Festa em Vildemoinhos: a tarde foi de um contabilista e de um vendedor - TVI

Festa em Vildemoinhos: a tarde foi de um contabilista e de um vendedor

Lusitano-Nacional

Sala de imprensa do clube está na sede, ainda longe do estádio

Pela primeira vez nos seus 112 anos de vida, o Lusitano Futebol Clube acaba de garantir um apuramento para a IV Eliminatória da Taça de Portugal. Também pela primeira vez, os ‘trambelos’ (assim são conhecidos os habitantes de Vildemoinhos, em Viseu) deixam pelo caminho uma equipa da I Liga e podem sentir o que é ser um ‘tomba-gigantes’ na prova rainha do futebol português.

A vitória e a passagem à próxima ronda chegaram após um jogo muito disputado e emotivo, apenas decidido no prolongamento e com um ‘score’ de sete golos. Nada mau para um duelo entre o actual 9.º classificado da série B do Campeonato de Portugal e o 17.º da I Liga, numa tarde de domingo que se apresentou cinzenta e na qual a chuva ameaçou – mas não conseguiu - estragar a festa da Taça.

Após o apito final de Artur Soares Dias, os festejos e a emoção tomaram conta do relvado e das bancadas, com os sócios e adeptos do Lusitano a celebrarem efusivamente uma das maiores conquistas do clube até aos dias de hoje, num dia que irá certamente ficar gravado na memória (individual e colectiva) das gentes de Vildemoinhos.

Nuno Rodrigues: 120 quilómetros para treinar quatro vezes por semana

O médio Nuno Rodrigues foi um dos grandes heróis da eliminatória ao apontar o primeiro golo do Lusitano no encontro. No final da partida, o jogador falou aos jornalistas na sala de imprensa (situada a cerca de 100 metros do estádio, na sede do clube) e começou por dizer que «toda a equipa espera encontrar um grande» na próxima eliminatória e, de preferência, em Vildemoinhos.

«Ainda não estamos bem cientes do que fizemos. Quando chegar a casa e começar a descansar é que vou perceber», confidenciou o jogador de 23 anos, natural de Póvoa de Midões (Tábua) e que faz cerca de 120 quilómetros para poder treinar, quatro vezes por semana.

CRÓNICA DO JOGO: o que é Lusitano é bom, a festa «trambela»

«Amanhã, quando chegar ao café, as pessoas vão olhar para a televisão e para os jornais e perceber este feito fantástico. Vamos receber mais carinho e queremos continuar a fazer história», afiança o jogador formado no Tourizense e na Académica de Coimbra, que como sénior já representou o Oliveira do Hospital, o Pedras Salgadas e o Gafanha (na época passada).

Assumindo o «feito histórico», Nuno Rodrigues explicou ainda que «o trabalho, todos os dias da mesma forma», foi o segredo para a equipa seguir em frente na Taça e deixar pelo caminho uma equipa da I Liga. «Sabíamos como o Nacional jogava, foi um adversário que nos fez correr, fechou o espaço e aproveitámos o contra-ataque. Fomos fortes e tivemos as melhores ocasiões», explicou, defendendo que o Lusitano «fez uma grande exibição».

Nuno Rodrigues, que trabalha como vendedor de automóveis, com o pai, em Oliveira do Hospital, não escondeu a alegria pelo golo e garantiu que «todos sonham marcar a uma equipa da I Liga». O jovem não esconde que «o principal foco» é o Campeonato de Portugal e sabe que há ainda muitos aspetos a melhorar individual e colectivamente. «Não nos vamos deixar levar muito por esta onda, mas podemos sonhar. Vamos trabalhar para melhorar os pontos fracos», sustentou.

Paulo Oliveira: golo da vitória com dedicatória especial

Outro dos jogadores presentes na sala de imprensa foi o defesa central Paulo Oliveira, que apontou o golo decisivo na recta final do prolongamento. Golo esse que garantiu «uma vitória de todos, da equipa», após «uma semana de muito trabalho», afirmou o jogador de 23 anos, que trabalha como contabilista na Câmara Municipal de Castro Daire, de onde é natural.

O tento apontado por Paulo Oliveira valeu o 4-3 à equipa de Rogério Sousa e teve também uma dedicatória muito especial. «Dediquei o golo à minha mãe, Ana Maria. É uma prenda antecipada porque ela só faz anos no dia 25. Ontem (sábado), ao jantar, ela pediu-me o golo», desvendou o defesa que cumpre a quarta temporada em Vildemoinhos e mostrou-se satisfeito por «ajudar o clube a fazer história».

Confrontado com o adversário da próxima ronda, Paulo Oliveira assumiu que espera encontrar «Benfica, FC Porto, Sporting ou Sporting de Braga», ele que concluiu a formação, precisamente, em Braga, onde se sagrou campeão nacional de juniores, em 2013/2014.

«Estou muito contente, ainda não caímos em nós. Quando cheguei ao balneário ainda não havia aquela festa e estávamos todos muito calados», disse também aos jornalistas, prevendo que nos próximos tempos os «holofotes vão estar virados para o Lusitano». «Fizemos mesmo história, o jogo foi equilibrado e cada equipa teve a sua estratégia. Corremos sempre atrás do resultado e conseguimos virar, para uma vitória que mostrou a alma desta equipa. Agora, venha o que o sorteio ditar», assumiu.

Apesar da natural euforia, o defesa alinha no mesmo diapasão do seu colega Nuno Rodrigues e prefere centrar as atenções no campeonato, pensando já no jogo do próximo fim-de-semana, também em casa, frente ao Leça. «Estamos com os pés assentes no chão. Foi uma vitória muito sofrida, mas o nosso objectivo é o campeonato», concluiu.


 

 

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