na Academia que podem chegar à primeira equipa.

MF – Quais são as vossas referências no futebol?

NM – Alaba [Bayern Munique] e Marcelo [Real Madrid]. Antes dos jogos, vejo sempre um vídeo no ‘Youtube’ com os melhores momentos dos dois.

EQ -  Para mim, são o Van Dijk [Liverpool] e o De Ligt [Juventus]. São os centrais com os quais mais identifico.

MF – Como tem sido o vosso crescimento na Academia? Estão cá desde os 9, 10 anos…

EQ - Jogar num clube como o Sporting traz sempre mais responsabilidade, mesmo com 10,  11, ou 12 anos, é uma enorme responsabilidade, porque as pessoas olham para nós de forma diferente. Nós temos de crescer mais rápido do que os outros miúdos da nossa idade, temos responsabilidades, horários, temos de nos deitar cedo, comer bem, descansar bem. Tudo isso é bom para nós porque nos tornamos homens mais rápido.

MF – É difícil resistirem às tentações próprias da adolescência?

EQ – Eu estou mentalizado para aquilo que quero. Não saio muitas vezes à noite, estou focado, alimento-me bem, descanso bem…

NM – Eu vivo na Academia, aqui temos horas para comer, temos o descanso ideal e isso é bom. Faz-nos evoluir mais rápido do que se tivesse no meu bairro [da Boavista, Lisboa], por exemplo. Se neste momento estivesse num bairro complicado, não estava como estou agora: bem e preparado para tudo. Prefiro rodear-me dos melhores exemplos.

MF- Ainda há pouco, cruzámo-me com Frederico Varandas, aqui na Academia. Calculo que isso vos aconteça todos os dias. Como é a relação entre o presidente e os jogadores da formação?

EQ -  Cumprimento sempre o presidente, com respeito, claro. Ele passa por mim e diz: ‘Então, menino, como estás?’. E eu: ‘Estou bem, Sr. presidente, tudo ótimo?’. O presidente, e toda direção, apoia-nos, até porque já estivemos na equipa principal. Cumprimenta-nos sempre com um sorriso na cara.

NM – Sempre que passo pelo presidente, cumprimento-o com cara alegre, mesmo que esteja triste.

MF –  Vocês também passam por vários momentos tristes, apesar de se achar que vivem num mundo encantado, a cumprirem os vossos sonhos aqui na Academia?

NM – É difícil porque estamos longe dos amigos, da família, agora tenho menos amigos, sem dúvida.

MF – Têm sido chamados para quase todos os escalões da Seleção nacional. É motivo de orgulho?

EQ – A Seleção também nos ajuda a crescer muito, dá-nos maior visibilidade em relação a outros clubes. Estive no último europeu sub-17, não correu tão bem, mas as gerações anteriores passam-nos sempre a responsabilidade. A nossa geração referência é a de 99’ que foi campeã da Europa de sub-17 e de sub-19. Todos os escalões na seleção tentam fazer o que eles fizeram.

NM – Eu esforço-me no Sporting também com o objetivo de jogar na Seleção. Se não dermos tudo no clube, não somos chamados, mas eu como eu dou o que tenho, fui chamado agora aos sub-19, um escalão acima.

MF – A vossa geração tem jogadores como o Fábio Silva, que já se fixou na equipa principal do FC Porto. Ficou surpreendido com a ascensão dele?

EQ – Não, nada. Já o conheço há muito tempo e sempre achei que tem grande qualidade. Não tem muitos minutos, mas treina-se com os mais velhos, evolui rápido e desejo-lhe tudo de bom.

MF - Vocês, mais jovens, mostram que são muitos amigos fora de campo, independentemente do clube que representam. Fazem questão de promover essa amizade para dar uma amostra de fair-play?

EQ – Na nossa geração, tenho grandes amigos como o Fábio Silva, o Tomás Esteves [FC Porto], no Benfica o Paulo Bernardo, entre outros. Como sou capitão da minha geração na Seleção, dou-me bem com todos os meus colegas, de outros clubes. Distinguimos perfeitamente o que é a amizade fora de campo do que é jogar uns contra os outros em clubes rivais.

NM – Na seleção, tentamos sempre ter uma boa amizade, um bom ambiente. Dentro de campo é uma coisa, mas, quando saímos do relvado somos amigos na mesma.

 

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