Humanos nascem com capacidade para reagir à música - TVI

Humanos nascem com capacidade para reagir à música

pós-parto

«Nascemos já com uma capacidade para a música, para reagirmos musicalmente», diz investigadora

Os bebés quando ouvem música estão muito atentos, mexem-se e palreiam, comportamentos que, segundo a investigadora Helena Rodrigues, revelam que os humanos reagem, desde muito cedo, aos estímulos musicais.

Helena Rodrigues coordena o Laboratório de Música e Comunicação na Infância, que tem trabalhado com pais e bebés em sessões musicais, e é uma das participantes, no sábado, em Lisboa, do simpósio «Música, Poesia e o Cérebro», coorganizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (UNL).

«Nascemos já com uma capacidade para a música, para reagirmos musicalmente», sustentou, em declarações à agência Lusa.

Os bebés, em média até aos 6 meses, reagem de três formas, observáveis, de acordo com a investigadora, na «atenção muito grande» que prestam à música, visível no olhar e na postura corporal, e na «participação ativa motora e vocal», o que, na sua opinião, demonstra «a propensão» dos humanos para a música, em como «o corpo reage à música».

A docente do Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL lembrou, até, a situação de bebés com dias de vida que já respondem ao timbre do pai e da mãe.

A investigadora realçou também que, desde idade muito precoce, as pessoas «reagem diferentemente à voz falada e cantada», a «diferentes estímulos musicais», acrescentando que a música «estabelece um elo de ligação» entre elas.

«Tem um efeito sobre o bebé, e esse efeito que é causado na criança tem um efeito sobre a mãe ou sobre o pai» e «espalha-se a todo o grupo» que participa nas sessões musicais, exemplificou, salientando que, consoante o ritmo, a música, nessas sessões, pode provocar reações mais contemplativas e calmas ou mais participativas, em que todos cantam e batem palmas.

Nesse sentido, defendeu Helena Rodrigues, a música promove, além da comunicação, «o sentimento de pertença», podendo ser usada como «ferramenta para o desenvolvimento humano integral» e o «bem-estar social».

A investigadora recordou, a este propósito, o trabalho que fez com mães reclusas, em Portugal, e com mães com depressão pós-parto, na Bélgica. Em ambas as situações, as progenitoras, que, no início do programa das sessões musicais, mostraram alguma desconfiança e indiferença, acabaram, no fim, a cantar para os seus bebés.

Algumas das reclusas, do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, não sabiam ler nem escrever e aprenderam com outras a letra da canção, enfatizou Helena Rodrigues, adiantando que, na Bélgica, num hospital psiquiátrico, as mães conseguiram mimar os seus bebés através da música, atribuindo-lhes nomes carinhosos na letra de uma canção.

O Laboratório de Música e Comunicação na Infância desenvolve atualmente, em parceria com a Companhia de Música Teatral, um projeto artístico e educativo, o «Opus Tutti», que promove as boas práticas de intervenção na comunidade dirigidas à infância e à primeira infância. Com ele, prepara-se para dar formação a educadoras, depois dos professores. O projeto já pôs crianças mais velhas e mais novas a interagirem através de uma peça musical.

No simpósio «Música, Poesia e o Cérebro», organizado sob as comemorações do bicentenário do nascimento do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883), participam diversos investigadores internacionais, incluindo Robert Zatorre, do Instituto Neurológico de Montreal, no Canadá.

Estudos a cargo do cientista concluíram que a música agradável liberta no cérebro uma molécula, a dopamina, a mesma que está associada às dependências, incluindo das drogas. O que não quer dizer, ressalvou à Lusa, que a música seja viciante como a droga.
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