Benfica-Sporting: heróis improváveis, estreias de fogo e reencontros - TVI

Benfica-Sporting: heróis improváveis, estreias de fogo e reencontros

Cerimónia de abertura da Supertaça ( FPF/ Diogo Pinto)

Eternos rivais vão discutir entre eles pela quarta vez a Supertaça. O Maisfutebol viajou até às três anteriores, a primeira delas em 1980, quando a prova ainda não tinha sido homologada pela Federação Portuguesa de Futebol

FC Porto-Benfica (11), Sporting-FC Porto (4), FC Porto-Boavista (4). Até agora, tudo duelos mais repetidos na Supertaça do que o dérbi dos dérbis.

A história dos eternos rivais até pode ser secular, mas neste domingo vai presenciar apenas o quarto capítulo na prova que consagra o vencedor do primeiro troféu da temporada.

Ainda assim não lhe faltam histórias de heróis improváveis, estreias de fogo e o sal e pimenta habituais dos dérbis. Venha daí.

Depois de um empate em Alvalade a dois golos, Benfica venceu o Sporting por 2-1. Foi o primeiro título em 1980/81 das águias, que venceriam também a Taça de Portugal e o campeonato

A última Supertaça oficiosa, a primeira do Benfica

Um ano antes, FC Porto e Boavista tinham disputado entre si a primeira edição da Supertaça. A prova arrancou devagar, só foi homologada pela Federação Portuguesa de Futebol em 1981, e no ano em que o domínio do futebol português voltou a virar a sul, foi preciso que Sporting e Benfica chegassem a um entendimento para a realização da mesma.

O primeiro jogo, realizado em Alvalade a 10 de setembro de 1980, terminou com um empate a dois golos e cumpriu com as expetativas de um dérbi: bons golos, boa casa e suspense. Os encarnados foram para o intervalo a vencer por 2-0 (golos de Carlos Manuel e César), mas Jordão bisou na etapa complementar.

A 29 de outubro, tira-teimas na Luz. De um lado, o Benfica acabado de sofrer o primeiro tropeção (e os primeiros golos) no campeonato: derrota nas Antas com o FC Porto por 2-1, após um arranque imaculado com sete vitórias em sete jogos e 19 golos marcados e nenhum sofrido. As crónicas da época falam de um Sporting com mais iniciativa, perante uma equipa encarnada que se apresentou com várias alterações no alinhamento inicial. Jordão voltou a marcar à antiga equipa e adiantou os leões de penálti aos 25 minutos, mas Nené empatou na recarga a um castigo máximo desperdiçado por João Alves. Aos 86 minutos, Vital deu a primeira Supertaça ao Benfica num golpe de cabeça.

O árbitro sem medo

Dérbi que é dérbi raramente passa isento de casos, reais ou fictícios, e Fernando Mendes, treinador dos leões, criticou o trabalho do árbitro Nemésio de Castro, particularmente no lance do penálti que originou o golo do empate. «Foi pena que o Benfica necessitasse de um favor do árbitro para empatar a partida. Inclusivamente, o ‘liner’ disse aos jogadores do Sporting que, se houve falta, tinha sido fora da área», referiu, considerando que o castigo máximo foi assinalado a pedido do «terceiro anel».

Fernando Mendes não ficou sem resposta. Ouvido por A Bola, o juiz saiu em defesa da própria honra e aproveitou para esclarecer um mal-entendido. «Eu é que gritei ‘fora da área’… mas era simplesmente para os jogadores do Sporting saírem dela, para ser marcada a grande penalidade. (…) Terceiro anel? Ando nisto há vinte e três anos: não tenho medo de ninguém.»

Silvinho faz segundo golo do Sporting na vitória sobre o Benfica por 3-0 na Luz em 1987. Foi a estreia de Toni como treinador principal dos encarnados (Gazeta dos Desporto - Hemeroteca Municipal de Lisboa

A estreia de Toni...

