Taça: o Jamor suspendeu a crise leonina, mas por pouco tempo - TVI

Taça: o Jamor suspendeu a crise leonina, mas por pouco tempo

Sporting

Adeptos do Sporting esqueceram a semana atribulada por algumas horas, mas a derrota na final da Taça confirmou a divisão no clube

Bem cedo o Jamor ficou com a decoração habitual para a festa-rainha. Copo na mão, porco no espeto, bifana na grelha. Os adeptos do Desp. Aves tiveram de fazer-se à estrada de madrugada para a estreia na mata, e os do Sporting já sabem que vale a pena madrugar, pois o melhor da final é mesmo o pré-match.

Ainda antes de almoço já há quem aproveite as grades da polícia para um jogo de futevólei ou quem jogue uma cartada à sombra, ainda que o sol não esteja muito forte. Os parques já estão bem compostos, e do lado dos adeptos sportinguistas é normal que o convívio arranque com conversas sobre a semana atribulada. Sobre as suspeitas de corrupção que afastam o «team manager» André Geraldes do jogo, por ordem do tribunal, mas sobretudo sobre as agressões ao plantel na Academia de Alcochete e a conferência de imprensa do presidente Bruno de Carvalho, que decidiu não marcar presença no Jamor.

Mas o prazer do convívio rapidamente leva a conversa para outros lados, e o dia parece tão animado quanto manda a tradição. O reforço policial é discreto, e o evento parece ter a tranquilidade necessária para as crianças que vão chegando pelas mãos dos pais.

Adepto leonino, Paulo Renato prepara-se para levar o filho de sete anos à carrinha de um patrocinador da prova quando é interpelado pela reportagem do Maisfutebol. «Hesitei um pouco mas decidi trazê-lo. O que se passou acabou por não alterar a minha decisão. Acredito que vai ser um jogo super tranquilo e as pessoas vão aproveitar este momento negativo para refletir», diz-nos.

Pedro Varela não pensou da mesma forma. Um dos responsáveis pelo podcast Sporting160, que tem feito sucesso entre os adeptos leoninos, confessa que optou por resistir aos pedidos do filho, de 11 anos, que queria ir ao Jamor.

Ainda assim acredita que «a festa vai ser igual». «A claque também vai estar pressionada e não há interesse em estragar a festa. Os adeptos vão ter algumas horas para esquecer o momento que o clube atravessa e aproveitar a festa», perspetiva.

Entramos pela tarde e intensifica-se o convívio entre adeptos do Sporting e do Desp. Aves, mas não só. De repente aparecem duas camisolas do Caldas. «Sou o presidente. Arranjámos 20 bilhetes e vieram os elementos da direção com as famílias», explica o líder do clube que foi eliminado pelo Desp. Aves nas meias-finais. «Estar aqui neste ambiente traz um sentimento de frustração mas também de orgulho», acrescenta Jorge Reis, garantindo que, em caso de passagem à final, os jogadores do Caldas teriam almoçado com os adeptos na mata.

Pouco antes das 15 horas abrem as portas do estádio e Francisco Mendes avança. Dirigente do Sporting Clube de Nisa, garante-nos que o ambiente no Jamor «está melhor ainda». «Os adeptos estiveram alheados dos problemas, e este jogo serve para mostrar a nossa força», acrescenta o adepto leonino, relativizando a instabilidade no clube: «Os dirigentes passam, o Sporting continua.»

Na Tribuna de Honra do Estádio Nacional, a representar o Sporting, está o presidente da mesa da Assembleia Geral da SAD, João Sampaio, e o presidente do Conselho Fiscal da SAD, Rui Moreira de Carvalho. Foram estes os dois nomes indicados pelo Conselho Diretivo, pelo que o presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube, Jaime Marta Soares, tem de sentar-se na bancada, mesmo ao lado da imprensa. Ao ocupar o seu lugar tanto ouviu insultos como palavras de incentivo de adeptos que desejam a demissão de Bruno de Carvalho, como o caso de Gonçalo, filho de Pedro Santana Lopes, que por ali também se sentou (o pai estava na Tribuna de Honra).

Algumas filas acima de Marta Soares estava Eduarda Proença de Carvalho, vice-presidente da mesa da AG. Quando se cantou «O Mundo sabe que…» no Jamor, ainda antes da entrada em campo das equipas, a dirigente demissionária emocionou-se.

Os adeptos do Sporting pareciam unidos no apoio à equipa, até a avaliar pela forma como a receberam no aquecimento, ou mesmo durante a divulgação do «onze». Os aplausos para Rui Patrício, Bas Dost ou Jorge Jesus só foram mesmo batidos pela ovação dedicada a Paulinho, o carismático roupeiro.

A família leonina parecia preparada para colocar os problemas de lado e festejar uma conquista, mas o Desportivo das Aves tinha outros planos e os golos de Alexandre Guedes colocaram o dedo na ferida.

Se o primeiro tento ainda gerou uma reação positiva, de incentivo à equipa, o segundo confirmou uma divisão na família leonina. «Joguem à bola», gritou-se da zona das claques, enquanto outros setores insistiam nos aplausos como prova de fé na equipa, algo a que renunciaram todos aqueles que viraram costas e foram para casa ao minuto 72.

O Sporting ainda marcou, mas não evitou mais uma ferida aberta. A subida à tribuna de honra teve aplausos solidários, mas também lamentos emocionados e insultos de raiva. Antes de subir os últimos degraus, a escassos metros de Fernando Santos, o primeiro a cumprimentá-lo, Jorge Jesus fez um gesto com as mãos, como que a dizer «acabou».

Na sala de imprensa o treinador leonino não respondeu a perguntas e lembrou que a semana começou com um «filme de terror». A imagem de Rui Patrício lavado em lágrimas, no final do jogo, ilustra o desgaste emocional a que estiveram submetidos os jogadores do Sporting, nos últimos dias.

O ambiente do Jamor ainda suspendeu a crise do Sporting por algumas horas, mas não mais do que isso. A ferida continua aberta. Talvez ainda mais.

 

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