Atenção Belenenses: no balneário do Shakhtar fala-se do Pevidém - TVI

Atenção Belenenses: no balneário do Shakhtar fala-se do Pevidém

Filipe Sousa - jogador do Pevidém

Filipe Sousa joga nos distritais, mas acumula o gosto pelo futebol com a nutrição. É nutricionista do Desp. Aves e dos ucranianos do Shakhtar Donetsk. No sábado defronta o Belenenses em jogo da Taça de Portugal e apresenta-se ao Maisfutebol

A Vila de Pevidém, pertencente ao concelho de Guimarães, vive no próximo sábado aquela que será a página maior da sua história desportiva. O clube da terra, que tem o mesmo nome da vila e disputa os campeonatos distritais da AF Braga, joga com um dos grandes do futebol português em jogo da 3.ª Eliminatória da Taça de Portugal.

Há jogos de maior nomeada nesta ronda da prova rainha do futebol português, é claro, mas na vila com quase seis mil habitantes o jogo de cartaz é, sem sombra de dúvidas, o Pevidém-Belenenses. Fazem-se os preparativos para o grande jogo, retoca-se o relvado e ensaia-se o discurso de David contra Golias, sonhando-se com o papel de tomba-gigantes como em todos os episódios de equipas dos distritais que medem forças com emblemas da Liga.

Mas, atenção Belenenses. O Pevidém é falado até no balneário dos ucranianos do Shakhtar Donetsk. Trata-se de uma questão de nutrição. Como? O Maisfutebol explica com recurso à primeira pessoa, apresentando Filipe Sousa, lateral direito do Pevidém. Ou melhor, o senhor nutricionista do Desp. Aves e do Shakhtar Donetsk.

Filipe Sousa é natural de Guimarães e fez toda a formação futebolística no Vitória, tendo depois assinado contrato profissional. Foi emprestado sucessivamente ao Amarante, ao Lousada e ao Ribeirão antes de se vincular ao Desp. Aves, onde jogou com jogadores como Quim e Fábio Martins no segundo escalão.

O futebol passou para um plano secundário para apostar numa carreira na nutrição.

Janela como nutricionista fecha porta ao futebolista

O Desp. Aves foi precisamente a porta de entrada de Filipe Sousa no futebol ao mais alto nível, mas como nutricionista. O jogador, ou nutricionista, como preferir, explica tudo.

«A minha carreira de jogador cruzou-se com a nutrição há cerca de quatro anos, quando estava a acabar o curso de nutrição. A minha ideia sempre foi tentar continuar a trabalhar no futebol. Felizmente comecei no Aves, onde ainda estou atualmente. Entrei no ano de subida de divisão, ainda era estagiário da nutrição, fui eu que sugeri e eles aceitaram-me porque também me conheciam de ter sido jogador lá. Criei uma boa relação com as pessoas e acabei por ter essa benesse. Como o clube não tinha ninguém a dar esse apoio e felizmente nesse ano em que estou lá em estágio o Aves sobe à primeira, é um ano em que reforça a sua estrutura e o seu departamento médico e acabam por ficar comigo quase a tempo inteiro.»

Filipe Sousa no Jamor com a taça conquistada pelo Aves em 2018

Estava aberta uma janela de oportunidade para Filipe Sousa no futebol, mas, por outro lado, fechava-se a porta do seu «sonho de menino», uma vez que, como o próprio admite, teve de abdicar de ser jogador profissional. Uma escolha racional, até porque o potencial é maior na nutrição, reconhece.

«A partir do momento em que o Aves sobe à Liga sou obrigado a tomar uma decisão: ou jogador ou nutricionista. Pensei no meu futuro e fiquei no Aves a tempo inteiro. É aí que surge uma imposição: para continuar a jogar futebol teria de ser num clube que jogasse ao final do dia, para poder conciliar as duas vertentes», sublinha.

Em Donetsk perguntam pelo «nosso Pevidém»

Com vários golos marcado como nutricionista no emblema avense, Filipe Sousa chamou a atenção do Shakhtar Donetsk a ponto de o nutricionista de 28 anos passar a colaborar também com os ucranianos. «Um orgulho poder mostrar o trabalho que os nutricionistas fazem e que é reconhecidamente bem feito», atira o nutricionista.

Como se proporcionou, então, esta colaboração? Filipe Sousa volta a explicar. 

