Descoberto porto romano com quase dois mil anos em Vila do Bispo - TVI

Descoberto porto romano com quase dois mil anos em Vila do Bispo

  • 17 set 2018, 20:17
Porto romano - Vila do Bispo

Arqueólogos consideram serem as ruínas com o melhor estado de conservação "identificado até hoje em Portugal". Foram também identificadas várias fábricas que serviam para a produção de molhos e pastas de peixe

Uma equipa luso-alemã das Universidades do Algarve e de Marburgo descobriram, em Vila do Bispo, um porto romano com dois mil anos, com o melhor estado de conservação "identificado até hoje em Portugal", anunciou o município.

A descoberta resulta de uma campanha arqueológica iniciada há aproximadamente dois anos na praia da Boca do Rio, em Budens, classificado como um dos mais importantes da ocupação romana entre os séculos I e V, no sudoeste algarvio.

Em comunicado, a autarquia adianta tratar-se de um antigo complexo industrial de transformação de preparados de peixe e do respetivo porto, que faziam parte de uma 'villa' marítima, com uma "grande casa voltada ao mar, de onde se têm recolhido mosaicos e outros objetos que documentam a vida quotidiana" na ocupação romana.

Durante o Período Romano o mar entrava terra dentro, formando uma extensa laguna, o atual Paul da Boca do Rio/Lontreira, em cuja margem direita se desenvolveu um importante complexo de transformação de preparados de peixe, sobretudo a partir de finais do século II d.C., servido pelo porto agora descoberto", refere a autarquia.

Atualmente, o porto situa-se numa zona seca e é constituído por "um imponente cais em silharia de calcário com mais de 40 metros de extensão, de onde sobressaem pedras perfuradas para amarração de barcos, uma rampa e uma escadaria de acesso à água do antigo paleoestuário da Boca do Rio".

Para além da recém identificada estrutura portuária, existem, sob as dunas, várias fábricas que serviam para a produção de molhos e pastas de peixe, produto conhecido pelos romanos como 'garum'.

Pesqueiro abandonado

O sítio pesqueiro romano foi abandonado na primeira metade do século V, voltando a ser ocupado com uma armação de pesca do atum no século XVI e, de novo, após o 'tsunami' de 1755, no século XVIII.

As armações da época moderna "aproveitaram as estruturas romanas fundadas nas dunas para aí edificar os seus edifícios que ainda hoje se podem ver no local", sublinha a autarquia.

O sítio da Boca do Rio é um dos locais que melhor preserva o registo do maremoto que se seguiu ao terramoto de 1755, que arrasou Lisboa, Cádis (em Espanha) e boa parte da costa algarvia.

Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos na praia da Boca do Rio decorrem ao abrigo do projeto de investigação “Boca do Rio – um sítio pesqueiro entre dois mares”, coordenado pelos professores João Pedro Bernardes, do Centro de Estudos em Artes, Arqueologia e Património (CEAACP) da Universidade do Algarve, e Félix Teichner, da Universidade de Marburgo.

O estudo desenvolve-se com o apoio logístico e financeiro do município de Vila do Bispo, encontrando-se sedeado no Centro de Acolhimento à Investigação – Núcleo de Investigação Arqueológica de Vila do Bispo.

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