Taça de Portugal: Beira-Mar-Marítimo, 5-4 a.p. (crónica) - TVI

Taça de Portugal: Beira-Mar-Marítimo, 5-4 a.p. (crónica)

Um sonho de 20 anos com pernas para andar

Terá sido ele a mostrar-lhes o caminho?

Teriam os quadros e os blocos de notas sido substituídos por imagens daquela final em 1999?

Quando Ricardo Sousa montou a equipa para defrontar o Marítimo, talvez ainda se lembrasse daquela sensação, daquela ousadia que lhe invadiu o corpo e a mente.

Não era um Beira-Mar qualquer o que entrou em campo, era um Beira-Mar orientado por alguém que já sabia o que era preciso para fazer Taça, para alcançar a glória.

E assim entrou em campo, cego pela vontade de fazer algo inesquecível, aproveitando tantos dos exemplos que já tinha de dias anteriores. Entraram para ser tomba-gigantes e isso viu-se e sentiu-se, umas vezes de forma mais intensa, outras nem tanto. Afinal de contas, do outro lado estava um Marítimo de primeira também, disposto a cumprir com a sua teórica obrigação.

Um pequeno gigante fez Aveiro estremecer

A entrada do Beira-Mar foi astuta e destemida, claramente de quem queria assumir as rédeas do encontro. A bola era bem trocada, várias jogadas ao primeiro toque, boas combinações na frente. No entanto, à formação aveirense faltava sempre algo mais para chegar com perigo à baliza adversária.

Foi por isso com alguma surpresa que, de uma bola meio perdida na área do Marítimo, o «Beira» chegou ao golo. Aos 16 minutos, João Nogueira, de apenas 1,73 m, mostrou que os pequenos também são gigantes quando é preciso e cabeceou de forma certeira para o fundo das redes guardadas por Amir.

O golo despertou o Marítimo, já avisado que várias equipas da Liga tinham tombado na mesma fase. A formação insular não apresentou grande critério nas transições ofensivas nem nas combinações, mas foi capaz de ir levando a água ao seu moinho e criar algum perigo junto à baliza aveirense. Destaque para um remate do aniversariante Maeda, já próximo do intervalo, com a bola a passar muito perto do poste da baliza de Hugo Carvalheira.

Uma luz vinda lá de onde o Sol nasce

O figurino para o segundo tempo manteve-se, o Beira-Mar voltou a entrar com mais vontade, mas o Marítimo deu uma resposta mais válida e conseguiu criar várias oportunidades de perigo. A bola parada ia fazendo moça, mas foi de um lance de bola corrida que o placar voltou a mexer. Ao excelente cruzamento de Rúben Ferreira, o japonês Maeda, aniversariante, correspondeu de cabeça ao segundo poste e restabeleceu o empate para os insulares.

Motivado pelo tento, o Marítimo partiu para a frente e conseguiu criar mais perigo, não sem que aqui e ali o Beira-Mar fosse espreitando o golo.

Quem espreitou pelo canto do olho o golo foi Zainadine. Sempre de olho na bola, o central encostou da melhor forma uma bola colocada ao milímetro por Rúben Ferreira, na cobrança de um livre. O Marítimo estava na frente pela primeira vez aos 83 minutos, gelando o Municipal de Aveiro.

Não há cabeça para tanto!

São poucas as vezes que um jogo teve quatro golos de cabeça, menos aqueles em que todos eles foram apontados da mesma maneira, mas este deu até para isso. E em boa hora, estariam a dizer os adeptos do Beira-Mar quando viram Isaac Cissé dar uma cabeçada no desespero e voltar a fazer sonhar.

Aos 90+3’ de 5 minutos de compensação, o avançado restabeleceu o empate e levou o jogo para prolongamento, levando o banco e os adeptos do Beira-Mar à loucura.

«O anti-Miottico para sonhar»

Depois de um prolongamento sem grandes motivos de interesse, o jogo foi para o desempate por pontapés de penáltis. E eis que Ricardo Sousa lançou a sua arma-secreta.

Gabriel Miotti, habitual titular das redes aveirenses, foi lançado no jogo já perto do final, aproveitando a quarta substituição, e entrou para virar herói.

Na primeira conversão do Beira-Mar, Fábio Vieira permitiu a defesa de Amir, e foram muitas as unhas roídas a cada rodada. Na «negra», o capitão do Marítimo tinha a oportunidade de enviar os seus colegas para a próxima fase mas permitiu a defesa de Miotti, que revelou ser um dos poucos com sangue frio para aguentar o nervosismo imenso que se fazia sentir.

Seguiram-se as conversões de Cissé, com sucesso, e de Marcelinho, que falhou e colocou o Marítimo na corda bamba. No penálti decisivo, Yannick não vacilou e levou à loucura os milhares de adeptos presentes nas bancadas. Afinal de contas, houvera Taça outra vez, desta feita em Aveiro.

FILME DO JOGO

Estiveram tão perto e tão longe, mas conquistaram o direito de sonhar, e ele, Ricardo Sousa, também.
 

FICHA DE JOGO

BEIRA-MAR: Hugo Carvalheira, João Nogueira, Isaac Kwakey, Edgar Almeida, Rodolfo Simões, Rui Sampaio, Fábio Vieira, Yanick Semedo, Diego Raposo, Pedro Aparício e Cícero Semedo.

SUPLENTES UTILIZADOS: Boateng, Isaac Cisse, Adson Silva, Motti.

SUPLENTES NÃO UTILIZADOS: Pellegrini, Caminata, Frank Abbeyson.

MARÍTIMO: Amir, Nanu, Zainadine, Grolli, Rúben Ferreira, René, Bambuen, Edgar Costa, Correa, Maeda e Getterson.

SUPLENTES UTILIZADOS: Nequecaur, Rodrigo Pinho, Marcelinho, Vukovic.

SUPLENTES NÃO UTILIZADOS: Charles, Bebeto, Pelágio.

DISCIPLINA:
Amarelos: 34’ Nanu (Marítimo), 44’ Grolli (Marítimo), 52’ Getterson (Marítimo), 52’ Yannick Semedo, 56’ Hugo Carvalheira, 85’ Rúben Ferreira, 90’ Adson Silva, 90+2’ Rodolfo Simões (Beira-Mar), 110’ Pedro Aparício (Beira-Mar), 115’ Fábio Vieira (Beira-Mar)
Vermelhos: -

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