Arqueólogos encontram bairro islâmico soterrado em Cacela Velha - TVI

Arqueólogos encontram bairro islâmico soterrado em Cacela Velha

  • SL
  • 12 jul 2019, 14:38
Escavações arqueológicas em Cacela Velha

Escavações estão a ajudar a desvendar segredos históricos sobre o concelho de Vila Real de Santo António, no Algarve

Uma equipa de arqueólogos concluiu, esta sexta-feira, uma nova campanha de escavações em Cacela Velha, concelho de Vila Real de Santo António, e detetou novos arruamentos e casas de um bairro islâmico, destacou uma investigadora.

Apesar de ainda não terem localizado a ermida de Nossa Senhora dos Mártires, a primeira ermida instalada neste território do sotavento algarvio após a conquista cristã, os investigadores conseguiram nas quatro semanas de trabalhos concluir o levantamento de corpos da necrópole medieval cristã, iniciado no ano passado, e chegar ao nível do bairro islâmico, congratulou-se Cristina Garcia, arqueóloga da Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg).

No nível da necrópole medieval cristã, as equipas descobriram 12 esqueletos, “metade de crianças, desde recém-nascidos a infantis”, e “vários ossários aglomerados de limpezas de sepulturas mais antigas”, revelou Cristina Garcia.

Estes dados apontam para uma “alta mortalidade infantil” e para uma “utilização muito abundante, intensa e ao longo de muito tempo deste cemitério” da localidade, situada no extremo nascente da ria Formosa (distrito de Faro), segundo a investigadora.

No bairro islâmico conseguimos finalmente trazer mais alguns elementos à luz do conhecimento e detetámos mais vias, mais ruas. É de facto um bairro muito bem planeado e estruturado, com ruas paralelas entre si, que delimitam pequenos bairros compostos por uma sucessão de casas com o seu pátio interior, e identificámos mais duas cassas este ano”, contou Cristina Garcia.

Os arqueólogos puderam assim “localizar a sala, apanhar a cozinha, aquilo que é o pátio interior e os acessos”, permitindo “dar forma ao bairro” e descobrir materiais como “metais, cerâmicas, um brinco caído na lareira”, que “denotam o estilo de vida daquelas populações”, destacou.

Estes materiais abrem novas vias de investigação ao serem analisados pelo laboratório Hércules, da Universidade de Évora, um dos parceiros das escavações, a par da Direção Regional de Cultura do Algarve, da Câmara de Vila Real de Santo António e da Universidade do Algarve.

Da parte da academia, os alunos de arqueologia formaram a maioria do corpo de 30 pessoas que colaborou na escavação.

As análises laboratoriais podem ajudar a determinar, através dos ossos, que “tipo de alimentação tinham” ou que “tipo de animais comiam” essas populações, mas também perceber a composição química das pastas com que se faziam as cerâmicas, para determinar os locais de onde provinham as matérias-primas, exemplificou.

Cristina Garcia garantiu que já há informação e planos para prosseguir o trabalho em 2020 e o objetivo será “abrir uma frente noutro espaço” para “escavar uma segunda necrópole” do período romana ou do islâmico.

Está perto de uma via para Vila Nova de Cacela e sabemos que os islâmicos e os romanos faziam as necrópoles perto de vias, por isso pode ser romana ou islâmica”, argumentou a investigadora.

Cristina Garcia referiu, no entanto, que a Ermida de Nossa Senhora dos Mártires vai “continuar a ser um objetivo presente” e adiantou que, em 2020, os investigadores vão “aproximar a sondagem do local onde se pensa que pode estar” este primeiro templo construída após a conquista cristã.

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