Finalmente titular no Sporting, e por isso a viver um momento particularmente feliz, João Palhinha tem agora a oportunidade, na terceira eliminatória da Taça de Portugal, de reencontrar o Sacavenense, clube ao qual foi recrutado há oito anos.
Uma transferência que começou a ganhar forma a 1 de setembro de 2012. Nesse dia o Sporting foi a Sacavém ganhar por 2-1, em jogo da quarta jornada do Campeonato Nacional de Juniores. Os golos leoninos foram apontados por Ricardo Tavares e Carlos Mané, e o tento de honra da equipa da casa foi da autoria de Fábio Stock, curiosamente um dos melhores amigos de Palhinha.
Apesar da derrota, o médio defensivo deixou excelente impressão junto dos responsáveis do Sporting. A ponto de Abel Ferreira, então técnico da equipa de sub-19 leonina, ter feito questão de demonstrar isso ainda no campo.
«Na altura ficámos com um bocado de raiva. No final do jogo o mister Abel veio com a mão por cima do ombro do Palhinha, a falar com ele, desde os bancos até aos balneários. Na altura o delegado até perguntou ao João o que tinham falado, e ele respondeu que o mister tinha dado os parabéns pela exibição», recorda Manuel do Carmo, presidente do Sacavenense, cargo que já ocupava na altura.
Abel questionou mesmo João Palhinha sobre um interesse em rumar a Alcochete, e esse foi o primeiro passo para a transferência, ainda que o processo negocial tenha sido tudo menos tranquilo para o emblema leonino. O médio até já tinha estado anteriormente a treinar no Benfica, às ordens de Bruno Lage, mas não ficou, e depois foi o Sp. Braga a entrar na equação.
Acompanhado pelos pais, João Palhinha chegou a estar reunido com o presidente António Salvador, num hotel da cidade dos arcebispos, e teve o contrato nas mãos.
Ironicamente, o jogador acabaria depois por representar o Sp. Braga, entre 2018 e 2020, por empréstimo do Sporting, e no Minho foi treinado por… Abel Ferreira.
Mas ao sair do Sacavenense, no final de 2012, Palhinha escolheu o Sporting, após conversar muito com os pais, que sempre acompanharam de perto a carreira.
«Na altura cheguei a dizer ao Sr. Aurélio Pereira que o contrato com o Sp. Braga era melhor no imediato, tanto para o João como para o Sacavenense. É que na altura não recebemos nada, e o Sp. Braga dava cinco mil euros para o libertarmos logo em dezembro», diz o presidente do Sacavenense, em conversa com o Maisfutebol.
«Agora, feitas as contas, se calhar recebemos mais dinheiro do que se tivesse ido para o Braga. Fizemos um acordo com o Sporting em que nas primeiras oito convocatórias para a equipa B recebíamos sete mil euros mais IVA, e depois, nas primeiras cinco convocatórias para a equipa principal, salvo erro, recebíamos 30 mil euros mais IVA. E para além disso temos uma percentagem de uma futura venda (1,75 por cento)», acrescenta Manuel do Carmo.
Palhinha vai ser homenageado pelo Sacavenense no Jamor, e o presidente do emblema do Campeonato de Portugal acredita que será um reencontro «caloroso». «Espero que ele jogue, que seja o melhor em campo, mas que acabe derrotado. Não lhe desejo mal nenhum, apenas que o Sacavenense ganhe sempre. Vai ser um orgulho reencontrá-lo, pois é um jovem – como outros – que saíram do clube para patamares altos», conclui.
Leo Mofreita, o colega que resiste
No plantel sénior do Sacavenense está apenas um jogador, Leo Mofreita, que foi colega de João Palhinha.
«É sempre bom jogarmos com antigos colegas. E ainda mais um colega que está ao mais alto nível no futebol português. Fico feliz por saber que ele está onde está», diz o extremo, de regresso a Sacavém após passagens pelo Pêro Pinheiro e União de Santarém.
«Era um jogador muito humilde, trabalhador, com muita qualidade. Soube aproveitar a mudança para o Sporting, ainda nas camadas jovens, e evoluir ainda mais. E está onde está com todo o mérito, e se continuar a trabalhar, como sei que vai continuar, evoluirá ainda mais e chegar a outros objetivos, como a Seleção, ou sair para um grande europeu», acrescenta Léo, que admite ficar com a camisola do antigo colega no final de jogo: «Se pedir a alguém é a ele, mas não penso nisso, sinceramente. É o que tiver de ser.»
Leo também passou pela formação de um «grande». Jogou no Benfica entre os 10 e os 16 anos, ao lado de Bernardo Silva, Hélder Costa, João Cancelo, Ricardo Horta ou Fábio Cardoso.
«Sinto-me feliz por eles. Desde pequeno mostraram que tinham qualidade para lá chegar. Outros também, mas por falta de sorte, por detalhes do futebol, não conseguiram. Às vezes é preciso sorte também. Fico muito feliz por vê-los ao mais alto nível. É esse o sentimento, eram meus colegas. Infelizmente perdi a ligação com eles, cada um segue a sua vida, mas sigo-os nas redes sociais. Se os vir na rua cumprimento-os. Tenho um sentimento de grande felicidade por vê-los em grandes palcos, mereceram», diz o jogador do Sacavenense.
Agora com 26 anos, Leo está no Campeonato de Portugal e concilia o futebol com o trabalho com um emprego num armazém de produtos alimentares. Treina de manhã e depois tem de sair a correr para o turno entre o meio-dia e as nove horas da noite. Uma realidade bem diferente dos antigos colegas que estão na elite do futebol, mas que não o deixa ressentido.
«Cada um seguiu o seu caminho. Eles melhor, porque tinham mais capacidade, por isso é que lá estão. Fica sempre aquele sentimento que podia lá estar também, mas é mesmo assim, temos de viver com a realidade, e estou feliz com o meu percurso. Claro que ambicionava lá chegar, e não quer dizer que não ambicione ainda, mas estou numa fase da vida em que já tenho outras prioridades. Fica sempre o bichinho, aquela coisa de pensar no que podia ter feito, mas vivo tranquilo com isso», afiança o jogador do Sacavenense, que no Benfica foi treinado por Bruno Lage.
«Foi o meu primeiro treinador, nas escolinhas. Depois ainda o apanhei nos iniciados, ele era da equipa A e eu fiz a época toda nos iniciados B, mas tinha contacto com ele. É diferente, não posso comparar camadas jovens com seniores, mas tinha bons métodos, e destacava-se no contacto com os jogadores. Só tenho bem a falar dele», refere Leo.
* Com Cândido Costa, Carlos Rodrigues e Duarte Leocádio (TVI)