Bicicletas ou lâmpadas são mais eficientes a reduzir CO2 que grandes projetos - TVI

Bicicletas ou lâmpadas são mais eficientes a reduzir CO2 que grandes projetos

  • AM
  • 4 abr 2020, 11:14
Bicicleta

Após quase uma década de análises os investigadores concluíram que as tecnologias mais pequenas difundem-se mais rapidamente, são mais fáceis de penetrar no mercado e têm um maior impacto ambiental

As tecnologias de pequena escala, como bicicletas elétricas, lâmpadas LED ou painéis solares no telhado das casas, são mais eficientes na redução das emissões de gases com efeito de estufa que grandes empreendimentos, indica um estudo divulgado este sábado.

Após quase uma década de análises os investigadores concluíram que as tecnologias mais pequenas difundem-se mais rapidamente, são mais fáceis de penetrar no mercado e têm um maior impacto ambiental.

Publicado na revista científica Science, com o título “Granular technologies to accelerate decarbonization” (Tecnologias granulares para acelerar a descarbonização), o estudo garante que as inovações de menor escala, além de criarem mais empregos e serem mais baratas para a população, são mais rápidas a descarbonizar.

Defendem os investigadores que partilhar táxis ou instalar em casa painéis solares é mais eficaz para combater alterações climáticas do que construir grandes centrais nucleares, solares ou eólicas.

Portugal foi o primeiro país do mundo a estabelecer metas para ser totalmente neutro em emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2050, para cumprir o Acordo de Paris sobre o clima e assim fazer face às alterações climáticas.

Essas metas podem ser atingidas com tecnologias de menor escala, garantiu à Lusa um dos autores do estudo, Nuno Bento, investigador do ISCTE.

“Não só é possível como é desejável”, disse o investigador, salientando que o estudo demorou oito anos a ser feito e que as conclusões do mesmo são sólidas.

Tecnologias de pequena escala não só consomem menos recursos como mais facilmente se expandem e envolvem a população, porque “as pessoas não são envolvidas nos grandes projetos” de geração de energia, enquanto os pequenos projetos estão acessíveis a todos, defendeu.

Salientando que se tem sempre que ter em conta o impacto de qualquer tecnologia, Nuno Bento disse que Portugal está a apostar na energia solar e deu o exemplo da central da Amareleja, um grande projeto que quase não necessita de pessoas na manutenção, e considerou que seria maior o impacto de muitos projetos de painéis solares nas casas.

No caso das lâmpadas LED, exemplificou, houve uma adesão da população e isso fez com que elas se tornassem mais eficientes e mais baratas, e são um fator importante porque a iluminação representa um quarto da energia que se consome nos edifícios. Sendo uma pequena tecnologia teve um grande impacto e limitou o consumo de energia, permitindo que se construíssem menos grandes centrais de produção de energia, salientou.

E quanto às bicicletas elétricas o investigador admitiu, nas declarações à Lusa, que as cidades estão mais pensadas para automóveis do que para bicicletas elétricas, mas também é certo que “as coisas estão a mudar”.

E se “o paradigma continua a ser pensar que o gigantismo resolve o problema” (das alterações climáticas) a verdade é que “mais pequeno terá um efeito mais rápido e tem menos riscos”, defendeu o investigador, acrescentando que é melhor pensar em soluções rapidamente implementáveis do que pensar em reestruturar todo o sistema para construir, por exemplo, o TGV (comboio de alta velocidade).

“A opinião generalizada dos grandes decisores políticos é que as grandes tecnologias – como as energias renováveis ou as centrais nucleares – são a forma mais rápida de reduzir os gases com efeito de estufa, mas este estudo veio provar o contrário”, afirma o investigador do centro DINÂMIA’CET, do ISCTE.

Além de Nuno Bento o estudo tem como autores investigadores austríacos e britânicos, que defendem que era melhor para o ambiente mudar as rotinas diárias de milhares de milhões de pessoas do que recorrer a grandes e caras infraestruturas.

Os autores salientam ainda que a aposta em soluções mais pequenas leva a mais emprego. Diz Nuno Bento, citado num comunicado: “A energia solar fotovoltaica foi aplicada nos primeiros anos em Portugal com a Central Solar Fotovoltaica de Amareleja, mas foi a criação, instalação e manutenção de pequenos sistemas nos telhados das habitações que trouxe um grande número de negócios, de encomendas e de empregos a este setor no país”.

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