O empate na Luz com o Farense, a 28 de novembro, foi a gota de água: o dinamarquês Ebbe Skovdahl acabou demitido e a direção nomeou Toni, que ia ter, contra o Sporting, o primeiro jogo da carreira como treinador principal do Benfica. O duelo com os leões - referente à 1.ª mão da Supertaça, a 6 de dezembro de 1987 – aconteceu escassos dias após uma viagem à Arábia Saudita, onde os encarnados realizaram um particular no âmbito das celebrações dos 50 anos do Al-Ahli. Avisando para a necessidade de correr riscos, Toni apostou num onze menos rodado e o Sporting aproveitou para se impor na Luz por expressivos 3-0.

… e o herói improvável Vital

Os golos da equipa de Alvalade fora apontados por Edmundo (na própria baliza), Silvinho e Paulinho Cascavel. Mas foi Jorge Vital – que ocupou a baliza no lugar de Damas, operado dias antes a um ombro para debelar uma lesão provocada por um choque com o inglês Tony Sealy num treino – quem mais deu que falar. «O Estádio da Luz pôde ontem ver um dos melhores guarda-redes do futebol português. (…) Nem um único deslize durante os 90 minutos, e se tivéssemos de o pontuar, a nota máxima seria pouca», escreve a Gazeta dos Desportos.

Na ressaca da noite heroica, a vida e obra do agora treinador de guarda-redes do Sp. Braga foi esmiuçada por A Bola. Ficou a saber-se que durante dois anos falsificou a assinatura da mãe para jogar futebol, que esteve uma semana à experiência no Benfica e que chegou a conciliar a prática do desporto-rei com o hóquei, modalidade para a qual até achava ter mais jeito.

No jogo seguinte, duas semanas depois, Vital voltou a manter a baliza a zeros, na vitória do Sporting por 1-0 com golo de Silvinho. Foi a única conquista em 1987/88 dos leões, que terminaram o campeonato no quarto lugar. «Um raio de sol não faz o verão», disse o treinador Keith Burkinshaw após o triunfo robusto na Luz. Tinha razão: o sol brilhou pouco para o inglês, que a meio de janeiro deixou a equipa.

Leões derrotaram o Benfica na Supertaça em 2015. Foi o primeiro jogo oficial de Jorge Jesus ao serviço do Sporting enquanto treinador

O reencontro

Foi há quatro anos e dificilmente o leitor não manterá ainda gravado o essencial dos factos. Jorge Jesus deixou o Benfica após conquistar o primeiro bicampeonato para as águias em mais de 30 anos e rumou ao Sporting. Escusado será dizer que o jogo da Supertaça chega com feridas abertas e no auge de um verão quente como há muito não se via nas relações entre os eternos rivais.

Na conferência de imprensa de lançamento ao primeiro jogo oficial como treinador dos leões – precisamente contra a antiga equipa – Jesus acumula elogios, alguns deles superlativos, aos antigos jogadores: «Super-educados», «super-preparados», «categoria», «experiência», «de outro patamar». Um fartote.

Pelo meio, dirige ainda uma mensagem a Rui Vitória, com quem acaba de iniciar uma relação tensa que conhecerá muitos outros episódios. «Só tenho de dar os parabéns ao treinador do Benfica porque manteve tudo numa equipa que ganhou tudo nos últimos anos.» Tudo isto uns dias depois de dizer em entrevista à RTP que as águias não tinham mudado nada, mas tinham perdido o cérebro. Ele mesmo, claro está!

«Respondo e falo com quem quero, quando quero e quando a minha cabeça decide», disparou o novo treinador dos encarnados em resposta ao homólogo leonino.

No jogo, o Sporting teve mais cérebro e levou a melhor por 1-0, com um golo de Teo Gutiérrez. No final, Jonas pegou-se com Jesus, o técnico leonino referiu-se ao episódio com um mal-entendido e aproveitou para dar mais uma alfinetada, ao dizer que os encarnados, que subiram ao relvado com um duplo pivot no meio-campo (Samaris e Fejsa), tiveram medo do Sporting. «O treinador do Sporting fica a falar sozinho porque não me apetece falar com ele», respondeu Rui Vitória, que só ao quarto e último duelo da época frente a Jesus conseguiu levar a melhor.

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