Taça: Sporting-Benfica, 1-0 (crónica) - TVI

Taça: Sporting-Benfica, 1-0 (crónica)

Sporting-Benfica

Provavelmente o mais justo que podia ser

O futebol por vezes ainda faz sentido. Todo o sentido.

O Sporting, sejamos claros, foi a única equipa que se vestiu de dérbi para encarar o jogo. Foi, no fundo, a única equipa que cobriu Alvalade de rivalidade e vigor, que lhe meteu intensidade, que deu a todas as bolas a importância que geralmente só as últimas costumam ter.

Foi também única equipa que mostrou um bocadinho daquela hostilidade que costuma carregar os dérbis: hostilidade feita de energia e fervor, de exuberância e impetuosidade.

Correu, lutou, discutiu, caiu e levantou-se de um salto, discutiu outra vez, correu mais, enfim, fez do dérbi um verdadeiro dérbi. Com mais coração do que alma, com mais nervos do que cérebro.

Por isso, porque tratou o jogo como ele merecia ser tratado, venceu e apurou-se para a final. Justo, muito justo. Sem dúvida justíssimo.

Veja a ficha de jogo e as notas dos jogadores

No entanto, e quando aos 75 minutos Bruno Fernandes tirou Grimaldo da frente para rematar forte ao ângulo, tornou-se ainda mais do que apenas justo.

Tornou-se o mais justo que podia ser.

Bruno Fernandes é um caso à parte no Sporting e foi um caso à parte no dérbi. É um craque da cabeça aos pés. Foi, portanto, praticamente o único jogador que teve capacidade para pensar o futebol leonino. Naquele jeito furioso, fez passes bem medidos, colocou inteligência no jogo, deu lucidez à equipa. Numa noite, aliás, em que sobrou em ímpeto o que faltou em discernimento.

Nesta altura convém ir por partes.

O Sporting entrou em campo com três centrais e dois laterais bem projetados ofensivamente (Bruno Gaspar na direita e Acuña na esquerda), com Gudelj e Wendel no meio e Bruno Fernandes e Raphinha a jogar por dentro. Assim, rapidamente, a formação leonina construía um miolo de seis jogadores, que faziam uma pressão louca sobre o Benfica: os encarnados não conseguiam respirar.

Quem mais se destacou no onze do Benfica?

Sem conseguir respirar, ficavam aflitos: a bola fluía mal entre os jogadores, os verdadeiros cérebros não apareciam, Pizzi e Rafa não entravam em jogo, João Félix só teve um momento para definir (e curiosamente colocou Seferovic na cara do golo), enfim, o Benfica não conseguia ser Benfica.

É verdade, lá está, que o Sporting não jogava bem. Falhava muitos passes e definia mal. Mas pelo menos levava o jogo para o campo que mais lhe dava jeito: para o campo do desatino completo.

Correria, falta, correria, remate, correria, balão, disputa área, enfim, o dérbi foi muito isto: muitas paragens, muitos encontrões e repelões, muita discussão e fúria.

Não houve muito futebol, não senhor, mas também não dava jeito ao Sporting que houvesse: provavelmente porque o Benfica aí seria mais forte.

Por isso, lá está, o Sporting levou o jogo para o campo que mais lhe convinha e a partir daí foi retirando o Benfica do jogo. Cada minuto que passava havia um pouco menos de Benfica, aliás. À exceção dos minutos finais da primeira parte, sim, depois da tal jogada em que João Félix meteu Seferovic na cara do golo e lançou a equipa encarnada para breves momentos de superioridade.

Bruno Fernandes, claro: veja os destaques do Sporting

O intervalo mudou pouco, a não ser a estratégia leonina, que passou a jogar com uma linha de quatro defesas clássica, adiantando Acuña no terreno.

Mudou a estratégia, mas não mudou o espírito: o Sporting voltou a encher o jogo de eletricidade, para retirar o Benfica de campo. A formação encarnada não teve ânimo para encarar o dérbi como o Sporting o encarou: com aquela vontade, aquela ânsia, aquela energia que o adversário teve.

Por isso deixou o Sporting alimentar a esperança até ameaçar primeiro num remate à trave de Bruno Fernandes e fazer depois o golo do apuramento pelo mesmo Bruno Fernandes.

Quem mais, não é?

Justo, muito justo. Provavelmente o mais justo que podia ser.

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