Victor Constâncio explica tudo sobre a crise do «Suprime» - TVI

Victor Constâncio explica tudo sobre a crise do «Suprime»

Vítor Constâncio

O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio falou sobre a crise do crédito hipotecário de alto risco (subprime) nos Estados Unidos.

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Sobre as razões e consequências da crise do «subprime», Constâncio diz que esta crise do crédito hipotecário de alto risco (subprime) nos Estados Unidos «não tem assumido proporções maiores do que se previa, mas os excessos cometidos e a distribuição do risco por muitos agentes em vários países que compraram títulos e instrumentos derivados associados a esse crédito criaram um problema de falta de informação sobre quem é que vai suportar as perdas do incumprimento» desse crédito imobiliário e sobre a dimensão dessas perdas.

Para o Governador é isso que explica a quebra de liquidez em vários mercados. «A falta de liquidez de mercado, que não se deve confundir com liquidez monetária, consiste em não existirem ou serem escassas as transacções por falta de agentes financeiros dispostos a transaccionar a um determinado preço. A falta de liquidez neste sentido está ligada a uma quebra de confiança que se gerou essencialmente por faltar o tipo de informação referida. Existe também um efeito de contágio para outros tipos de instrumentos no contexto de um processo geral de revisão da avaliação do risco. Isto tem afectado segmentos importantes do mercado de títulos de dívida privada (a pública tem continuado a ter muita procura), desde o de papel comercial até vários tipos de obrigações».

Actuação do BCE

Para o Governador, as intervenções iniciais do BCE normalizaram o mercado monetário interbancário até uma semana, tendo sempre conseguido trazer a taxa do «overnight» para valores próximos da taxa definida pela política monetária.

Mas, «visto que não tem existido uma transmissão para prazos mais longos, por não existirem agentes financeiros dispostos a transaccionar para essas maturidades, o Conselho de Governadores do BCE decidiu fazer uma intervenção extraordinária a 3 meses de 40 mil milhões de euros, realizada no final de Agosto, e no dia 6 de Setembro decidiu realizar outra na semana seguinte, sem fixar previamente quer a quantidade quer a taxa», referiu.

O objectivo foi introduzir liquidez a prazos mais longos, de forma a estimular os agentes a recomeçar a transaccionar nesses prazos.

«A responsabilidade de um Banco Central é manter em funcionamento o mercado monetário de curto prazo e temos feito o necessário para normalizar o segmento interbancário. Tendo em conta a turbulência dos mercados e a grande incerteza existente», o Conselho de Governadores do BCE, órgão que decide a política monetária, deliberou manter o nível das taxas de juro e «recolher informação adicional e examinar novos dados antes de tirar outras conclusões para a política monetária».

«Isto também contribui para assegurar aos mercados que o BCE não ignora as dificuldades da situação actual, sem prejudicar o cumprimento do objectivo, que lhe é definido pelo Tratado, de garantir a estabilidade dos preços na área do euro».

Em qualquer caso, a revisão em curso da avaliação do risco já implica um aumento do custo do financiamento e significa que acabou o ciclo do crédito fácil para agentes e instrumentos de mais alto risco.

Situação do sistema financeiro português

O Banco de Portugal analisou também com as instituições bancárias a situação de liquidez, actual e previsional, bem como a dos respectivos mecanismos de gestão. Estes eram os aspectos imediatamente mais importantes a analisar. Evidentemente, a evolução dos mercados em geral e para além dos associados ao problema do mercado subprime poderá vir a revelar outros problemas de valorização de activos.
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