«É uma situação recente. Comecei a colaborar com o Shakhtar no ano passado, a partir de novembro. Eles procuravam um apoio nesta área da nutrição, sabiam que em Portugal esse trabalho é muito bem desenvolvido, sendo que a equipa técnica portuguesa também facilitou os contactos, e foi estabelecida uma parceria para eu colaborar com eles. Felizmente continua uma equipa técnica portuguesa, na época passada o trabalho foi bem feito e este ano demos continuidade.»
 

Filipe Sousa com o cachecol do Pevidém no recinto do clube vimaranense.

A história de Filipe Sousa é conhecida no clube ucraniano e, por isso mesmo, as brincadeiras são inevitáveis. «O ano passado era uma brincadeira que eles faziam comigo. Diziam: ‘Não tens aí duas fotografias e cartão de cidadão para dares aqui uma ajuda?’», perguntavam os jogadores do emblema que na altura era orientado por Paulo Fonseca e, neste momento, é orientado por Luís Castro.

Precisamente Paulo Fonseca, atualmente ao serviço da Roma, parabenizou Filipe Sousa e o Pevidém pela conquista da Taça AF Braga, uma espécie de Taça de Portugal a nível distrital, conquistada precisamente pelo Pevidém na última época.

«É engraçado que eles perguntam sempre pelo Pevidém, perguntam sempre ‘como é que está o nosso Pevidém?’. Ganhámos a Taça AF Braga no ano passado e marcou-me muito o mister Paulo Fonseca mandar-me uma mensagem a dar os parabéns ao Pevidém», conta.

«Motivação» e «confiança» mas com consciência do «andamento diferente»

Por certo, também esta eliminatória da Taça de Portugal será tida em conta no balneário do Shakhtar. Afinal de contas, o nutricionista do clube viverá um dos jogos mais marcantes da carreira. Falemos então desse jogo. Na Vila de Pevidém está tudo «entusiasmado», Filipe Sousa também, mas ao mesmo tempo ciente do nível diferenciado entre as duas equipas.

«Estamos confiantes porque vimos de uma série muito boa, além do entusiasmo também há alguma confiança, mas o nível é completamente diferente e nunca nos podemos esquecer disso. Vejo muita gente a dizer que a motivação é diferente, são jogos de noventa minutos e tudo pode acontecer, mas o que é certo é que as equipas da Liga mesmo num momento menos bom a intensidade é completamente diferente», reconhece.

A motivação e a confiança é facilmente explicada. Apesar de o Pevidém ser um clube dos distritais treina todos os dias e num relvado natural; na opinião do lateral a estrutura tenta assemelhar-se aos profissionais e, para além, disso a equipa lidera o Pró-Nacional com uma série vencedora. O facto de o jogo se realizar em casa pode ser também um ponto a favor da equipa vimaranense.

Filipe Sousa com o esférico, em jogo do Pevidém.

«Poder receber o Belenenses em nossa casa, no nosso estádio, ainda acaba por ser uma motivação maior para nós. Acho que pode fazer toda a diferença. Primeiro porque em casa temos um registo só com vitórias e não temos sequer golos sofridos no campeonato. Isso joga a nosso favor, conhecemos o campo, vamos ter os nossos adeptos, por isso, acho mesmo que tudo isto pode jogar um pouco a nosso favor e o Belenenses chegar cá e pensar um pouco que vai jogar contra uma equipa do distrital, os jogadores não vêm com a motivação acrescida de um jogo da Liga, estão à espera de jogar contra jogadores sem experiência e que nunca jogaram jogos importantes», diz Filipe Sousa, que considera que a sua experiência de nutricionista em jogos de maior nomeada pode também ser um indicador importante.

Que role a bola, no próximo sábado a partir das 15horas no Campo Albano Martins Coelho Lima, em Pevidém. O nutricionista ou jogador Filipe Sousa será um dos protagonistas. Mas afinal, é nutricionista ou futebolista? A questão serve de remate final.

«Tenho mais potencial como nutricionista, foi por isso que ao ter de optar, optei pela nutrição. Vou sentir sempre alguma frustração de não alcançar o sonho do futebol, mas também tive a consciência de escolher uma profissão que me permite estar ligado ao futebol e chegar ao mais alto nível como nutricionista, o que nunca conseguiria como jogador, se calhar por falta de qualquer coisa na hora certa, como a estrelinha como nutricionista de entrar no sítio certo na hora certa. Aquela pontinha de sorte que me faltou como jogador tive como nutricionista. Sou muito mais nutricionista do que fui e sou jogador», remata, de forma convicta, com sorrisos. Mas atenção, no sábado o nutricionista será jogador e quer muito, tal como o Pevidém, fazer uma gracinha.

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